Apertei as alças da bolsa olhando para o prédio, a tranquilidade e as pessoas seguindo suas rotinas se contradiziam de todos os sentimentos que eu vivia naquele momento. Mordi o lábio encarando por alguns instantes manchas na calçada que vagamente eram lavadas, cumprimentei o porteiro e segui ao apartamento.
Eu não precisei da chave de Amanda para entrar, mas senti apreensão ao invadir o espaço. Os últimos acontecimentos ainda gritavam que meus filhos continuavam em perigo.
— Oi.
— Oi — repeti para Emanuel que mantinha uma bolsa parcialmente aberta e empurrava peças de roupas na pressa de fechar o zíper.
— Como eles estão?
Esfreguei a cabeça, olhando a decoração da sala com várias fotos, um violão em cima do sofá e o aroma do aromatizador preferido de Amanda. Puxei o ar e apenas balancei a cabeça, sentindo meus olhos com lágrimas que recusava derramar; o pavor de desabar e perder o controle.
— Carolina? — Emanuel deixou a bolsa no chão e tentou se aproximou.
— Eu estou bem.
— Não é o que parece — ele revidou, mas interrompeu os passos.
Dei de ombros:
— Eu desliguei meu celular nas últimas horas porque todo mundo ficou ligando, repetindo perguntas as quais eu não consigo responder — aproximei do sofá — Nunca imaginei que fosse acontecer algo assim na minha vida. Minha filha está com medo de voltar pro lar que ela idealizou e meu filho está repetindo um depoimento numa maca.
Emanuel sentou ao meu lado, cruzando as mãos, a cabeça abaixada.
Eu reconhecia essa expressão de derrota, era possível entender suas emoções também. Não queria reviver as interrogações, no entanto, se destacavam e invadiam nossas bocas como ervas daninhas.
— Como eu não notei o que acontecia com minha filha? Quando eu silenciei o pedido de ajuda de Lara?
Nas últimas horas eu só tinha me concentrado no bem-estar dos meus filhos, abraçado Amanda e agradecido a Deus por não ter se aproximado da briga, permanecido acordada enquanto Augusto dormia sob efeitos das medicações, acompanhando cada respiração.
— Não foi sua culpa, Emanuel.
— O namorado da minha filha tentou matá-la! — ele disse com os dentes trincados — No depoimento ela contou sobre as várias surras. Minha filha apanhou de um crápula e eu não percebi? Minha filha sofreu e eu não fiz nada!
Apoiei a mão em suas costas, não tinha resposta, tampouco explicações já que em toda convivência eu só percebia um relacionamento como qualquer outro. Incrédula por tudo que se sucedeu. O quão errado estávamos!
— Com quem Lara está?
Emanuel suspirou, esfregando os olhos:
— Em Leotie.
Balancei a cabeça, tendo ciência que minha filha provavelmente estava novamente com a amiga.
— Eu não consigo me perdoar, Carolina, doeu tanto minha filha pedir desculpas quando foi a vítima.
Minhas mãos envolveram sua cintura em um abraço, foi cômodo e natural deitar minha cabeça em seu ombro, eu só poderia ouvir.
— Quando me ligaram eu pensei que fosse um péssimo trote, Lara e eu tínhamos almoçado durante toda a semana e tudo que conversamos foi sobre a melhor viagem da vida dela para conhecer um dos melhores serviços de equinos do Brasil - palavras dela — Emanuel fez uma pausa com um sorriso saudoso — Disse que tinha planos com Nico e a família, só acreditei no riso dela.
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Em Um Som
RomanceCarolina Moura Souza assoprou sua vela de quarenta e cinco anos. Ela detestava envelhecer, detestava ser descrita como a filha mais velha e serena, principalmente quando sentia dentro de si um vulcão escondido. E esse era o problema; a mata ao red...