Com o avançar da gravidez eu buscava me acostumar as mudanças, muitos cheiros incomodavam, eu precisava me acostumar ao sono excessivo e o fato da minha pele não ficar tão incrível como algumas pessoas garantiram. Eu olhava o espelho e dava uma pausa para algumas, melhor dizer muitas, roupas com a esperança de poder recuperá-las após o parto.
Viva o processo, eu odiava essa frase de Igor, que precisava lidar com minhas mudanças de humor, embora não fossem frequentes.
— A consulta está agendada para as dezesseis, então eu posso sair da loja faltando vinte minutos, te busco no campus e chegamos pontualmente.
Olhei a quadro rabiscado de meu marido, concordando com a cabeça enquanto terminava o suco. Eu não entendia nada das anotações, mas Igor se mostrava tão determinado a participar de cada momento da gravidez, que Augusto era provavelmente a criança mais sortuda do mundo.
— Te vejo daqui a pouco, caçadora — Igor disse ao me beijar — E você também — completou ao se despedir da minha barriga. — Magali, cuide da casa.
Sorri para seu entrosamento com nossa caramelo, inicialmente de porte pequeno e que recentemente descobrirmos ser uma Golden. Yasmin tinha se mostrado surpresa com a revelação.
— Seu papai está muito ansioso, crianças — disse quando já estávamos sozinhos, pronta para mais uma ida ao banheiro e depois descansar no sofá.
O quarto de nosso filho tinha sido pintado no dia anterior e tanto meu pai como Igor mantinham uma programação na elaboração dos móveis. Eu havia sugerido comprarmos, mas meu marido garantiu que era importante se concentrar na carpintaria, justificando que seriam móveis para toda prole.
Senhor Guilherme tinha se prontificado especialmente após a mudança de Thamara para Goiânia. Eu sabia que meu pai ficaria preocupado com nossa futura matemática longe de casa, mas eu havia apoiado essa decisão de minha irmã, reconhecendo que ela precisava de independência.
— Vamos para uma história? — olhei para Magali deitada em seu lugar no sofá, e acariciei minha barriga aproveitando o chute de Augusto.
O livro criado por minha mãe contava com histórias baseadas em música sertaneja raiz, folheei as páginas com desenhos e fotos, sempre me sentia um pouco emotiva. De todos os presentes esse era um dos especiais, principalmente ao entender que um dia iria repassar aos meus netos e assim sucessivamente.
— Certo dia o menino já com seus cinco anos acordou feliz e empolgado, pois na casa grande onde morava com papai, mamãe e os irmãos, faria suas primeiras tarefas no reino encantado. Da janela viu o irmão mais velho ocupado apartando os bezerros para um cercado, o forno de lenha bem acesso ocupado com os quitutes de mamãe, o pai já estava ocupado na lavoura com uma colheita de muita fartura a espera. Sem delongas, o menino correu para fora de roupa a caráter: calça, botinas, camisa e chapéu; pegou a espiga de milho e se mostrou concentrado na tarefa de debulhar e jogar no chão, vez ou outra um pouco medroso de uma bicada das galinhas famintas. Se terminasse a tarefa rapidamente ia poder brincar no grande mangueirão.
Interrompi a leitura com um suspiro:
— Em Leotie você também vai ter um grande mangueirão para brincar, Augusto, tem um balanço que fez parte da infância do papai e da mamãe. Nós temos tanto pra te mostrar, meu filho. Você é muito amado e estamos contando cada dia para te conhecer. Espero que seja tão lindo como seu papai, ainda mais se vier com as mesmas sardas no nariz.
Diante todas essas realizações eu ainda me sentia preocupada, como se tudo fosse desaparecer no dia seguinte. Fechei os olhos com força e respirei fundo.
— É melhor nos arrumarmos antes que sua tia apareça.
Com um pequeno atraso Yasmin me levou a faculdade, no entanto, eu não estava tão focada na discussão sobre Deontologia jurídica. Em pequenos intervalos conferia a hora e tive que refrear o tamborilar dos dedos em algumas circunstâncias. Eu ainda precisava reagendar a orientação do trabalho de conclusão de curso.

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Em Um Som
RomanceCarolina Moura Souza assoprou sua vela de quarenta e cinco anos. Ela detestava envelhecer, detestava ser descrita como a filha mais velha e serena, principalmente quando sentia dentro de si um vulcão escondido. E esse era o problema; a mata ao red...