Chapter 35

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Juliette Freire Feitosa

─ Oi.

Sarah estava olhando de um modo engraçado para mim, como se não estivesse realmente me vendo, embora olhasse diretamente para mim.

─ Sarah?

Ela piscou algumas vezes.

─ Desculpe. Você está linda!

─ Obrigada.

Dei um passo para o lado para que ela entrasse, notando que ela não tinha se inclinado para me dar um beijo.

Tentei ignorar, mas isso elevou o meu nervosismo para um nível que beirava pânico total.

Sarah entrou e as coisas ficaram ainda mais bizarras ─ pior que um encontro às cegas. Eu estava parada em um cômodo onde aquela mulher tinha feito café da manhã recentemente para mim e, mesmo assim, ela parecia uma completa estranha.

─ Como está se sentindo? ─ tentei começar uma conversa.

─ Melhor. Obrigada. Desculpe pela forma como saí apressada do apartamento da sua irmã e deixei que ela te levasse para casa.

─ Está tudo bem. Eu entendo. Você não estava se sentindo bem.

Sarah assentiu e enfiou as mãos nos bolsos.

Depois de outro minuto de silêncio bizarro, ela pigarreou.

─ Olha, Juliette, precisamos conversar.

─ Ok. Por que não nos sentamos? Posso pegar alguma coisa para você beber?

─ Não, obrigada. Estou bem.

Ela me seguiu para a sala. Sentei em uma ponta do sofá, o que deixou bastante espaço vazio para ela se juntar a mim. Mas ela escolheu se sentar na cadeira ao lado.

Sarah olhou para os pés, depois passou uma mão pelo cabelo. Embora ela ficasse muito linda com aquele visual despenteado, tive a sensação de que estava fazendo muito isso nos últimos dias, e não tinha nada a ver com estilo.

Ela expirou alto antes de começar a falar.

─ Não posso começar um relacionamento com mentiras.

Ai, caramba. Minha mentirinha sobre Benny havia ficado bem pequenininha no fundo da minha mente, desde a minha última conversa com Lara sobre o que estava acontecendo com Sarah.

Fiquei enjoada. Mas me recusava a deixar que aquele homem horrível tirasse mais alguma coisa de mim.

─ Desculpe por ter mentido. É só que... não é fácil, para mim, falar sobre isso.

Sarah tentou falar, mas a interrompi, entrando na minha divagação comum de nervoso.

─ Eu disse que não tive um padrasto porque queria não ter tido um. Tento fingir que ele nunca existiu. Não era um cara legal. Ele começou a abusar de mim e de minha irmã assim que minha mãe morreu.

Sarah tensionou a mandíbula.

─ Ele abusava de você?

Assenti e olhei para baixo.

─ Não era do mesmo jeito comigo e com minha irmã. Ele... ─ Mesmo quinze anos depois, eu mal conseguia dizer as palavras. ─ ... ele abusava sexualmente da minha irmã. Mas eu era muito nova.

─ Então ele não tocava em você?

Balancei a cabeça.

─ Não da mesma forma que tocava minha irmã.

Encontre uma moeda - Versão sarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora