Parte 2

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A reunião se tornou quase uma zona de guerra. Jacqueline Follet fazia o possível e o impossível para tirar Miranda do sério, mas não conseguia atingir seu objetivo, o que a deixava claramente frustrada e irritada. Eu sabia muito bem que, por dentro, Miranda estava gritando aos quatro ventos em como aquela mulherzinha fútil e desprovida de talento podia ter se tornado a editora de uma revista tão importante como a Runway Francesa, mas não lhe dava o prazer de transparecer seus pensamentos e surtos silenciosos. O fato era que Miranda Priestly era invencível e não permitiria que Jacqueline saísse ilesa. Aquela campanha seria da Runway Americana por bem ou por mal.

Deixe-me inteirá-los dos acontecimentos:

Quase um mês atrás, Irv Ravitz marcou uma reunião urgente com todo o corpo editorial da Runway. Miranda foi retirada dos seus importantes afazeres para ser obrigada a ouvir que Donatella Versace estava disposta a divulgar toda a sua nova coleção em apenas uma revista e selecionou a Runway francesa e a americana para competirem e mostrar qual tinha mais capacidade para tal feito.

Apesar de ser uma matéria importante para qualquer revista, Miranda deixou claro que aquilo era simplesmente ridículo e ofendia toda a sua história como a revista de moda mais vendida e precisar se colocar diante de uma competição tão infantil para conseguir lançar uma edição prestigiada era uma ofensa. Ainda assim, Irv a ignorou e lançou uma competição entre as duas, colocando Miranda e Jacqueline frente a frente.

Não era novidade que ambas se odiavam e aquela competição era praticamente uma bandeira vermelha para iniciar uma guerra, mas ninguém parecia se importar. Aquela seria uma exclusiva importante e todos tinham conhecimento disso. Para Miranda, e acredito que para Follet também, montar uma equipe impecável era o mais importante.

Então, quando surgi naquela sala de reuniões dizendo que Andrey estava fora e me mandou em seu lugar, eu praticamente disse à Miranda que um membro importante do seu renomado corpo editorial estava fora. Eu precisaria provar que Andrea era tão boa quanto Andrey, mas não seria fácil porque, com toda absoluta certeza, Miranda não me permitiria falhar. Nem eu mesmo me permitiria falhar. E eu confiava cem por cento na minha capacidade. Apesar de estar enfrentando uma situação inexplicável e inusitada, eu ainda era Andrey. Eu ainda era um dos editores da Runway e entregaria um trabalho merecedor do silêncio de Miranda Priestly. Pois, sim, seu silêncio era a forma de dizer que havia atingido meu objetivo com louvor.

— A entrevista com Donatella deve ser inovadora. Não quero nenhuma pergunta melancólica, retórica ou repetitiva. Eu quero algo pontual, que a faça falar especificamente sobre sua nova coleção. Todos sabem da sua história. Ninguém mais quer saber sobre sua rotina de cuidados com a pele, mas sim sobre suas inspirações, ideias, sobre cada uma daquelas peças.

Miranda falava sem parar. Ela parecia não precisar de ar para prosseguir. Emily estava ao seu lado direito segurando seu bloquinho e aguardando as ordens que seriam direcionadas a ela enquanto eu tentava me equilibrar sobre aqueles saltos infernais e anotar tudo que ela dizia sobre a entrevista. Eu quem a faria. Seria eu quem entrevistaria Donatella Versace e, apesar de já conhecê-la, era impossível não sentir o nervosismo proveniente da importância e da responsabilidade de tal tarefa.

— Sim, Miranda. Estarei na minha sala caso precise de mim.

Emily me olhou de lado e uniu as sobrancelhas tentando entender o que estava acontecendo. Eu nunca fui muito amigável com Miranda. Para ser bem sincero, tínhamos nossos desentendimentos. De todos do corpo editorial, e talvez de todo o mundo da moda, eu era a única pessoa que tinha coragem de questionar Miranda ou mostrar minha contrariedade para com suas ideias quando necessário. E, apesar de ela não aceitar muito bem minha petulância, ela parecia gostar de alguém finalmente se impor diante dela.

Upside Down | Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora