Capítulo vinte

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Meus pais, irmão e namorado, além da maior parte de funcionários da fazenda passavam por mim e Luan em passos apressados, muito trabalho no campo e tinha um cuidado redobrado com o carregar e descarregar dos animais.

Com a certeza que minha clínica estava em boas mãos e os atendimentos seguiam com pontualidade, eu fiquei responsável pelo meu sobrinho.

— Tia Carol.

Sorri para Luan, me admirava o quanto ele cresceu nos últimos anos, as feições de criança, o jeito espoleta:

— Sim.

Mas, me preocupava o olhar de criança triste, um pouco desamparado.

— A minha mãe disse que vai morrer.

Engoli em seco, abandonando a escova que usava em Vulcão e me ajoelhei em frente ao meu sobrinho, o abraçando bem forte por alguns segundos. Se eu tivesse tal poder manteria Luan bem escondido de toda maldade do mundo naquele abraço.

— Sua mãe está enfrentando uma doença muito séria. Às vezes ela sente muita dor. Mas, Ana continua lutando para ficar saudável por você, Luan.

Meu sobrinho tentou sorrir.

— Eu vou ter que morar com o meu pai?

Franzi o cenho, incomodada com suas preocupações, também apavorada porque essa conversa me lembrava que uma vez meus filhos também se sentiram desolados:

— Não pensa nisso por enquanto. Vamos esperar a consulta médica da Ana.

José Pedro nos gritou, logo pediu que Luan buscasse suas coisas, estava na hora de voltar para cidade.

— Seu filho perguntou se vai mesmo morar com você. Acho que devem se ater a um cuidado melhor com o Luan com toda situação.

Meu irmão coçou a cabeça:

— Ana está mais debilitada dessa vez. Não tem como florear as coisas, Carolina.

Levantei minhas mãos, respirando fundo:

— Precisa mostrar segurança para o Luan — limitei a falar, ainda que a expressão de José Pedro não evidenciasse se estava mesmo prestando atenção — Fala com uma psicóloga especialista, olha se precisar de ajuda eu estou aqui, mas fala com a Ana.

— Vai dar certo, Carolina. Já aprendi da primeira vez, e eu estou aqui, certo pelo Luan.

Eu quis retrucar que não era a mim que precisava dizer isso, mas meu irmão caçula ainda não entendia o quão frágil era a situação.

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A fogueira acesa no centro da roda parecia que estivera ali por toda uma vida, embora tenhamos corrido com as horas para colocar os bancos improvisados dos troncos de árvores que seguiriam por mais algumas semanas. A melhor experiência da família Souza com detalhes partilhados do lado Moura.

Observei o grupo de violeiros, a maioria amigos de longa data de meus pais, e por um instante ofeguei ao recordar de quando eu era simplesmente uma menina correndo entre eles, segurando meu próprio violão que tinha praticamente meu tamanho.

Eu estava um pouco nostálgica.

— Você quer um casaco?

Encostei a Emanuel, seus braços envolta de mim como um caloroso casulo. 

— Não — alonguei minha resposta — Você faz um trabalho muito melhor, amor.

Encolhi e ri quando beijou meu pescoço.

Nossos filhos seguiam em outra viagem dessa vez em solo brasileiro, dando início as comemorações pela formatura de Augusto e a chegada das férias para os demais.

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