꧁𝐈. 𝐈꧂

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Dia do ocorrido

Minhas mãos tremem.

O corpo doi o tempo inteiro...

— Eu decidi que iria fazer isso, então vamos, coragem ! — Digo me sentando na cadeira enquanto apoiava meus braços sobre a mesa, pensando no que eu iria escrever.

Pego uma caneta, fecho os meus olhos e lentamente respiro bem fundo.

— ...

Encosto a caneta no papel e começo a escrever.

Esta é uma carta de suicídio

Toda história precisa de um começo, mas eu não saberia por onde começar a contar a minha. Acontecimentos que ocorreram ao longo da minha vida me fizeram ser quem eu sou e foram uns dos principais motivos para eu estar tomando esta decisão agora.
Meu nome é Davi e eu tenho 14 anos, não sei muito bem para quem eu estou escrevendo isso... Mas para quem encontrar essa carta, espero que me entenda, vou contar um pouco sobre mim. Como todo adolescente da minha idade eu estudava, mas diferente de alguns eu estudava em um colégio particular da minha cidade, eu poderia até parecer com um adolescente comum, mas a verdade é que eu não conseguiria nem fingir ser um. Todo dia pelo período da manhã eu ia para escola, lá encontrava uma das poucas amizades que eu ainda tinha, acho que ela por algum tempo foi um dos principais motivos por eu gostar tanto e de querer ir para escola, para não ficar sozinho. Quando a aula acabava eu voltava de bicicleta até em casa, era um dos meus passatempos preferidos já que praticamente eu não saia de casa, eu cuidava dela enquanto meu padrasto estava fora, trabalhando. Quando ele chegava comíamos juntos, mas muitas das vezes eu subia para o meu quarto como destas últimas vezes. Nós não tínhamos uma boa relação, então a maioria do tempo eu passava trancado no quarto, e a rotina se repetia dia após dia, mas de repente em um desses dias tudo mudou.
Em todas as escolas encontramos aquelas pessoas que se acham os valentões, sejam elas em filmes, séries ou na vida real, e comigo não foi diferente, na minha escola tinha um trio de meninos que não paravam de me encher o saco, eu não tinha escolhido ter inimigos, e sim eles escolheram...

DAVI - 14 anos

Meses atrás do ocorrido

É tão ruim essa sensação de andar pelos corredores da escola como se você fosse o alvo de tudo e de todos, os olhares das pessoas sobre você, o que elas devem pensar ? Bom, eu não me importo com oque elas pensam ou deixam de pensar sobre mim.

Eu nunca fui do tipo de pessoa de se abrir com alguém, nunca contei nada sobre mim para ninguém, a realidade é que eu sou mais um de vários que passam despercebidos por essa escola, e que continue assim.

Enquanto andava pelo corredor indo em direção ao meu armário vejo de longe Jonathan, Junior e Lucas parados conversando ali no fim do corredor.

Eu não suportava esses moleques, eles sempre arranjavam uma maneira de me humilhar ou de me fazer algum mal, e eu como sempre não fazia nada.

Ando um pouco mais rápido na intenção de chegar logo no meu armário e passar despercebido, abro-o e enquanto pegava minhas coisas uma pessoa me abraçava por trás, com o susto me viro para ver quem era. Era a Jheniffer !

Ela era uma das únicas amizades que eu ainda confiava e tinha nessa escola, e praticamente, na minha vida toda.

— Por um minuto, você quase me matou do coração...

— Desculpa... Não era essa a minha intenção ! — Falava dando leves risadas.

— Eu sei que não era.

— Como você está amigo ? — Me perguntava enquanto eu pegava alguns livros.

— Estou bem, mas... Você já viu quem estão ali ? — Falo e em seguida apontando disfarçadamente com os olhos para os meninos.

— Ah não, esses meninos de novo...

— Não se preocupe, eles não vão mexer com você, vem vamos andar juntos. — Depois de pegarmos os livros Jheniffer e eu andamos lado a lado até a sala.

De longe percebo que os meninos já tinham nos visto, então abaixo a cabeça enquanto passamos por eles para passar despercebido.

— Olha se não é o monguinho e a sua lacraia... — Jonathan dispara quando passamos na sua frente.

— Jonathan me responde uma coisa, porque você é tão escroto assim ? — Jheniffer dizia retrucando o xingamento enquanto parávamos no corredor.

Ela odiava quem tirava sarro dela e odiava ainda mais quem tirava sarro de mim.

— O que você disse ? — Jonathan no mesmo instante vem na nossa direção após a resposta.

— O 'Que você ouviu !

— Jheniffer, por favor, vamos logo... — Suspiro meio nervoso com a situação.

— Vadia, eu não posso fazer você se arrepender do que disse da forma que você merece, mas posso descontar no seu amiguinho... — Jonathan dizia enquanto encarava Jheniffer desviando o olhar para mim.

— Você não vai encostar nenhum dedo nele !

Nessa hora eu já estava prevendo que ele iria me bater...

— Ou o que ? — Jonathan responde e em seguida dá um tapa nos livros que eu estava segurando, fazendo todos caírem no chão enquanto Junior e Lucas olhavam a situação.

— Você é um babaca mesmo ! — Jheniffer dizia enquanto Jonathan saia rindo.

O sinal toca e os meninos vão para a sala. Me agacho para pegar os livros e depois me levanto, Lucas tinha pegado um livro que tinha caído um pouco longe e colocado sobre a pilha de livros sobre a minha mão.

— Toma, me desculpa pela forma que ele tratou vocês... — Lucas diz.

— E o que você ainda tá fazendo aqui ? Por que não foi com os seus amigos ! — Jheniffer fala meio nervosa...

— Calma... Eu entendo seu nervosismo, só quero que vocês saibam que eu não sou igual a eles...

— Palhaçada... — Jheniffer dizia e logo em seguida ia para sala, deixando eu e o Lucas sozinhos no corredor.

Nos olhamos por alguns segundos e logo em seguida Jheniffer me chamava da porta da sala.

— Davi ?? Vamos tá fazendo o que aí ainda...

— Estou indo... — Falo e entramos na sala, Lucas vinha logo atrás.

Infelizmente esses meninos eram da mesma sala que nós, mas não importava, já que fingíamos que eles não existiam.

Horas depois

Na saída da escola quando estou indo pegar minha bicicleta para ir embora, depois de me despedir de Jheniffer vejo Lucas sozinho e decido agradecer a ele por mais cedo.

— Ei... Obrigado por me ajudar mais cedo. — Falo meio tímido.

— Não precisa agradecer, não foi nada... — Meio sem entender ele responde.

— E pode ficar tranquilo que isso não vai mais acontecer de novo...

— Como assim ?

— Falei com ele e ele me prometeu que não iria mais fazer isso com vocês.

— Obrigado, mais uma vez...

— Bom, vou indo. — Lucas falava enquanto saia de bicicleta, assim como eu.

Lucas era completamente diferente dos amigos dele, eu conseguia perceber isso, qualquer um podia perceber isso, qualquer um menos a Jheniffer. De qualquer forma eu vou embora, antes que seus amigos chegassem de novo.

Dia do ocorrido

Mas foi justamente em um desses dias aleatórios que eu vim a conhecer uma pessoa que mais pra frente se tornaria uma das pessoas mais importantes da minha vida, eu só não fazia ideia do quanto minha vida iria mudar depois disso.

Sweet ChildOnde histórias criam vida. Descubra agora