Sweet Child

𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟐𝟏

Começo a caminhar pela beira da praia, sem rumo. Água gelada sobre os meus pés fico pensando comigo mesmo enquanto olhava para um arco-íris sob o mar, que daqui pra frente, eu vou me fazer feliz...
Quando eu escrevi essa carta para esse capítulo, eu pensei - Boa parte da história é triste, então ela precisa acabar de uma maneira feliz - Então eu pensei, pensei muito, e meio que a história retrata minha criança interior, então nada melhor do que pegar minhas referências de quando eu era criança das coisas que me deixavam feliz. Sendo essas minhas referências eu cheguei em um final que ficou entre aberto, nem feliz, nem triste, ele me deixa pensativo, pelo fato de que mesmo que eu mesmo tenha dito que iria me fazer feliz, isso não significa que eu seja feliz o tempo todo. O que é irônico, mas o ponto que eu quero chegar é que eu esqueci como é ser feliz.
Agora eu quero vocês esqueçam a praia, imaginem que conforme o personagem (Lucas) vai andando tudo começa a se desfazer, como em Coraline quando ela vai chegando no final do mundo, onde tudo vai ficando vazio, porque é assim que eu ainda me sinto às vezes, não por que eu quero, mas porque simplesmente acontece. Todos vocês me conhecem, ou alguns de vocês, mas esqueçam a minha versão que vocês estão acostumados a ver todos os dias, que é sempre sorrindo, porque debaixo das bandanas e cabelos coloridos nem sempre eu sou assim. Nesses últimos tempos eu andei meio perdido, meio que eu queria afastar tudo aquilo que formava o meu eu e outras versões antigas minhas, como renascer em uma nova era, esquecendo tudo oque eu havia dito um dia, e como resultado, isso não me fez bem. Eu mudei com algumas pessoas, eu me afastei de algumas pessoas por pura ignorância, e pelo visto, eu vou acabar sozinho com a minha ignorância e perdendo pessoas incríveis, assim como certas pessoas me perderam. Em um dia desses de agosto eu acordei e estava me sentindo normal, mas quando eu cheguei no meu trabalho eu comecei a pensar, pensar muito, e como de costume eu começo a escrever tudo aquilo que eu costumo sentir, porque dessa forma, eu me alivio um pouco, e lembro que não posso chorar. Mas de noite na escola eu simplesmente senti um peso muito grande no meu coração, e quando isso acontece, na maioria das vezes eu quero ficar sozinho, a pior parte é tentar explicar isso para os meus amigos, que às vezes eu tenho essa necessidade de ficar sozinho, não por causa que eu não goste mais deles ou não queira ficar com eles, mas sim porque eu preciso disso, e então eu me calei. E na hora de ir embora eu não aguentei, eu comecei a chorar tudo aquilo que estava preso dentro de mim desde manhã, quando eu estava finalmente andando sozinho por aquelas ruas cinzas a noite foi uma maneira de me acalmar. As vezes eu ainda revivo muito o passado, e esqueço de viver o presente, as noites tento segurar e fico preso numa nostalgia sem fim, tento andar mas não saio do lugar, as vezes eu só queria voltar a ficar andando sem rumo com o meu mano, de ficar em casa assistindo os moços depois de voltar da escola de manhã, de brincar com o meu amor e ensinar cada coisa nova para ele, ou até mesmo voltar a ser aquela criança sorridente na praia, sem ter responsabilidades e medo do que estar por vir. Em outro dia havia rolado uma situação bem desconfortável comigo, onde uma pessoa que eu gosto muito tinha me decepcionado. Isso me deixou tão triste, não era a primeira vez que ela fazia isso, mas o que me deixou mais triste era saber que ultimamente eu estava tendo as mesmas atitudes que ela estava tendo comigo, e me fez perceber que eu acabaria sozinho. Na volta pra casa eu encontrei um senhorzinho sentado no ponto, fiquei alguns segundos parado ali olhando para ele, e percebi que ele estava chorando, parecia triste, parecia magoado com alguma coisa, isso refletiu bastante em mim, as vezes nos sentimos tão mal que mal conseguimos disfarçar. Às vezes nos julgamos muito, às vezes somos julgados, mas você me conhece ? Me conhece de verdade ? Você tem opiniões sobre as minhas opiniões, sobre a minha música, sobre as minhas roupas, sobre o meu corpo. Algumas pessoas odeiam o que eu visto, algumas pessoas elogiam, algumas pessoas usam isso para envergonhar os outros, algumas pessoas usam isso para me envergonhar. E nada que eu faço passa despercebido, então, enquanto eu sinto seus olhares, sua desaprovação, ou seu suspiro de alívio, se eu vivesse por eles, eu nunca seria capaz de me mover, você gostaria que eu fosse menor ? Mais forte ? Mais suave ? Mais homem ? Quem decide o que isso me faz ? O que isso significa ? Meu valor é baseado apenas na sua percepção ? Ou é sua opinião sobre mim ? Mas como isso reflete em mim ? Imaginem esse mesmo personagem no vazio se massacrando com milhares de perguntas que ele faz a si mesmo todos os dias se afastando um pouco, e conforme ele vai se afastando e sua sombra sumindo ele chega em um lugar, um lugar onde ele encontra todas as suas antigas versões, sendo elas cada versão minha descrita no livro, porque foi assim que cada situação e personagem foi criada para o livro, a partir do vazio da minha cabeça. Cada um desses personagens reflete bastante em mim, foram versões em que eu era feliz, triste, deprimido, versões em que eu simplesmente queria morrer. Mas que com elas também aprendi amar, perdoar, superar, melhorar e seguir em frente, e quando fechasse os meu olhos o vazio que sentia desapareceu, e então um herói surgiu, com a força para prosseguir sem medo de julgamentos de se perguntar onde é que deu errado ou para o 'que eu fui feito ? Porque agora eu não sei como me sentir, mas continuo seguindo em frente, e quanto mais eu ando eu volto para a praia de novo, logo eu abro os meu olhos e volto a conversar com minha tristeza.
De volta a praia, sentado na areia com as pernas e os braços cruzados começo a observar quem vinha, quem vocês estão vendo sentado agora é o Yarlei, o autor de Sweet Child, e não o personagem descrito anteriormente. Na minha frente, sobre a água estava minha versão criança, de outro lado, Lucas vinha caminhando, o personagem que representa todas as minhas versões anteriores e de como eu me senti por muito tempo. Ao observar os dois eu sinto uma diferença muito grande, se o meu eu criança soubesse que crescer seria tão rápido e cansativo nunca teria desejado isso.
Minhas cores agora ? Azul e cinza, então uma neblina começa a cobrir a praia, o Sol e o arco-íris que havia começam a desaparecer, e pouco a pouco tudo começa a ficar frio e vazio de novo, só que dessa vez não estamos na minha cabeça, estamos no mundo real, mas como na minha cabeça, eu acabo sozinho, como cada personagem descrito no livro. Qual o ponto de tudo isso ? Minhas ações, minhas atitudes, minhas escolhas me fizeram ser quem eu sou. Agora as luzes se apagaram, as cores foram sumindo pouco a pouco, as paredes desmoronaram, isso foi se consumindo, até que não sobrasse mais nada, nós caímos, nós construímos esse castelo numa areia movediça.
Decidi colocar essa carta como Capítulo 21 de Sweet Child para mostrar literalmente o 'que eu falei no começo, e deixar registrado aqui tudo aquilo que eu já vi, vivi e sou grato por muitas coisas que já conquistei e por todas as pessoas que estiveram comigo até aqui, tenho esse ano de 2023 mais como o fim de uma temporada. Uma temporada onde eu amei e odiei na mesma intensidade, e que sim, independente das coisas que aconteceram eu ainda me sinto feliz, me sinto feliz porque eu finalmente me tornei quem eu sou, ou quem eu gostaria de ser um dia. De alguma forma eu andei muito para chegar até aqui, para que o Yarlei de 2023 e próximos anos não ser igual ao Yarlei de anos anteriores, pensa em uma escadaria, que você se descobre e aceita e a cada dia sobe um degrau, aprendendo a se respeitar e respeitar o seu tempo, não tendo medo de se expor e não precisar mostrar estar bem o tempo todo para querer ter atenção dos outros.
Talvez eu ainda seja aquele garotinho na praia. Se eu pudesse, se ao menos tivesse a chance de encontrar minha versão criança eu falaria - Haverá épocas que estaremos tão cansados... Iremos chorar enquanto olharemos para aquelas estrelas no céu tão fora de alcance. Você pode até não acreditar em galáxias, ou não saber oque é, mas eu já vi, uma galáxia de prata, e foi doloroso, foi tão cansativo. Porque eu corri em direção à luz sem fim, as ruas iluminadas de cinza e seus sons tão frios, irá desejar mudar mas às vezes você só se sentirá vazio... Mas tudo bem se sentir perdido às vezes, está tudo bem agora, as luzes que iluminaram seus olhos são o eu agora ! Às vezes crescer é saber que as cores podem se apagar durante o tempo, mas que isso não pode apagar a luz que tem dentro de você. - Mas sei que isso nunca será possível. Então, ao invés de eu reencontrar minha versão criança, todas vezes em que eu acordar e não me sentir bem, todos os xingamentos ou pensamentos negativos que eu tiver sobre mim mesmo, eu não vou estar me magoando, eu vou estar magoando aquele garotinho que eu fui um dia, a minha criança interior. Então dessa forma, eu arranjaria uma maneira de me sentir bem.
Eu penso que se eu tivesse acabado com tudo eu não estaria aqui para ver o quanto eu evolui tanto profissional quanto pessoal, mas sei que pra sempre irei carregar dentro de mim todos esses sentimentos descritos em Sweet Child. Quando você tenta o seu melhor, mas não tem sucesso. Quando você consegue o que quer, mas não o que precisa. Quando você se sente cansado, mas não consegue dormir. Quando você perde algo que não pode substituir. Mesmo que às vezes eu pareça ou esteja um pouco longe, eu ainda estarei por perto, bem no alto ou bem lá embaixo. Quando a neblina cobrir tudo de novo, que eu encontre aquele garotinho no meio da tempestade para que volte o Sol formigante e o ar daquele verão. Que me faça perceber que eu não posso mais abrir mão de mim e aceitar que às vezes podemos ter essas crises, mas sempre lembrar que elas não podem ser maiores do que eu.