Parte 16

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Miranda sentia o peso do corpo de Andrea sobre o seu e o calor agradável que a envolvia com braços e pernas. Era madrugada e, dessa vez, Miranda não a acordaria e mandaria para casa. Pelo contrário, ela apenas apertou o braço em volta de Andrea e a puxou para mais perto, ouvindo um suspiro escapar de seus lábios e a respiração leve contra a pele de seu pescoço, bem como os fios escuros do cabelo da jovem cobrindo parte de seu braço e se espalhando pelo lençol branco. Suas pernas estavam cruzadas umas nas outras e Miranda pensou que nunca se sentiu tão confortável quanto naquele momento.

Era um caminho sem volta. Nigel tinha razão e, para Miranda, era complicado aceitar e assumir. Ela não queria se magoar outra vez e, muito menos, magoar Andrea. Ela tinha uma carga emocional muito pesada que carregava desde seus relacionamentos anteriores e sentia que isso poderia atrapalhar uma tentativa de compromisso com alguém.

Andrea era jovem. Era bonita. Tinha muitas mulheres e homens aos seus pés. Miranda viu com seus próprios olhos o quanto ela é observada e elogiada aonde quer que vá, especialmente dentro da Runway. Além disso, Andrey podia voltar a qualquer instante e Andrea a deixaria para trás precisando lidar com a distância. E mesmo com todos esses pensamentos conturbando sua mente, ela se permitiu aproveitar aquele momento. O cheiro de Andrea era suave e agradável. Era sempre como se ela tivesse acabado de sair do banho. E com os fios pretos tão perto de seu rosto, tão cheirosos quanto o resto de seu corpo, Miranda conseguiu aproveitar ainda mais, fazendo com que se sentisse tranquila e protegida. Aquele aroma podia, facilmente, ser embalado e vendido como uma forma de aromaterapia.

Miranda pensou que aquela noite seria longa, não só pelo sexo, mas também pela insônia que a atingiria. Mas, diferente disso, ela conseguiu dormir bem sem nem mesmo usar um de seus remédios. Não teve pesadelo algum e sequer acordou para tomar seu chá da madrugada. Não sabia se aquilo se devia ao fato de ter Andrea colada a ela, pelo cansaço da semana corrida ou pela longa conversa que teve com a jovem.

Andrea era mais interessante do que Miranda imaginou e tinha histórias engraçadas para contar sobre sua infância ou juventude e, cada vez que ela ria contando alguma delas antes mesmo de chegar ao fim, Miranda também sorria com o coração aquecido observando cada pequeno detalhe de seu rosto a fim de memorizá-lo. Ela queria poder nunca mais sair daquele quarto. Nunca mais ter que voltar à realidade.

E Andrea desejava o mesmo.

— O que foi? — Andrea perguntou uma hora atrás, antes de, pouco a pouco, se entregarem ao sono. Ela estava deitada no peitoral de Miranda, que tinha o corpo parcialmente deitado, encostado na cabeceira da cama. Seus rostos estavam bastante próximos e a mais velha passava as pontas dos dois dedos indicadores em cada milímetro da pele jovem.

— Estou te admirando. — Miranda sussurrou sem tirar os olhos dos castanhos. Elas estavam tão confortáveis que não ousavam se mexer. Andrea mostrou seu maior sorriso. — Você tem pintas bem pequenas aqui... — Ela alisou o nariz de Andrea. — Não chegam a ser sardas... Tem algumas aqui também. — Passou o dedo no canto de sua testa e em sua bochecha fazendo com que ela fechasse os olhos e suspirasse.

— Eu não quero que isso acabe, Miranda... — Ela sussurrou virando o rosto de lado, fechando os olhos e deitando no peitoral de Miranda, abraçando seu corpo com ambos os braços, a puxando para si como se não quisesse nunca deixá-la ir.

— Nem eu, Andreah, — Ela sussurrou respirando fundo, segurando o ar por uns segundos e soltando. Ela agora tinha o queixo apoiado no topo da cabeça da mais jovem, um dos braços repousando em suas costas e os dedos da mão direita acariciando o couro cabeludo. — Nem eu...

Depois do que aconteceu, não houve um dia sequer em que Andrea não desejou ter sua vida de volta. Odiava pensar que poderia nunca mais voltar a ser o Andrey de antes. Até aquela noite, quando percebeu que se sentia mais confortável compartilhando momentos com Miranda que em baladas indo para a cama com desconhecidas. Que preferia estar ali, a fazendo rir enquanto bebiam vinho, sem fazer tanto esforço.

Upside Down | Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora