Tem dia que tudo o que você mais deseja é destrancar a porta e invadir sua casa para se jogar no sofá, ou tomar um banho relaxante, talvez comer o último pedaço daquele bolo da sua confeitaria preferida.
Eu poderia ter me esbaldado em diferentes motivos para continuar em Leotie, principalmente, com os últimos acontecimentos e a visita de Thamara. No entanto, fiquei apenas para o jantar, tampouco me atrevi a acompanhá-los ao redor da fogueira.
Quando cheguei ao condomínio ainda permaneci longos minutos no carro, depois usufrui da chave - meu presente de aniversário - e confesso que questionei se as dúvidas e obstáculos eram uma autossabotagem.
A Carolina jovem provavelmente entenderia o cunho daquela mensagem com mais ansiedade e medo do que atual. Realmente precisava sentir um leve aperto no peito por uma conversa entre adultos?
Sílvio me encontrou no quarto, sentada na cama com as pernas cruzadas, segurando o celular.
— Carol, estou preocupado.
Mordi a bochecha, encarando sua postura, as mãos escondidas nos bolsos da calça.
— Entendo tudo que passaram nas últimas semanas, mas fico preocupado com você.
Eu conhecia as palavras implícitas, por isso, quis mudar o assunto de nossa conversa.
— Fiz um teste agora a pouco.
Sílvio franziu o cenho:
— Teste? Que teste, Carol?
— De gravidez e deu negativo — levantei o celular — Marquei uma consulta com caráter urgente, mas acho que é menopausa.
— Espera — meu namorado pediu, sentando de frente para mim — Você acha que está grávida?
— Não mais — respondi rápido, surpresa com a intensidade em sua voz, mas era sua expressão que me deixava desconfortável.
— Meu amor, nem sei o que dizer — a alegria momentânea de Sílvio acendeu várias luzes amarelas e foi por reflexo que afastei minhas mãos das suas.
— A resposta é não, Sílvio.
— O quê? — ele indagou, talvez confuso com minha reação.
— Não posso estar grávida. Eu não quero!
— Carolina, a gente já conversou e eu não estou cobrando nada — Sílvio se defendeu — Mas, ainda existe uma chance.
— Só que a gente precisa ser racional, meu bem, e só a ideia me apavora. Mudanças e atrasos no meu ciclo são comuns.
Sílvio esfregou as mãos, voltando a me encarar:
— Teve que fazer um teste antes?
Semicerrei os olhos:
— Alguns sustos com certeza ocorreram, mas pensei que fossem desaparecer depois que eu completasse quarenta. Olha, nós estamos vivendo um momento de muita tensão, quase tivemos uma tragédia na família e eu sei que você queria estar mais próximo e envolvido nas decisões.
— Quero que seja honesta comigo, Carol, que eu realmente possa ser seu apoio, ombro amigo.
— Ei! — o interrompi, segurando seu rosto — Você é meu amigo, meu apoio, minha paixão.
— Você precisa acreditar mais nessas palavras do que eu, Carol — ele retrucou, afastando minhas mãos — E quero ir a consulta com você independente de já saber o resultado. Espero que respeite ao menos esse pedido.

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Em Um Som
RomanceCarolina Moura Souza assoprou sua vela de quarenta e cinco anos. Ela detestava envelhecer, detestava ser descrita como a filha mais velha e serena, principalmente quando sentia dentro de si um vulcão escondido. E esse era o problema; a mata ao red...