Chapter 14

641 101 22
                                    

Juliette Freire Feitosa

Sarah tinha me evitado com sucesso por quatro dias. Até hoje. Não haveria jeito de me ignorar agora, a não ser que faltasse à reunião
obrigatória, à qual auxiliares e professores tinham que comparecer.

Eu estava sentada sozinha no fundo do enorme auditório e havia um assento vago ao meu lado – não que eu o estivesse guardando para alguém em particular. Sarah ainda não tinha chegado. Cada vez que alguém entrava, meus olhos focavam na porta. Quando o chefe do
departamento de música sentou-se à frente da sala, preparando-se para começar, Sarah finalmente apareceu.

Ficou parada na porta, escaneando a sala com os olhos, até que eles chegaram em mim, o que a fez desviar o olhar rapidamente. Ela não poderia ter se sentado mais longe de mim.

Fiquei surpresa com o fato de seus cabelos não terem pegado fogo durante os quarenta e cinco minutos de reunião com a forma como os meus olhos queimavam a parte de trás de sua cabeça.

Quando terminou, fiquei sentada para ver se ela iria sair sem dizer uma única palavra.
Sarah se levantou e olhou para mim, mas em seguida uma mulher se juntou a ela para cumprimentá-la com um grande sorriso.

Ela usava um terno pink que gritava por atenção, mas, com exceção disso, era bem bonita ─ embora eu detestasse admitir. Já a tinha visto pelos corredores e sabia que era professora adjunta, mas não sabia seu nome.

A professora Pink também era exatamente o meu oposto: era artificialmente loira, com cabelo do tipo Marilyn Monroe, apenas alguns centímetros mais baixa que Sarah e seu terno, mesmo sendo de uma cor brega, com certeza era feito sob medida.

Ela tocava bastante na professora Andrade e havia uma familiaridade entre as duas, que se percebia pela forma como colocava as mãos nos braços dela enquanto falava. Depois da segunda ou terceira vez que ela jogou o cabelo para trás e riu, cansei de assistir. Levantei-me, segui até a porta, mas fiquei presa atrás de dois professores que conversavam e andavam mais devagar que tudo.

Sarah e a professora Pink estavam um pouco à minha frente na fila para sair da sala e ela fez questão de não olhar na minha direção.

Quando sua mão tocou a lombar dela, a fim de apressá-la para sair, percebi que eu era uma completa idiota. Obviamente, a professora
poderosa não tinha problema em confraternizar – a menos que fosse comigo.

Dane-se ela! Não conseguia acreditar no quanto ela era mentirosa.

Assim que saí do auditório, atravessei o corredor como um raio. Minhas pernas nunca me tiraram tão rápido do campus. Estava
irritada por pensar que seria possível Sarah estar interessada em mim e que talvez estivesse se contendo apenas por eu ser sua auxiliar.

Mais ainda, estava brava por ela fingir que esse era o caso. Os sinais que ela tinha dado na outra noite, durante o jantar, não foram frutos
da minha imaginação.

Quando estava quase saindo do prédio, parei de repente, fazendo um aluno trombar em mim.

─ Que porra é essa? ─ ele soltou.

─ Desculpe.

Comecei a andar de novo. Eu deveria sair dessa merda de prédio, mas eu me conhecia – algumas coisas me consumiam. Se eu não
tirasse isso do peito, ficaria um caco o dia todo.

Precisava desabafar um pouco com Sarah.

Dane-se.

Ao me virar, trombei com o mesmo aluno de novo.

─ Sério? ─ ele disse.

─ Jesus. Você vai sobreviver. Não ande tão perto das pessoas!

Segui em direção ao escritório de Sarah. Eu poderia perder o meu emprego por brigar com ela, mas, pelo menos, conseguiria dormir à noite. E daí que eu estaria admitindo ser estressadinha, como ela argumentou?

Encontre uma moeda - Versão sarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora