Prólogo

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Andrea sempre foi uma pessoa sem amarras. Ninguém que conheceu durante seus 31 anos de vida a surpreendeu o suficiente para lhe fazer encontrar o juízo e construir um relacionamento sólido. Sendo assim, estava sempre acompanhada de uma pessoa diferente. Desde mulheres e homens mais jovens até os mais velhos. Gostava de saber sobre suas histórias e aprender um pouco mais sobre a vida, bem como se divertir sem se preocupar com o dia seguinte.

Contudo, foi numa dessas ocasiões que Andrea nasceu, bem perto de completar seus 32 anos

É algo confuso, mas tentarei explicar:

Certa noite, depois de uma conversa profunda com Emily, sua melhor amiga, companheira de trabalho e de apartamento, Andrea foi dormir. Ela estava simplesmente exausta depois de um dia carregado. Naquela madrugada, dividindo a cama com Emily como faziam regularmente, ela sentiu seu corpo formigar. Era um formigamento estranho, talvez incômodo, mas não ao ponto de fazê-la se preocupar.

Na manhã seguinte, quando o relógio despertou indicando que a guerra recomeçaria, Andrea teve uma surpresa que nem mesmo os deuses poderiam lhe explicar ao abaixar levemente as calças para fazer suas necessidades. Ela olhou para baixo e não encontrou o que deveria estar ali. Piscou algumas vezes, respirou fundo, balançou a cabeça negativamente como se tentasse espantar suas alucinações e voltou a tentar, mas aquilo só fez com que se desesperasse ainda mais.

O que estava errado? Por que uma parte do seu corpo, talvez a mais importante delas, estava faltando?

Ela curvou as sobrancelhas visivelmente confusa e caminhou até a pia a fim de passar uma água no rosto. Que diabos estava acontecendo?

Ao encarar seu reflexo no espelho, sua surpresa foi ainda maior.

Seu cabelo, que antes era curto e escuro, agora estava na altura dos ombros e tinha algumas mechas mais claras. Seus olhos ainda eram enormes como sempre, mas tinham cílios muito mais compridos. Sua boca também permaneceu carnuda, mas agora tinha linhas perfeitamente desenhadas. Seu nariz era um tanto mais fino bem como seu rosto. Suas sobrancelhas estavam muito bem desenhadas, mas ainda tinha alguns pelos por fazer.

Ao olhar para baixo através da sua imagem refletida, percebeu um volume estranho em seus peitos. Ela levou ambas as mãos até seus seios e, ao apalpá-los, percebeu que estavam maiores. Sua cabeça pendeu levemente para o lado tentando entender, mas nada fazia sentido.

Talvez fosse um pesadelo. Talvez ela ainda estivesse dormindo e só precisasse de um beliscão para acordar, mas, ao fazê-lo, nada mudou.

Foi então que sua boca se abriu e um grito desesperado ecoou pelo apartamento fazendo com que Emily saltasse da cama, ficando de pé no colchão com o despertador na mão pronta para atacar quem quer que estivesse na casa. A ruiva olhou para todos os lados tão confusa quanto Andrea, mas não encontrou nenhum risco iminente. Depois de alguns segundos, outro grito ecoou. Era uma voz afeminada, o que lhe fez bufar de raiva. Outra mulher? Ontem foram dormir sem ninguém na casa, mas agora outra mulher estava ali?

Emily saiu da cama pisando alto e bufando a caminho do banheiro. Ela abriu a porta bruscamente e fez uma careta ao confirmar suas suspeitas: outra mulher!

— Emily?!

— Por que é que você está gritando?

— Emily, me diz que estou vendo coisas.

As sobrancelhas de Emily se curvaram sem entender absolutamente nada do que aquela mulher dizia, mas ela manteve a postura firme e irritadiça, dando as costas para a estranha e caminhando de volta para o quarto.

— Eu não sei quem você é, não sei quando veio para cá, mas vista-se e vai embora. Depois vocês dois se resolvem.

— Emily! Emily, pelo amor de Deus, do que você está falando?

Upside Down | Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora