Capítulo seis

106 15 4
                                        

— Aí eu falei pro meu compadre, moço, não vai inventar de ir pescar por esses dias. Fica de olho que sua mulher tá doida para arrumar um motivo e te botar pra fora.

Voltei com uma taça e mais dois convidados, estávamos no espaço gourmet do condomínio de Silvio, os principais amigos de Amanda envolvidos em nossa pequena comemoração por sua aprovação para Relações Públicas. A iniciativa de meu namorado em se envolver com meus filhos tinha gerado algumas reuniões de família, especialmente com Augusto.

Meu filho de vinte e um anos queria entender seus papéis com essa nova pessoa em minha vida, mas tudo que eu poderia garantir era que Silvio e eu tínhamos uma relação,  não uma responsabilidade com eles. 

Não era uma substituição paterna ou alguém com voz para decisões sobre meus filhos. O que eu gostaria era que mantivessem uma boa convivência.

— Como você está? 

Sorri para Yasmin, continuando a montar a tábua com frios:

— Eu já esperava que meus filhos saíssem de casa, é algo natural, todo mundo precisa de liberdade e autonomia.

— Agora me sinto pior eu detestei a escolha da ruivinha.

Fiz uma careta para minha cunhada:

— Igor e eu tínhamos um acordo sobre a herança das crianças, bom, eles completaram dezoito anos e confio na responsabilidade financeira deles. Eu criei essas criaturas, não é possível! 

— A nossa princesa vai ter sua própria casa, Carolina! Ela já tem um namorado.

Mordi uma azeitona, dando de ombros:

— Não é diferente da gente, nós também tivemos nossos namorados de dezoito anos.

Yasmin apoiou os cotovelos na bancada, inclinando o corpo para frente:

— Você inclusive se casou com ele, né.

Umedeci os lábios, adotando uma expressão pensativa, porque eu estava conferindo a lista:

— Não,  teve o Vinícius antes, lembra de aparelho, voz fanhosa.

Ela apontou para mim depois de estalar os dedos:

— O cabelo propaganda de condicionador?

— Esse mesmo, Yasmin, lembra que ele levou um amigo na viagem para Serra e você colocou na cabeça que ia ficar com esse menino? — continuei o assunto,  pegando outra travessa — Sei que você ficou muito chateada porque antes de terminar a viagem nós voltamos.

— Mas, também né, o vô Álvaro deu aquele susto na gente.

— Meu avô — apontei para mim com o palito.

— Nosso avô — ela revidou, roubando os palitos de mim e começando a me ajudar — Sou quase uma legítima Moura também.

— Você é só uma carrapata enjoada! — desdenhei jogando um pedaço de queijo nela.

— Mas, voltando para Amanda tem certeza que é bom ela ir morar sozinha agora que vai começar a faculdade? Até o Gus ficou com vocês por dois anos.

— Ah, ela e a Lara estão focadas nesse objetivo há tanto tempo que se voltassem atrás agora aí que me preocuparia — afirmei, servindo mais vinho — O apartamento também é pertinho.

— Hum, então vai ser uma emancipação ilusória?

— Que isso, Yasmin?

— Uai, as meninas vão ter uma casa para pagar as contas, mas a comidinha, roupinha passada e cuidados vão tudo recorrer a você.

Em Um SomOnde histórias criam vida. Descubra agora