Chapter 11

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Juliette Freire Feitosa

Sarah dirigia um Porsche com câmbio manual e um pouco antigo, que estava me ticulosamente conservado. Não sei nada sobre carros, mas desconfio que era um clássico e que deveria custar mais do que um
novo. Parecia combinar com ela ─ caro, mas sexy e discreto.

Nunca fiquei tão feliz por estar parada no trânsito. Sarah tinha que mudar as marchas constantemente e algo no modo como a sua mão segurava o câmbio mexia comigo. Sem falar no seu antebraço... e aquela maldita veia. Que Deus me ajudasse. Eu ainda a estava achando uma veia atraente.

Sarah me viu observando-a.

─ Sabe dirigir um carro manual?

─ Não. Eu tentei uma vez e acabei machucando o nariz.

As sobrancelhas dela se uniram.

─ Machucou o nariz?

─ O carro morria toda hora e ficava dando trancos. Na quinta ou sexta vez, eu estava soltando a embreagem, começando a andar, e
os malditos pneus cantaram e pararam de repente. Eu fui jogada para a frente e bati no volante. Achei que tivesse quebrado o nariz.

Sarah deu risada.

─ Talvez você seja um pouco estressada demais para dirigir um carro manual.

─ Eu? Você é mais estressada do que eu.

Ela me olhou de lado.

─ Esqueceu de como nos conhecemos?

─ Aquilo foi diferente. Pensei que tivesse magoado minha amiga.

─ Então, em vez de verificar se eu era a pessoa que você pensava, me atacou. Você é estressadinha.

Minha primeira reação foi começar a discutir com ela, o que me fez perceber que,agindo assim, eu apenas provaria que ela estava certa.

─ Talvez você tenha um pouco de razão.

─ Só um pouco.

─ Sabe, foi por isso que me interessei por terapia musical. Enquanto crescia, aprendi a usar a música para relaxar.

─ Você estava ouvindo música quando tentou dirigir um carro manual?

Tentei me lembrar.

─ Sabe de uma coisa? Não. Eu estava nervosa e não queria ser distraída, então desliguei o rádio.

─ Talvez devesse ter deixado ligado.

─ Humm... Nunca pensei nisso. Talvez você devesse me deixar dirigir o seu e ver se isso funciona.

Sarah riu.

─ Eu gosto demais do meu carro.

O trajeto até Umberto, em Nova Jersey, normalmente demorava uns quarenta e cinco minutos nas manhãs de domingo, mas naquele
dia parecia que seria uma hora e meia. Na Ponte George Washington, havia apenas uma faixa liberada, e demoramos para cruzá-la. Assim que o trânsito melhorou do outro lado, começamos a conversar sobre a minha pesquisa.

─ Me conte sobre Umberto.

─ Bom, sei que leu o básico em meu resumo.
Ele tem setenta e três anos, está no sexto ou sétimo estágio do Alzheimer, que é o último, e
morou a vida inteira, desde pequeno, na mesma casa, onde inclusive abriu sua clínica médica. Ele era um clínico-geral que ainda atendia em casa até dez anos atrás. É casado com Lydia há cinquenta e um anos e ela o visita todos os dias.Eles têm um filho que mora na
Costa Oeste e os visita algumas vezes ao ano. Na maioria dos dias, Umberto não se lembra mais de Lydia. Ele passou por um período de
dois anos de depressão e encontrou felicidade com outra paciente, Carol. Às vezes, Umberto e Carol se sentam e dão as mãos enquanto Lydia o visita. Nunca vi um amor tão forte quanto o que sua esposa tem por ele. O homem com quem ela passou a vida inteira pensa que
está apaixonado por outra mulher e ela está feliz por ele. É a coisa mais altruísta que já vi. Ela quer realmente que ele seja feliz, mesmo
que encontre essa felicidade em outra pessoa.

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