22

292 21 24
                                    

— O Bruno não é violento. Não tem discussão sobre isso. Aliás do que você está falando? Foi você que invadiu minha casa gritando, me enforcou e agora vem falar que o Bruno é violento?

— Não é violento. Claro – Ele riu com deboche – E foi por não ser violento que ele quebrou meu nariz?

— Você sabe que não foi assim. Você estava me enforcando. Ele pediu para você parar, eu pedi para você parar.

— Bom, eu fiz um boletim de ocorrência e não foi isso que eu disse lá. Imagina o estrago que pode fazer se eu der andamento nisso. Não que eu ache que ele vai ficar preso e tal, mas você melhor do que ninguém sabe o estrago que a perda de um réu primário faz, né? Imagina, ele, Bruninho, o perfeito, o filho exemplar do Bernardinho, perdendo o réu primário por lesão corporal.

Ele tinha razão, aquilo ia detonar a carreira e a vida do Bruno. Por minha causa. Eu tentei segurar a expressão de desespero, de choro.

— E o que você quer me falando tudo isso?

— Primeiro eu quero que você pare de ver ele. Você anda sendo uma mãe muito ausente, relapsa, eu diria. Eu não estou gostando muito disso... Eu quero que você se afaste dele. E depois, eu quero uma chance, para te mostrar que eu mudei...

— É, eu reparei...

— Eu não posso deixar minhas filhas conviverem com uma pessoa assim.

— Você me enforcou e isso nada tem a ver com o Bruno. Eu não fiz a ocorrência porque você ia ser preso, na hora. Eles não iam nem te dar o benefício da dúvida, você ia ficar preso, pelo menos,  até a audiência de custódia. Você ia ficar sem o réu primário.

— Bom, antes ele que eu não é? – Ele riu olhando para mim, quando ele viu que eu não ri, ele se endireitou – Eu só queria entender o que te deu para não me falar que estava com ele...

— Era só um... não era nada sério. – Eu fiquei triste porque a gente nem ia ter chance de tentar – E outra, eu não tenho que ficar te falando da minha vida.

— Eu não sei o que me espanta mais, se é você ter um "nada sério" e levar ele pra dentro de casa, no convívio com as nossas filhas ou não me contar... Mas é bom que ele seja só seu caso, porque imagina se eu entro com uma ação para rever a guarda delas e acaba vazando sem querer ele é seu namorado. Seu namorado que bate na pai das suas filhas. Será que o juiz ia deixar as crianças com uma mãe que tem um namorado que bate no pai? Então, neste caso, ainda bem que ele não é seu namorado. Se você pensar, todo mundo ia sair perdendo.

Assim que a comida chegou, ele parou de falar.

Eu assistia ele comer sem entender onde estava o homem com qual eu me casei. Meus professores da faculdade sempre falavam o seguinte ditado "Quer conhecer uma pessoa? Se case com ela. Quer conhecer melhor? Se separe!"

Eu nunca tinha conhecido ele até aquele momento.

— O que foi? – Ele parou de comer e olhou para mim – Não vai comer? Está ótima.

Claro que estava, ele tinha escolhido o restaurante mais caro que podia.

— Eu não estou com fome. Aliás, pode comer tudo – Eu arrumei minhas coisas e peguei minha bolsa – A conta é sua.

Players - Com Bruno RezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora