Parte 15

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A pergunta é: estão preparados?


Quando seus dedos finalmente cessaram a melodia, Miranda deixou os ombros caírem e suspirou com os olhos fechados, sentindo o peso sair de suas costas. Mesmo que nenhum de seus sentimentos tivesse morrido magicamente quando o instrumental acabou, ela se sentia leve. Depois de alguns segundos naquela posição, ela levou ambas as mãos ao rosto e secou as lágrimas sabendo que seus olhos estavam vermelhos e inchados devido ao choro. Odiava transparecer tanto, mas era inevitável. Sua pele clara era facilmente marcada.

Precisava se recompor, pois muito em breve Sinclair surgiria com o livro que montaram exclusivamente para a próxima edição para ser revisado. Ela se recusava a ser vista daquela forma por qualquer pessoa, principalmente pela assistente que caiu em seu desagrado. Assim que se levantou, ajeitou novamente o roupão e ouviu o som das chaves sendo colocadas sobre a mesa de madeira do hall. Outra vez levou as mãos ao rosto para certificar-se de que não estava tão digna de pena e penteou os cabelos com a ponta dos dedos.

— Chegou antes do horário, Sinclair. — Disse depois de tossir para recuperar a voz.

— Boa noite, Miranda.

Ela pareceu ter visto um fantasma. A imagem de Andrea se materializou diante dela e fez com que não conseguisse disfarçar a expressão confusa.

— O que faz aqui? — Ela estava parada no meio da sala com os pés descalços e a taça de vinho na mão.

— Sinclair precisou ficar para adiantar algumas coisas para amanhã, então me dispus a trazer o livro. — Ela ergueu o livro e caminhou para dentro, receosa se devia ou não fazer aquilo. Nunca tinha pisado na casa de Miranda e todos diziam que aquele lugar era uma espécie de templo sagrado, então não fazia ideia de como agir. Quando Miranda ficou em silêncio, parecendo pensar sobre o que ouviu, Andrea continuou: — Você toca muito bem!

Miranda a encarou por alguns segundos e então desviou os olhos para o piano, precisando travar uma batalha com seus sentimentos. Ninguém a ouvia tocar há muitos anos. Suas filhas sempre insistiam para que ela voltasse a praticar, mas Miranda se recusava. Contudo, Andrea a ouviu sem permissão. A ouviu sem ser convidada. E isso não incomodava Miranda nenhum pouco. Na realidade, a única coisa que a incomodava era o fato de não conseguir parar de desejá-la.

Ela estava ali, diante dela, com os olhos cansados, a maquiagem desgastada, a mesma roupa que usou para trabalhar durante o dia e que era muito bem conhecida por Miranda que a admirou cada segundo que a viu, e continuava sendo a imagem mais bela que a editora teve o prazer de contemplar em muito tempo.

— Onde posso deixá-lo? — Andrea perguntou puxando Miranda de volta de seus devaneios.

A editora ergueu a mão no ar pedindo pelo livro e o recebeu depois de Andrea dar alguns passos para dentro, parecendo amedrontada, e lhe entregar. Seus dedos se encostaram no processo e ambas sentiram o choque correr de seus pés até o último fio de cabelo.

— Obrigada por se dispor a trazê-lo.

O que ela precisava fazer? Convidá-la para uma taça de vinho? Mandá-la embora? Continuar ali, parada, observando cada detalhe dela e a desejando como nunca?

— O que mais vou descobrir sobre você, Miranda?

Aquela pergunta, na verdade, era para ser apenas um pensamento, mas Andrea a pronunciou em voz alta sem perceber.

— O que disse?

— N-nada. Não... Não é nada. — Ela balançou a cabeça negativamente e com pressa, abaixando o olhar para encarar os pés. Seu coração batia tão rápido em seu peito que poderia saltar para fora a qualquer momento. — Poderia tocar novamente para mim, Miranda?

Upside Down | Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora