Parte 10

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Tocando: Ordinary World - Duran Duran

— Três dias.

Andrea estava sentada em sua cadeira de couro virada de costas para a porta e observando atentamente o lado de fora através da grande janela de vidro. Chovia copiosamente em NYC. Ela se sentiu vagamente representada pelos trovões e as nuvens escuras. Ela firmava uma xícara de café extremamente quente entre os dedos e, com os pensamentos vagando pela noite em que estragou tudo do outro lado do corredor, se deliciava com o sabor amargo.

Por mais que tentasse, não conseguia se distrair. Não conseguia manter Miranda longe. Nunca sentiu tanta saudade de alguém que nunca foi seu. Ou que foi por algumas horas e a dispensou logo em seguida, afinal, era ela quem desaparecia no dia seguinte, não o contrário. Com certeza aquela era uma das dores que Romena gostaria que ela sentisse quando a submeteu àquela nova vida.

Quando a voz rouca invadiu seu espaço, ela estranhou. Por um momento pensou estar em mais um de seus devaneios. Ouvir a voz de Miranda tornou-se recorrente mesmo quando ela não estava nem perto de sua sala. Daquela vez, no entanto, era real. Miranda estava parada em sua frente, encostada na madeira da porta fechada.

Andrea respirou fundo, abandonou a xícara sobre o protetor de copos e se levantou ajeitando a roupa. Tentou sorrir, mas falhou miseravelmente. A sua vontade, na realidade, era chorar. Seus olhos, com certeza, brilhavam. E esperava, de todo o coração, que Miranda não percebesse.

— Perdão? — Surpreendeu-se por sua voz conseguir pronunciar ao menos uma palavra.

— Três dias. — Miranda mantinha as mãos cruzadas atrás do corpo, como se as usasse para protegê-la da madeira fria da porta. Ela suspirou e olhou para algum ponto de um dos quadros que decoravam o escritório. — Foram três dias longe. Três dias que não tive notícias suas.

Os lábios de Andrea se abriram levemente e sua testa convergiu fazendo suas sobrancelhas quase se unirem sem entender aonde Miranda queria chegar. Três dias sem notícias? E desde quando ela se importa?

— E desde quando você se importa? — Andrea soltou uma risada irônica antes de cuspir a frase em direção a Miranda, deixando clara toda a sua indignação.

A mais velha ficou paralisada por alguns segundos, parecendo tentar se conter. Talvez estivesse irritada pela forma com que Andrea falou com ela, pois ela era a única a usar aquele tom sem medo de ser colocada em seu devido lugar. Mas Miranda sabia que merecia. Ela merecia ser tratada daquela forma e ignorada completamente.

— Se eu não me importasse, eu não estaria aqui, Andreah. Eu sequer teria o trabalho de botar os pés na sua sala.

Andrea riu em deboche. Uma de suas mãos se apoiaram na mesa lhe dando o suporte que precisava para que suas pernas não falhassem e lhe derrubassem; a outra mão afastou seu cabelo do rosto e foi posta em sua cintura após um longo suspiro.

— Precisa de algo, Miranda? Quanto ao meu artigo não precisa se preocupar, ele ficará pronto a tempo.

— Não vim falar sobre trabalho.

— Não consigo pensar em nada que podemos falar além de trabalho.

— Ouça, Andreah! Sei que me repudia mais que a qualquer um depois do que aconteceu, mas...

— Eu entendo, Miranda. — Os olhos de Miranda se fecharam levemente enquanto ela puxava o ar para os pulmões em busca de serenidade. Odiava que a interrompessem. — Você é comprometida. Eu não vou falar nada sobre o que aconteceu. Aliás, eu nem me lembro mais. Acredito que você também não, afinal, estava bastante bêbada. — Os olhos de Andrea tornaram-se ainda mais úmidos, agora pela dor que sentia a cada palavra dita. — Eu também já errei antes. Eu sei bem como é. Não estou disposta a estragar um relacionamento.

Upside Down | Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora