Sweet Child

꧁𝐈. 𝐗𝐈𝐈꧂

I Dia atrás do ocorrido

— Eu sou tão burro... É melhor eu limpar isso tudo antes que alguém mais veja ! — Começo a limpar o sangue que escorriam dos cortes do meu braço, os que estavam na pia e no chão, escondo as provas, como algodões sujos de sangue e o canivete.

Horas mais tarde meu padrasto chegava do trabalho, visto um moletom para esconder os cortes e durante o jantar Eu não soltava nenhuma palavra, a todo momento Eu franzia de dor mas disfarçava para ele não perceber, mas meus braços começavam a coçar por debaixo do moletom...

— Por que é que você está tão inquieto hoje ? — Me pergunta.

— Nada não...

— Não pode ser nada, desde a hora que você sentou aí não para de fazer cara feia e mexer os braços !

— Andou fazendo alguma besteira não é ? Deixa eu ver !

— Não é nada, por que você sempre quer se intrometer nas minhas coisas !? — Falo alterado me recuando da mesa. 

Ele se irrita, se levanta e vem na minha direção, pegou meus braços com força tentando arregaçar as mangas do moletom mas eu as segurei com força.

— Para ! Eu falei que não é nada... — Falo segurando as mangas, com força ele acaba arregaçando as mangas e vendo os cortes que com a força que ele fez sobre meu braço começaram a sangrar um pouco...

— O que é isso ?

— Você anda se cortando agora é ?

— Não é o que você tá pensando !... — Falo soltando meus braços de sua mão meio nervoso.

— Você pensa que eu não sei o que significa isso ?

— Você é doente garoto ? Você não gira bem da cabeça não é ?

— E quem é você ?! — Falo um pouco exaltado me levantando da mesa.

— Quem é você pra me falar alguma coisa ? — Com coragem começo a enfrentá-lo.

— Hãn ? Se eu sou assim hoje metade da culpa é sua !

— Minha ? Agora vai colocar a culpa dos seus problemas em mim ?

— Tudo que aconteceu, tudo, você sempre estava lá !

— O que aconteceu com a minha mãe...

— Você não vai falar dela agora ! — Fala me interrompendo.

— Vou sim porque agora Eu não tenho mais medo de você ! — Falo enfrentando-o

— Você perdeu a noção ? Hein, tem ideia do que eu posso fazer com você ?

— Vai o que ? Me matar ? Me dá um sumiço ? Ou melhor... Tentar abusar de mim que nem da última vez ?...

— O que ?... Não, não, não, para de dizer isso...

— Para, para, para ! — Diz ele se debatendo com as mãos no rosto enquanto andava de um lado para o outro.

— Agora é para né ?... Naquele dia Eu também pedi pra você parar, mas você continuava... Eu não vou parar, porque agora eu vou dizer tudo o que eu quero !

— Desde aquele dia até hoje eu tenho nojo de mim e do meu corpo, Eu não consigo mais olhar para mim sem sentir tudo aquilo de novo...

— Mas eu tentei superar isso, como tudo que eu já tinha superado. Eu tentei...

— Já chega ! — Diz ele se levantando do sofá enquanto chorava.

— Chega nada porque agora você vai sentar e vai me ouvir ! — Ele então se senta no sofá tentando tapar os ouvidos enquanto se debatia e chorava.

— Agora você tá chorando né ?... Que ridículo tudo isso

— Eu cansei de tentar viver em paz com você, CANSEI ! 

— Você sempre sendo um escroto comigo, sempre fazendo suas piadas maldosas para me deixar para baixo ou algo do tipo, pra se achar a autoridade e não enxergar que é um fracassado !

— Pra falar a verdade por um tempo Eu até ligava para suas falas, hoje não mais...

— Você sabe qual é a sensação de não fazer uma coisa com medo do que outras pessoas irão pensar ? Do que irão falar, do que irão te chamar ?...

— A vida inteira você me humilha, me maltrata e me chama de doente, a verdade é que o doente aqui sempre foi você ! — Ele então se levanta e me joga no chão, fazendo nós dois cairmos, ele sobe em cima de mim e fecha as mãos como se fosse me bater.

— E o que ? Vai me bater agora ?

— Você não tem coragem... Quero ver o dia em que você vai levantar a mão pra mim de novo ! — Ele olha nos meus olhos e meio confuso se joga no chão ao meu lado, começando a chorar como se fosse uma criança. 

Ainda jogado chão fecho meus olhos e começo a chorar também, me levanto lentamente enquanto observava ele se debatendo no chão...

— Agora olhe só para você. Parecendo uma criança, se debatendo no chão, chorando parecendo que levou uma bronca...

— Quer saber a primeira vez que Eu me cortei ? Foi naquele maldito dia... Eu me cortei na tentativa de fazer aquela sensação parar, de fazer aqueles pensamentos parar, DE SENTIR ALGUMA COISA ALÉM DE CULPA !...

— Eu sei que a culpa daquilo tudo não era minha, não era da bebida... E sim sua !

— A CULPA SEMPRE FOI SUA ! — Falava gritando e chorando.

— Ninguém tem culpa de ter uma pessoa como você como padrasto, se é isso que eu posso falar que você é.

— Ninguém pede pra ser humilhado todos os dias, ninguém pede pra ser depressivo, ninguém pede para ser abusado !

—...

— Desde aquele dia Eu comecei a ter medo de você, Eu me trancava naquele maldito quarto toda vez que você voltava, Eu me privei de muitas coisas por causa de você !

— Eu me arrependo de me deixar levar por todas as coisas que você já disse ou fez contra mim, Eu me arrependo por todas as vezes que Eu chorei por sua culpa !

— Mas eu não me arrependo nem um pouco das coisas que eu estou te falando agora... Porque um dia essas coisas tiveram que doer muito, para nunca mais doer !

— Então de você eu espero que... Que você lamente muito todos os dias da sua vida pelo o que fez comigo, que seja humilhado que nem você sempre fez comigo, que seja um sofrimento atrás do outro...

— Sofra sozinho seu merda !

— E eu espero que cada lágrima que você está derramando agora seja de culpa e arrependimento ! — Falo dando as costas e saindo da sala deixando-o jogado no chão.

Agora eu tinha falado tudo o 'que eu queria, mas o 'que isso me custou ? Por que eu estou me sentindo assim ? Por que estou me sentindo mal ? Não era para eu estar sentindo isso, era para eu me sentir aliviado, finalmente falei tudo oque tinha para falar. Pensei que quando tivesse coragem de enfrentá-lo, de falar tudo o que eu queria seria diferente... Mas isso tá me causando tanta dor, Eu não sou assim.

— Eu... Eu vou acabar com você ! — Me fala.

Paro de pensar e olho para trás, decidido do que eu iria fazer limpo as lágrimas do meu rosto e respondo.

— Não antes de mim.