Chapter 7

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Sarah Carolline Andrade Vieira.
Quinze anos atrás

Olhando para cima, em direção à cruz, naquela sala minúscula e pouco iluminada, inalei, inspirando profundamente, até a ponta da
brasa vermelha consumir o fim do papel dobrado, queimando o meu polegar e o dedo indicador.

─ Você não pode pedir perdão por alguma merda enquanto está pecando de novo. É para se arrepender.

─ Demonstre um pouco de respeito com o seu linguajar. Estamos em uma igreja, por Deus!

Liam riu do outro lado do banco escuro.

─ É, tá bom. Você acabou de fumar maconha no confessionário e é meu linguajar que falta com respeito.

Ele tinha razão. E já que o meu cérebro meio cozido estava quase ficando totalmente bem passado, bati a cinza no chão e o guardei no
bolso que restava do cigarro enquanto ainda estava quente.

─ Tô vazando ─ Liam disse.

─ É para a gente trabalhar até o meio-dia.

─ Que se dane essa merda. Diga ao padre Frank que fui para casa bater uma, se ele me procurar.

A janela de madeira pela qual estávamos conversando, que dividia o confessionário e cobria a tela de confidencialidade, se fechou. A
porta fez o mesmo logo depois que Liam saiu.

Ainda restava meia hora para que eu fosse dispensada pelo padre Frank, então me ajeitei, encostando no tecido macio vermelho e
esperando tirar um cochilo. A cadeira do lado do padre era bem confortável, talvez porque eles ficavam horas escutando merda de outras pessoas todo sábado à tarde. Não tinha noção de como esses caras passavam a vida toda naquele lugar. Ficar ali nos últimos
sábados já foi suficiente para me deixar louca.

Três semanas antes, minha mãe havia flagrado Liam e eu matando aula de novo. Era o nosso último ano, minha mãe normalmente era
bem legal e os pais esperavam algumas faltas. Não foi isso que fez Abadia Andrade, temente a Deus, ficar desesperada.

Também não foi o fato de encontrar Julia Willis seminua e totalmente drogada de joelhos, prestes a me pagar um boquete no jardim, o que assustou minha mãe. Não.

O que a fez me inscrever involuntariamente por um mês para limpar a St. Killian aos sábados de manhã foi a minha música.

Meus pais detestavam que eu não tivesse a intenção de ir para a faculdade ou me tornar parte da empresa de investimento bem-sucedida e familiar que carregava o nome Jauregui.

Então, fui sentenciada a prestar serviços comunitários por querer tocar bateria e cantar.

Depois de uma longa conversa com o padre
Frank e minha mãe, ele também aproveitava toda chance que tinha para lembrar a mim e a Liam de que tocar música não era a forma
como alguém deveria construir a sua vida.

Graças a Deus, eu só tinha mais uma semana ali.

Havia pegado no sono quando a porta do confessionário fez um barulho ao ser aberta.

Achei que fosse Liam de novo.

─ Pecou de novo, loser? ─ eu disse.

Com toda certeza não foi Liam que respondeu.

A voz era baixinha e trêmula de nervoso quando ela falou:

─ Me abençoe, padre, porque eu pequei.

Merda.

Havia uma menininha do outro lado e ela achava que eu era o padre. Pelo som da sua voz, imaginei que não tivesse mais do que
dez ou onze anos. O que ela poderia ter para confessar?

Eu provavelmente deveria ter aberto a porta e saído antes dela começar a me contar seus segredos mais sombrios. Não, provavelmente não. Eu definitivamente deveria ter saído.

Mas... talvez fosse a maconha. Talvez fosse o som de sua voz trêmula que me deixou curiosa. Talvez eu apenas estivesse fodida da cabeça. Em vez de abrir a porta literalmente, acabei abrindo uma no sentido figurado. E isso mudaria minha vida para sempre.

─ Continue ─ disse a ela. ─ Me conte os seus pecados.

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