Encontre Uma Moeda III

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Sarah Carolline Vieira de Andrade

Eu estava mentindo.

Só que desta vez estava mentindo para mim mesma também. O chefe do departamento me mandou um e-mail pedindo que eu fizesse um relatório com minhas observações sobre o projeto de Juliette para passar para outros professores e ajudá-la na solicitação de um novo orientador.

Estive enrolando para lhe dar uma chance de reconsiderar e agora estava usando isso como motivo para vê-la ─ fingindo que precisava entregar o relatório rapidamente quando, na
verdade, não tinha intenção de fazê-lo.

As férias de meio de semestre tinham começado e seis dias sem ver Juliette eram o máximo que eu conseguia aguentar. Se alguém soubesse a que recurso apelei, pensaria que eu tinha ficado louca ─ e talvez estivesse certo, mas eu não dava a mínima após seis dias.

Na revista Rolling Stone daquele mês havia um daqueles testes pelos quais Juliette era obcecada.

Havia visto enquanto a folheava há duas semanas e colocado de lado para que ela pudesse responder.

Ao sentir falta dela naquela manhã, talvez tenha respondido eu mesma.

O que sua música diz sobre sua vida amorosa?Fazia uma série de perguntas baseadas em quais músicas você mais se identificava.

Quando somei os pontos, a predição dada ao meu futuro era, é claro, totalmente errada.

Curiosa, li as outras predições de qualquer forma.

Uma me chamou atenção, só que eu não tinha somado entre 52 e 68 pontos. Aquela resposta em particular só poderia ter sido mais perfeita para Juliette ler hoje se eu mesma tivesse criado aquele teste. Lia-se:

Você já encontrou seu destino! Embora talvez não saiba. Você é uma alma antiga que se conecta com pessoas em um nível cósmico. Confiança pode ser problema para você e que costuma evitar relacionamentos porque segue sua cabeça, e não sua intuição, às vezes de maneira cega. Quando apaixonada, às vezes precisa jogar fora a cautela e mergulhar de cabeça. Você conhece sua alma gêmea há muito tempo, mas apenas recentemente percebeu que era para ser. Pare de lutar e alimente sua alma.

O teste era uma série de quinze perguntas. Eu o refiz, só que desta vez respondi como Juliette o faria. Bebendo um uísque com gelo, mexia o gelo no copo enquanto somava as respostas dela. Sua pontuação daria entre 40 e 43. Você ainda vai encontrar seu destino!

─ É. Não vai acontecer ─ resmunguei.

Bebendo o resto do uísque, vi que ela precisava de uma soma de dezoito a vinte pontos para se inserir seguramente onde deveria estar. Escolhi as quatro perguntas em que eu tinha mais certeza das respostas dela e alterei manualmente a classificação dos pontos para aumentar em cinco cada.

─ Bem melhor.

Porra, estou sentimental.

Joguei a revista na mesa e esfreguei as mãos no rosto. Que porra eu estava fazendo? Havia apelado para editar os quizzes de amor e respondê-los como Juliette. Eu precisava não beber um segundo drinque, ficar sóbria, tomar banho, vestir umas roupas limpas e ir até o O'Leary antes que começasse a ligar e desligar na cara dela só para ouvir sua voz.

Tomando coragem, foi exatamente o que, afinal, eu fiz. Decidi que não lhe mandaria uma mensagem antes de ir, para evitar que ela sugerisse que eu enviasse um e-mail com as coisas sem importância que eu estava fingindo serem importantes o suficiente para ela dar uma olhada.

O pensamento de que a veria logo me deixou com o humor melhor do que sentira nas últimas duas semanas. Assobiei junto com a música no trajeto de carro.

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