Capítulo doze

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Empurrei o balanço para trás e acompanhei a risada de Augusto, era sempre uma revelação diária, seu reconhecimento do próprio corpo, sua independência para conhecer o ambiente, sua felicidade quando via Magali e sua inegável confiança.

— Que lindo mamãe! — mantive o braço a sua volta, mantendo o ritmo do balanço.

Os pés que chutaram e muito minhas costelas se moviam com afinco sobre minhas coxas.

— Cadê meu pequeno cowboy? — Igor surgiu da varanda, gritando.

Era fascinante observá-los. Augusto parou de sorrir, olhando para todo lado em busca do pai, que continuava chamando-o.

— É, o papai continua brincando com você meu amor.

Logo um bico se formou e em uma contagem de cinco meu filho romperia em choro. A dificuldade em não reconhecer a noção de permanência, comum no desenvolvimento, gerava algumas manhãs e birras.  Era difícil ir para aula e deixá-lo em Leotie.

Aos seis meses estávamos percorrendo o caminho da introdução alimentar e era Igor quem se empolgava com o experimento e consequentemente bagunça.

— Oh, papai! — meu marido se abaixou e abriu os braços para o ruivinho choroso.

— Qual é o cardápio para o lanche? — perguntei, levantando e beijando as costas de Augusto.

Igor me encarou, deslizando os olhos sobre mim:

— Oi, esposa.

— Oi, marido — brinquei — Gostou do meu novo vestido?

— Sim.

— Feliz aniversário de namoro.

Igor trocou nosso filho de braço e com uma das mãos tampou seus ouvidos:

— Por favor, me diga que você é meu presente, caçadora?!

Movimentei a cabeça em afirmativa.  Eu tinha passado por um curto processo para aceitar meu corpo após o parto, desde a cicatriz da cesariana e estrias. Novamente Igor tinha me incentivado a manter a prática de algum esporte e assim que autorizado eu havia voltado a praticar a prova três tambores.

— Meus pais se prontificaram a ficar com Augusto e Magali por algumas horas.

***

Continuei acariciando os cabelos de Igor, estávamos terminando o filme A felicidade não se compra, a garrafa de vinho praticamente vazia ao lado da tábua de frios, eu estava confortável em uma de suas camisas do seu favorito time de futebol.

— O que se passa em sua mente, caçadora?

Apertei os lábios diante a pergunta e lutei contra a vontade de encostar a mão no rosto. Eu poderia responder que eram os lençóis bagunçados no quarto, ou o vidro de sabonete líquido que esquecemos aberto no banheiro ou a sensação de pressão ainda em meus lábios e a pele sensível por onde sua barba percorreu. Enfim, existiam muitas possíveis respostas.

— Carolina.

— Hum.

— Vai me amar mesmo quando eu não funcionar?

Franzi o cenho, o que ele queria dizer com funcionar?

— Igor Ferreira, você é muito ridículo! Eu não acredito que está preocupado com isso.

— Pensa bem, eu sou mais velho que você — ele continuou, deitando de barriga para cima — Uma hora isso pode influenciar nosso casamento.

— Calado!

Em Um SomOnde histórias criam vida. Descubra agora