Parte 4

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Na noite em que conheceu Andrey, sabia que não seria apenas um encontro casual. Ele era o homem ideal para ela; era justamente o que ela procurava e tudo que a atraía no sexo oposto. Depois que foram embora do bar juntos direto para uma suíte presidencial do hotel mais caro da cidade e fizeram o sexo mais incrível de toda a sua vida, ela passou a ter certeza de que seriam um do outro, custe o que custar.

Mas quando ela abriu os olhos na manhã seguinte, ela estava nua, com os cabelos despenteados e cobrindo parte do rosto. Todas as roupas jogadas pelo quarto e o outro lado da cama vazio. Ele foi embora sem se despedir e sem o mínimo de consideração. Quando ela ligou, diversas vezes durante o dia, ele não atendeu. Foi então que pegou o celular da sua melhor amiga e ouviu uma desculpa esfarrapada do outro lado da linha. "Estou numa reunião".

Os ruídos no fundo da ligação deixavam claro que ele estava mentindo. Não se fazem reuniões em bares, muito menos com pessoas gritando ao fundo e uma música extremamente alta. Ele achava que podia mentir daquela forma e tudo ficaria bem? Seu sangue ferveu. Seus olhos brilharam arduamente pela raiva. Seus dentes rangeram e sua mandíbula enrijeceu.

Não que ela fosse uma pessoa maldosa, mas sua exaustão para com os homens havia chegado ao seu limite e Andrey pagaria até a última moeda.

— Então é isso que chama de reunião de negócios, Andrey Sachs?

Ela pode ver perfeitamente o corpo do homem à sua frente tencionar. Seus ombros, que antes eram relaxados, agora estavam eretos e demonstravam que ele havia se assustado. Ele achou mesmo que ela não saberia onde ele estava? Eles frequentavam o mesmo lugar desde sempre.

— Romena?

— Você vai se arrepender por ter mentido para mim, Andrey. Por ter me usado como um copo descartável e jogado fora. — Ela deu alguns passos até se aproximar ainda mais dele. Ela queria que ele ouvisse cada uma das palavras perfeitamente bem, sem rodeios, sem dúvidas, sem questionamentos. — E você vai se lembrar de mim.

E então um sorriso diabólico surgiu em seus lábios. Seus olhos ainda brilhavam, mas a raiva agora se misturava ao prazer de poder se vingar.

×

Aquela era uma noite de lua cheia. Romena tinha seus contatos. Ela sabia exatamente quem podia ajudá-la com seu plano. E, assim que saiu do bar, dirigiu-se para lá.

Apesar da pintura branca, a fachada daquela casa era escura devido ao mofo e das grandes árvores e plantas mortas. Havia um muro na frente, tão coberto por mofo quanto o resto da propriedade, e um pequeno portão de grades pretas.

Os cômodos eram tão sombrios quanto podia se imaginar apenas por observá-la do lado de fora. A maioria dos móveis eram de madeira e o cheiro, apesar de não ser fácil de explicar, era ímpar.

— Você sabe que não há como voltar atrás. Tem certeza da sua escolha?

— Absoluta. Quero que ele sinta todas as dores que uma mulher pode sentir, mas não só a de ser abandonada.

— Eu já fiz isso antes. Lhe expliquei como funciona. Não há volta. Ao menos não que eu saiba e eu sei de tudo.

— Vamos logo com isso.

A mulher mais velha encarou os olhos de Romena buscando por aprovação e certeza e quando a mais nova sequer piscou, ela encontrou o que queria.

— Você está com a foto?

Romena lhe entregou uma das fotos que tirou de Andrey na noite anterior com sua câmera analógica. Ele estava deitado na cama vestido apenas com sua camisa social branca e a gravata frouxa. Mantinha um sorriso satisfeito nos lábios, com certeza feliz por saber que estava prestes a ter uma noite agitada.

Sobre a mesa, junto à foto, tinham algumas velas acesas. Alguns símbolos desconhecidos por Romena estavam desenhados no forro de mesa. A mais velha mantinha um isqueiro na mão e o acendeu próximo ao rosto de Andrey na foto.

— Nome?

— Andrey Anton Sachs.

— Idade?

— 32 anos.

— Repita comigo: Nada mantém a sua forma...

— Nada mantém a sua forma...

— Tudo se transforma!

— Tudo se transforma!

— Novamente: Nada mantém a sua forma. Tudo se transforma!

— Nada mantém a sua forma. Tudo se transforma!

Os olhos de Romena não se desviavam dos olhos da mais velha nem por um instante. Em seu interior, ela se sentia quente e realizada. Andrey finalmente pagaria por tudo que fez à ela e às outras mulheres com as quais saiu durante toda a sua vida.

Romena ouviu um trovão do lado de fora ao terminar de falar. Quando chegou ali, o céu estava completamente limpo e a Lua brilhava, então aquela foi a confirmação que precisava para saber que havia funcionado. 

Upside Down | Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora