Juliette Freire Feitosa
Sarah dirigia um Porsche com câmbio manual e um pouco antigo, que estava me ticulosamente conservado. Não sei nada sobre carros, mas desconfio que era um clássico e que deveria custar mais do que um
novo. Parecia combinar com ela ─ caro, mas sexy e discreto.Nunca fiquei tão feliz por estar parada no trânsito. Sarah tinha que mudar as marchas constantemente e algo no modo como a sua mão segurava o câmbio mexia comigo. Sem falar no seu antebraço... e aquela maldita veia. Que Deus me ajudasse. Eu ainda a estava achando uma veia atraente.
Sarah me viu observando-a.
─ Sabe dirigir um carro manual?
─ Não. Eu tentei uma vez e acabei machucando o nariz.
As sobrancelhas dela se uniram.
─ Machucou o nariz?
─ O carro morria toda hora e ficava dando trancos. Na quinta ou sexta vez, eu estava soltando a embreagem, começando a andar, e
os malditos pneus cantaram e pararam de repente. Eu fui jogada para a frente e bati no volante. Achei que tivesse quebrado o nariz.Sarah deu risada.
─ Talvez você seja um pouco estressada demais para dirigir um carro manual.
─ Eu? Você é mais estressada do que eu.
Ela me olhou de lado.
─ Esqueceu de como nos conhecemos?
─ Aquilo foi diferente. Pensei que tivesse magoado minha amiga.
─ Então, em vez de verificar se eu era a pessoa que você pensava, me atacou. Você é estressadinha.
Minha primeira reação foi começar a discutir com ela, o que me fez perceber que,agindo assim, eu apenas provaria que ela estava certa.
─ Talvez você tenha um pouco de razão.
─ Só um pouco.
─ Sabe, foi por isso que me interessei por terapia musical. Enquanto crescia, aprendi a usar a música para relaxar.
─ Você estava ouvindo música quando tentou dirigir um carro manual?
Tentei me lembrar.
─ Sabe de uma coisa? Não. Eu estava nervosa e não queria ser distraída, então desliguei o rádio.
─ Talvez devesse ter deixado ligado.
─ Humm... Nunca pensei nisso. Talvez você devesse me deixar dirigir o seu e ver se isso funciona.
Sarah riu.
─ Eu gosto demais do meu carro.
O trajeto até Umberto, em Nova Jersey, normalmente demorava uns quarenta e cinco minutos nas manhãs de domingo, mas naquele
dia parecia que seria uma hora e meia. Na Ponte George Washington, havia apenas uma faixa liberada, e demoramos para cruzá-la. Assim que o trânsito melhorou do outro lado, começamos a conversar sobre a minha pesquisa.─ Me conte sobre Umberto.
─ Bom, sei que leu o básico em meu resumo.
Ele tem setenta e três anos, está no sexto ou sétimo estágio do Alzheimer, que é o último, e
morou a vida inteira, desde pequeno, na mesma casa, onde inclusive abriu sua clínica médica. Ele era um clínico-geral que ainda atendia em casa até dez anos atrás. É casado com Lydia há cinquenta e um anos e ela o visita todos os dias.Eles têm um filho que mora na
Costa Oeste e os visita algumas vezes ao ano. Na maioria dos dias, Umberto não se lembra mais de Lydia. Ele passou por um período de
dois anos de depressão e encontrou felicidade com outra paciente, Carol. Às vezes, Umberto e Carol se sentam e dão as mãos enquanto Lydia o visita. Nunca vi um amor tão forte quanto o que sua esposa tem por ele. O homem com quem ela passou a vida inteira pensa que
está apaixonado por outra mulher e ela está feliz por ele. É a coisa mais altruísta que já vi. Ela quer realmente que ele seja feliz, mesmo
que encontre essa felicidade em outra pessoa.
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Encontre uma moeda - Versão sariette
RomanceEncarei a canalha que enganou minha melhor amiga, do outro lado do bar. Despejei meus xingamentos em cima dela e, ao final, percebi o grande equívoco. Ela entendeu como um flerte! Com vergonha, saí sem me desculpar e achei que jamais a veria novame...