Chapter 28

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Sarah Carolline Andrade Vieira

Que porra foi aquela?

Fiquei andando de um lado para o outro desde que voltei do apartamento de Juliette, depois de deixá-la.

Ela sabia que havia alguma coisa errada, sabia que eu mentia quando disse que estava com um começo de enxaqueca. Nem tenho enxaquecas, mesmo assim, tinha quase certeza de que a pulsação em minha cabeça iria
iniciar uma.

Não podia ser coincidência.

Podia ser a porra de uma coincidência?

Passei as mãos pelo cabelo. Pense, Andrade, pense. Qual era o sobrenome do pai daquela garotinha?

Então, me lembrei do arquivo na gaveta da minha mesa. Ou talvez estivesse no armário do escritório, onde eu guardava coisas velhas da banda.

Tinha certeza de que havia guardado uma cópia do relatório policial. Só Deus sabe por que guardara aquilo depois dos meus pais terem pagado uma fortuna para que o incidente fosse apagado e garantido que os registros estivessem lacrados.

Destruí completamente os meus arquivos procurando por ele. Quando dei de cara com a página amarelada, parecia que o meu escritório tinha sido saqueado.

Nome da vítima: Benny Nelson

Nelson. Eu achava que ao descobrir que não era o sobrenome de Juliette ficaria aliviada, mas, em vez disso, só fiquei com mais perguntas.

A mãe da menininha havia morrido no ano anterior. Isso significava que ela teria uns nove ou dez anos quando a perdeu. A mesma época em que Juliette perdeu a mãe.

Porra.

Aquela sensação. Aquela maldita sensação que tive desde o dia em que a conheci. Eu sabia que a conhecia de algum lugar, mas não conseguia definir de onde. O que era aquilo que fazia me sentir daquela forma? Eu nunca tinha visto a menininha de perto ─ só um flash de um rosto de dez anos de idade do outro lado da igreja e através da treliça, há mais de quinze anos.

Nada era claro.

Porra.

Juliette tinha dito que foi criada por sua tia. Nunca mencionara um padrasto. Por outro lado, se o meu padrasto fosse um molestador de crianças, esse não seria exatamente um assunto do qual eu falaria durante um encontro.

Ignorando o vinho, peguei o uísque do armário e me servi uma dose dupla. Queimou a garganta quando desceu, mas foi bom, como se eu estivesse pegando fogo no momento.

Dei outro gole.

Juliette tinha dito que crescera em uma cidade longe de mim. Pleasantville é uma cidade minúscula, dá pra ir de St. Killian até lá com uma bicicleta azul e pequena.

Outro gole.

A garotinha tinha uma irmã mais velha.
Juliette tem uma irmã mais velha.

Os anos da adolescência em que ela saiu de controle...

Viver com aquele otário do Nelson com certeza deixaria alguém na merda, tentando esquecer.

Acabei com o resto da bebida e olhei para fora pela janela, tentando trazer a imagem da garotinha para minha mente. Mas foi há tanto tempo e estava muito distante.

Finalmente sentindo o álcool ser absorvido pelo meu sangue, deitei no sofá e descansei a cabeça no braço, olhando para o teto.

Como eu iria descobrir? Precisava saber. Eu não podia ser direta e simplesmente lhe perguntar: Me diga, você foi amiga de um padre quando criança? Um homem a quem você confiou todos os seus segredos? É... Era eu. Uma garota de dezesseis anos, drogada, que se entretinha escutando uma garotinha falar sobre sua vida de merda em casa. Aliás, você foi molestada quando criança? Ou foi só sua irmã?

Porra!

POOOORRA!

Joguei o copo vazio na janela. Felizmente, ele bateu no batente de madeira e se quebrou, minhas janelas de vidro que iam do chão até o
teto ficaram intactas.

Fechei os olhos e pensei mais um pouco.

Como vou descobrir?

Como vou descobrir?

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