Empurrei o balanço para trás e acompanhei a risada de Augusto, era sempre uma revelação diária, seu reconhecimento do próprio corpo, sua independência para conhecer o ambiente, sua felicidade quando via Magali e sua inegável confiança.
— Que lindo mamãe! — mantive o braço a sua volta, mantendo o ritmo do balanço.
Os pés que chutaram e muito minhas costelas se moviam com afinco sobre minhas coxas.
— Cadê meu pequeno cowboy? — Igor surgiu da varanda, gritando.
Era fascinante observá-los. Augusto parou de sorrir, olhando para todo lado em busca do pai, que continuava chamando-o.
— É, o papai continua brincando com você meu amor.
Logo um bico se formou e em uma contagem de cinco meu filho romperia em choro. A dificuldade em não reconhecer a noção de permanência, comum no desenvolvimento, gerava algumas manhãs e birras. Era difícil ir para aula e deixá-lo em Leotie.
Aos seis meses estávamos percorrendo o caminho da introdução alimentar e era Igor quem se empolgava com o experimento e consequentemente bagunça.
— Oh, papai! — meu marido se abaixou e abriu os braços para o ruivinho choroso.
— Qual é o cardápio para o lanche? — perguntei, levantando e beijando as costas de Augusto.
Igor me encarou, deslizando os olhos sobre mim:
— Oi, esposa.
— Oi, marido — brinquei — Gostou do meu novo vestido?
— Sim.
— Feliz aniversário de namoro.
Igor trocou nosso filho de braço e com uma das mãos tampou seus ouvidos:
— Por favor, me diga que você é meu presente, caçadora?!
Movimentei a cabeça em afirmativa. Eu tinha passado por um curto processo para aceitar meu corpo após o parto, desde a cicatriz da cesariana e estrias. Novamente Igor tinha me incentivado a manter a prática de algum esporte e assim que autorizado eu havia voltado a praticar a prova três tambores.
— Meus pais se prontificaram a ficar com Augusto e Magali por algumas horas.
***
Continuei acariciando os cabelos de Igor, estávamos terminando o filme A felicidade não se compra, a garrafa de vinho praticamente vazia ao lado da tábua de frios, eu estava confortável em uma de suas camisas do seu favorito time de futebol.
— O que se passa em sua mente, caçadora?
Apertei os lábios diante a pergunta e lutei contra a vontade de encostar a mão no rosto. Eu poderia responder que eram os lençóis bagunçados no quarto, ou o vidro de sabonete líquido que esquecemos aberto no banheiro ou a sensação de pressão ainda em meus lábios e a pele sensível por onde sua barba percorreu. Enfim, existiam muitas possíveis respostas.
— Carolina.
— Hum.
— Vai me amar mesmo quando eu não funcionar?
Franzi o cenho, o que ele queria dizer com funcionar?
— Igor Ferreira, você é muito ridículo! Eu não acredito que está preocupado com isso.
— Pensa bem, eu sou mais velho que você — ele continuou, deitando de barriga para cima — Uma hora isso pode influenciar nosso casamento.
— Calado!
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Em Um Som
RomantizmCarolina Moura Souza assoprou sua vela de quarenta e cinco anos. Ela detestava envelhecer, detestava ser descrita como a filha mais velha e serena, principalmente quando sentia dentro de si um vulcão escondido. E esse era o problema; a mata ao red...