Chapter 5

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Juliette Freire Feitosa

Percepção Oral.

Ok, talvez a aula fosse Percepção Aural. Que seja. Minha mente estava definitivamente uma bagunça quando me sentei no fundo, observando a professora Andrade falar sobre como diferentes pessoas ─ filósofos, compositores, médicos e adolescentes ─ enxergam o conceito de ouvir. Lembro-me dessa aula no meu primeiro ano de graduação.

Não sabia se havia amadurecido e se conseguiria aproveitar mais uma aula como essa aos vinte e cinco do que aos quase vinte e um. Pelo menos agora a professora era capaz de segurar a minha atenção completamente.

Enquanto eu estava ocupada ouvindo, o cara de gorro ao meu lado desenhava nudes. Tinha rascunhado uma página de corpos sem rosto que eram, na realidade, bem maravilhosos, mesmo que fossem um pouco sensuais e gráficos. Ele deu de ombros quando me pegou
olhando, sorriu e sussurrou:

─ Tenho que fazer alguma coisa enquanto essa mala cheia de si fica delirando.

Sarah não era uma professora que dava aula sentada. Ela andava pela sala e interagia com os alunos.

─ O ato de ouvir pode ser dividido em categorias: informativo, apreciativo, crítico, relativo, perceptivo e discriminativo. O método e o momento da transmissão podem afetar o que ouvimos. Me digam, onde escutam música, como ela é transmitida e quem foi o último
músico que ouviram?

Várias mãos se ergueram. Uma mulher à frente respondeu:
─ No trem, transmitida pelo meu iPhone e era Adele.

Um aluno respondeu:
─ Eu trabalho no Madison Square Garden, então ouço muita música transmitida ao vivo no trabalho. A última banda que ouvi se
aquecendo foi o Maroon 5.

Havia duas escadarias no auditório, uma de cada lado da extensa fileira de assentos. Eu estava sentada no topo, em um assento no
corredor ao lado da escadaria à esquerda.

Sarah subia alguns degraus de cada vez, atenta às respostas dos diferentes alunos
conforme andava.

Algumas fileiras à minha frente, um cara com barba comprida disse:
─ No caminhão. Trabalho no correio e ouço pelo USB. Ontem à noite foi um álbum antigo do Slayer.

Uma mulher do lado oposto das escadas informou:
─ No trabalho. Há um som ambiente no consultório médico em que trabalho como recepcionista. E é a mesma música instrumental o tempo todo.

─ Parece que a maioria das pessoas ouve música enquanto viaja ou trabalha. Alguém escuta música enquanto faz outra coisa?

Sarah subiu mais alguns degraus e parou dois abaixo de onde eu estava sentada, dando-me a desculpa perfeita para olhar para ela, sem deixar transparecer que a estava analisando.

Ele falava com outro aluno por perto, enquanto eu a secava.

Ela estava vestindo um colete escuro de botão por cima de uma camisa branca com textura. Eu não era exatamente uma fashionista, mas conhecia roupas caras quando as via e Sarah gastava mais com suas camisas do que eu com todo o meu guarda-roupa.

Ela era elegante, apesar de combinar a camisa e o colete com calças jeans e tênis pretos. Sua pele era branca e seu nariz era bonito. De perfil, era o mais perfeito que eu já tinha visto. De lado, seus cílios pretos eram magníficos. Qualquer mulher pagaria uma fortuna pela luxúria que emoldurava aqueles olhos verdes. Estava perdida em pensamentos quando percebi que agora ela estava olhando para mim. Sarah apertou os olhos, e vi um fundo de diversão neles, embora não estivesse sorrindo.

Quando subiu mais um degrau, tentei parecer indiferente, como se não tivesse ficado adorando os seus ancestrais e olhei para a frente ─ só para perceber que agora estava perfeitamente alinhada para encarar bem o meio de suas pernas. Tentei olhar para outro lugar, mas tinha... tinha alguma coisa no bolso dela... ou...? Pelo contorno, eu tinha quase certeza de que não era alguma coisa. Ou na verdade era alguma coisa ─ algo bem impressionante.

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