Juliette Freire Feitosa
Eu não estava atrasada. Estava extremamente atrasada.
Também precisava de um banho, um mecânico, uma garrafa de vinho e, bem possivelmente, de um novo emprego ─ não
necessariamente nessa ordem. E pensar que eu estava meia hora adiantada, a apenas quatro quarteirões da faculdade. Tinha bastante
tempo para encontrar uma vaga no estacionamento e ainda chegar quinze minutos antes do horário marcado com a Professora
Pontualidade e mostrar-lhe que eu conseguia chegar na hora.Mas então... uma explosão. Um bum alto seguido de um longo whoosh. Tentei ignorar e continuei dirigindo, mas, num certo momento, a repetitiva engasgada para a direita do meu carro me obrigou a parar.
Era um saco. Mas eu tinha tempo e o Philip, meu ex-colega de quarto, ex-qualquer coisa que tenha sido por um tempinho, me ensinou a trocar pneu. Tudo estava bem... no começo.
Tirei o macaco, ergui o carro como uma profissional e comecei a trabalhar no pneu furado. Tudo estava fluindo bem até eu chegar no último parafuso. O maldito estava travado. Realmente travado.
Em certo momento, já que o parafuso estava na parte de cima, coloquei a chave inglesa nele e usei o pé para tentar ceder ─ mesmo assim,
nem se mexeu. Então, tive a brilhante ideia de que talvez devesse colocar todo o meu peso nela. Assim, pulei na alavanca que a chave
fazia, torcendo para que a força repentina soltasse o maldito parafuso.Mas, em vez disso, a chave inglesa escorregou e, de algum jeito, quicou e voltou, me acertando direto na canela.
Agora eu estava vinte minutos atrasada, minha perna estava me matando e eu tinha acabado de chegar mancando à escola no calor de trinta graus, cheirando a graxa. Minha única esperança era de que, talvez, a professora Andrade também tivesse tido um pneu furado e estivesse atrasada. Era uma chance remota, mas eu precisava acreditar em alguma coisa para não ter uma síncope ao andar apressada pelos corredores.
Quando cheguei ao auditório, dei uma olhada antes de abrir a porta. Claro que a professora Andrade estava sentada à sua mesa.
Respirei fundo e entrei para enfrentar a ira.
─ Antes que diga qualquer coisa, eu estava meia hora adiantada. Juro!
Ela estava escrevendo em um planner e, quando ergueu a cabeça, eu a vi usando óculos pela primeira vez. Droga. Eles a deixavam
ainda mais sexy. Eu era louca de achar até sua cara de brava linda?─ E o que aconteceu hoje, Srta. Freire? Você se distraiu no momento entre estacionar em local proibido meia hora atrás e encontrar a minha sala de aula? Parou para brincar na terra, talvez?
─ O quê?
Ela me olhou de cima a baixo.
─ Você está com o rosto e as roupas cobertos de terra.
Ergui a mão até o rosto, e comecei a esfregar a bochecha.
─ Oh. Isso não é terra. É graxa.
─ Isso melhora muito a situação.
─ Meu pneu furou no meio do caminho. ─ Não fazia ideia de onde meu rosto estava sujo, mas estava nervosa e esfregava lugares
aleatórios enquanto falava. ─ O parafuso estava travado, e não conseguia tirar. Tentei...─ Srta. Freire ─ ela interrompeu. ─ Pare de fazer isso.
─ Mas é verdade. Realmente tentei chegar aqui cedo. Calculei todo um tempo extra e então, bum, um pneu furado. Não foi minha culpa
dessa vez.─ Não estava me referindo à sua história elaborada. Pare de esfregar o rosto. Olhe para as suas mãos.
Verifiquei a palma das mãos. Merda. Estava cheia de graxa.
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Encontre uma moeda - Versão sariette
Roman d'amourEncarei a canalha que enganou minha melhor amiga, do outro lado do bar. Despejei meus xingamentos em cima dela e, ao final, percebi o grande equívoco. Ela entendeu como um flerte! Com vergonha, saí sem me desculpar e achei que jamais a veria novame...