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— Ah é? Pois vai ficar querendo. – Eu levantei – Você falou que não era aqui que a gente ia ficar... Então levanta preguiçoso, bora pra esse lugar que eu estou curiosa.

Desci rápido do barco, segurando a risada.

Não demorou nada e ele veio atrás de mim. Andamos mais um pouco e encontramos um ponto de parada de bicicletas.

— Perfeito. Vamos pedalando!

— Eu tô achando que você quer me sequestrar, me matar e ocultar meu cadáver.

— Sequestrar talvez... – Ele falou antes de beijar.

Fomos na mesma bicicleta. Ele pedalava, eu sentada no quadro da bicicleta, direcionava o caminho que estávamos indo.

— Mas, a gente vai para lá.

Eu me assustei quando Bruno falou perto demais do meu ouvido, e mudei a direção bruscamente, eu não vi uma pedra e a bicicleta balançou. Eu ainda tentei controlar, mas, nós acabamos caindo. Bruno ainda tentou me segurar, para cair rolando como ele fez, mas eu não consegui e acabei caindo por cima da bicicleta.

Nos levantamos rindo, preocupados com a bolsa. Eu não aguentava mais.

— Agora eu entendi porque ninguém usava aquela bosta de entrada, é longe pra caramba de tudo – Eu choraminguei – Me diz que já chegamos, por favor?

— Falta um pouquinho, mas a gente pode ir andando agora... Eu levo a bolsa.

— E a bicicleta?

— Quando a gente voltar, levamos ela de volta pro ponto... Deixa ela aí, não sei se você percebeu, mas, ninguém vai mexer nela.

Ele levou a bicicleta até uma árvore e andamos mais cinco minutos. Subimos levemente até o ponto mais alto do parque.

Bruno colocou a bolsa no chão e abriu. Tirou dela uma toalha enorme. Colocou a bolsa em cima da toalha e começou a tirar algumas comidas da festa.

— Bolo, salgados... Docinhos... E – Ele levantou a garrafa.

— Uma garrafa de vinho? – Ele tirou da bolsa outra garrafa – Duas garrafas de vinho. – Eu constatei.

— Sim, duas... Te conheço, você não ia querer dividir uma garrafa só comigo. Além do mais – Ele abriu a primeira garrafa – A gente vai ficar aqui um tempinho, tudo bem beber duas garrafas...

— Você me trouxe num parque fechado, a noite pra gente beber?

— Uhum. Aqui é tranquilo. A gente só tem que tomar cuidado com os bichos que ficam soltos... Ainda sim, um ótimo lugar para fugir de tudo aquilo. – Ele respirou fundo, e encheu dois copos plásticos com o vinho.

— Por falar nisso – Tentei ser casual – Você conseguiu resolver aquele seu problema?

— Consegui sim. – Ele bebeu um gole do vinho e pegou um salgado, como quem não queria prolongar o assunto.

— E aquela loira te ajudou a resolver? – Meu coração quase parou ao mencionar a moça.

Ele respirou fundo e o silêncio se fez presente por alguns instantes. Ele deitou na toalha e ficou olhando o céu. Eu fiz a mesma coisa. Não falei nada, queria ver se ele ia mudar de assunto.

— Eu... A gente ficava sempre que eu vinha aqui. Aí a Luísa que não sabia que eu vinha contigo, acabou convidando ela para a festa. – Eu continuei em silêncio – Mas não precisa se preocupar com isso, eu já dei um jeito.

— Pediu para ela voltar mais tarde e fugiu comigo? – Nós olhamos para o céu estrelado do Taquaral.

— Não. Ela não vai voltar... Eu terminei com ela. Não que tivesse alguma coisa para terminar, mas, se tinha, acabou.

— Acabou? – Eu desviei e olhei para o Bruno, enquanto ele continuava a olhar para cima.

— É... falei que não estava mais a fim. Sei lá não tinha a mesma vibe. Não estava legal mais.

— Mas você, tipo, ficou com ela hoje? – Eu não queria que ele ficasse com outra pessoa além de mim, porque eu estava perguntando isso? – Como você sabe que não estava mais legal?

— Porque... legal é ficar com você.

— Eu tô sentindo que você quer me falar alguma coisa. Eu só não estou entendo o que é.

Ele riu e colocou um doce na minha boca.

— Esses doces estão ótimos.

— Uhum, por isso eu roubei tantos. — Bruno me deu um beijo, e continuou bem perto de mim — Eu roubei as melhores coisas da festa.

Entre doces, beijos e vinho. Nós íamos falando coisas cada vez mais desconexas. Eu nunca imaginei que um dia, estaríamos longe de tudo. Apenas nós dois. Bêbados.

— Eu tenho um talento peculiar, sabia?

— E qual é?

— Eu sei reconhecer as constelações que regem os signos.

— Quando você disse peculiar, não disse que era tanto.

— Olha, sua constelação. A de câncer. Você sabia que você é totalmente canceriano? Mas aposto que você tem alguma coisa em sagitário, leão e escorpião no seu mapa. – Eu olhei para ele, e ele tava olhando para mim – Bruno, as constelações estão lá cima, você tem que olhar pro céu pra saber do que eu tô falando.

— Mas a única estrela que me interessa está aqui do meu lado.

— Hum – Eu ri – Você tá realmente querendo alguma coisa, só que eu não tô entendo o que é.

— Eu acho que você sabe exatamente o que é. – Ele riu.

Ficamos ali a noite inteira. Primeiro acabou o bolo, depois os salgados, depois os doces, o vinho... Perto do horário de amanhecer, Bruno pegou uma manta do fundo da bolsa.

— Mano, o que mais você colocou nesse raio de bolsa? Tá parecendo a bolsa a Hermione.

— Esse seu vestido é lindo mas dá pra ver que não cobre nada. Você ia passar frio, apesar de eu saber uma forma ótima de te esquentar, "mano".

Realmente ele sabia, mas para quebrar tudo que eu sabia dele, aquela noite, não foi a noite. Nós apenas ficamos abraços vendo o sol nascer, eu deitada no peito dele, ele mexendo no meu cabelo e nossas risadas e histórias ecoando por um Taquaral vazio.

— Está na hora da gente ir... Se a gente ficar aqui parado vai dar na cara que gente passou a noite aqui.

Pegamos as coisas e fomos indo. Quando descemos a bicicleta não estava mais lá. Já haviam pessoas correndo e então nós fomos pela entrada que ficava perto de onde ele estacionou o carro.

No meio do caminho ele parou e perguntou se eu queria alguma coisa. Eu neguei. Ele saiu do carro e voltou com duas sacolas.

Chegamos na casa da sua mãe tentando não acordar ninguém. Eu tropecei nele. Ele me segurou rindo, me encostou na parede e me beijou.

— Bruno a gente não pode fazer barulho. Vamos acordar todo mundo.

— A minha mãe...

— A sua mãe queria saber onde têm dormido porque sua cama está arrumada desde que você chegou. – A voz da Vera vinha da cozinha.

Players - Com Bruno RezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora