Capítulo oito

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Tem dia que tudo o que você mais deseja é destrancar a porta e invadir sua casa para se jogar no sofá, ou tomar um banho relaxante,  talvez comer o último pedaço daquele bolo da sua confeitaria preferida.

Eu poderia ter me esbaldado em diferentes motivos para continuar em Leotie, principalmente, com os últimos acontecimentos e a visita de Thamara.  No entanto, fiquei apenas para o jantar, tampouco me atrevi a acompanhá-los ao redor da fogueira.

Quando cheguei ao condomínio ainda permaneci longos minutos no carro, depois usufrui da chave - meu presente de aniversário - e confesso que questionei se as dúvidas e obstáculos eram uma autossabotagem.

A Carolina jovem provavelmente entenderia o cunho daquela mensagem com mais ansiedade e medo do que atual. Realmente precisava sentir um leve aperto no peito por uma conversa entre adultos? 

Sílvio me encontrou no quarto, sentada na cama com as pernas  cruzadas, segurando o celular.

— Carol, estou preocupado.

Mordi a bochecha, encarando sua postura, as mãos escondidas nos bolsos da calça.

— Entendo tudo que passaram nas últimas semanas, mas fico preocupado com você.

Eu conhecia as palavras implícitas, por isso, quis mudar o assunto de nossa conversa.

— Fiz um teste agora a pouco.

Sílvio franziu o cenho:

— Teste? Que teste, Carol?

— De gravidez e deu negativo — levantei o celular — Marquei uma consulta com caráter urgente, mas acho que é menopausa.

— Espera — meu namorado pediu, sentando de frente para mim — Você acha que está grávida?

— Não mais — respondi rápido, surpresa com a intensidade em sua voz, mas era sua expressão que me deixava desconfortável.

— Meu amor, nem sei o que dizer — a alegria momentânea de Sílvio acendeu várias luzes amarelas e foi por reflexo que afastei minhas mãos das suas.

— A resposta é não, Sílvio.

— O quê? — ele indagou, talvez confuso com minha reação.

— Não posso estar grávida. Eu não quero!

— Carolina, a gente já conversou e eu não estou cobrando nada — Sílvio se defendeu — Mas, ainda existe uma chance.

— Só que a gente precisa ser racional, meu bem, e só a ideia me apavora.  Mudanças e atrasos no meu ciclo são comuns.

Sílvio esfregou as mãos, voltando a me encarar:

— Teve que fazer um teste antes?

Semicerrei os olhos:

— Alguns sustos com certeza ocorreram, mas  pensei que fossem desaparecer depois que eu completasse quarenta.  Olha, nós estamos vivendo um momento de muita tensão, quase tivemos uma tragédia na família e eu sei que você queria estar mais próximo e envolvido nas decisões.

— Quero que seja honesta comigo, Carol, que eu realmente possa ser seu apoio, ombro amigo.

— Ei! — o interrompi, segurando seu rosto — Você é meu amigo, meu apoio, minha paixão.

— Você precisa acreditar mais nessas palavras do que eu, Carol — ele retrucou, afastando minhas mãos — E quero ir a consulta com você independente de já saber o resultado.  Espero que respeite ao menos esse pedido.

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