03. Eu acordo, não consigo entender nada, grito e conheço o Jace do Paraguai

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“Estou acordando
Sinto isso em meus ossos
O suficiente para fazer meus sistemas explodirem
Bem-vindo à nova era”

Radioactive, Imagine Dragons

[ᚠ]

Acordar raramente foi um bom sentimento, ainda mais para mim, que, se pudesse, passava o dia todo dormindo.

Porém, depois daquele dia bizarro, eu juro que acordar foi bem doloroso. Fisicamente. 

Sério, minha cabeça estava pesada, eu sentia meus olhos fundos e estava tão cansada, parecia que um batalhão inteiro de um exército havia marchado por cima de mim. Fiz uma careta e funguei, minha garganta doía. Pigarrei, mas só senti-a ficar mais dolorida.

A luminosidade foi se estabilizando e eu pude ver que estava deitada numa das macas de uma espécie de hospital. Ele não parecia ser muito profissional, parecia muito mais uma enfermaria de acampamentos de colônia de férias de verão que eu via em filmes.

Sem mover a cabeça que ainda parecia pesar uma tonelada, fui passeando com os olhos, checando as camas vazias. Só parei ao localizar, ao que parecia, o único outro leito ocupado.

Nele repousava um rapaz de cabelos acinzentados, sua pele era tão branca que era quase do mesmo tom que seus fios. Também não tinha uma aparência nada saudável, dava a impressão de estar em estado de coma, além de muitos fios ligados aos seus braços alvos.

— Esse é o Ichiro. — Uma voz nova obrigou meus olhos a virarem para a direção contrária.

Um outro menino apareceu, aproximando-se de mim. Ele carregava uma maletinha de primeiros socorros branca, e, quando chegou até mim, colocou-a numa mesinha próxima ao meu leito.

Só então percebi que ele tinha falado em inglês comigo. Fiquei com um ponto de interrogação gigante no meio da testa.

Que diabos...?

— Ele está em coma desde... Hum... — Sacudiu a cabeça, fazendo seus cachinhos louros se agitarem. Suas sardas e os olhos azuis lhe davam a imagem de um anjo que tinha pegado sol. Espantei o pensamento, eu devia ter batido a cabeça com mais força do que eu tinha pensado. — Bem, não interessa agora. — Olhou de relance para o tal Ichiro e depois dirigiu um sorriso ensolarado para mim. — Como você se chama?

— Ah... Lis. — Me obriguei a sentar, ainda que minha cabeça doesse e uma azia estivesse me invadindo. Não estava mais aguentando ficar deitada. — Que... Que lugar é esse? Quem é você? O que aconteceu? Eu... Eu morri?

[Quem dera eu tivesse morrido naquela época. Eu não fazia ideia do que o destino guardava para mim.]

O garoto riu baixinho e pegou um copo que repousava perto da maleta que ele trouxera.

— Vamos com calma, sim? — Me estendeu o copo, que estava cheio até a metade de um líquido da cor de mel. — Tome.

As mãos um pouco trêmulas, peguei o recipiente e ergui uma sobrancelha, olhando o garoto.

— Isso é veneno, rapaz? — Semicerrei os olhos.

— O rapaz aqui se chama Will Solace e pede por favor que confie nele, já que é o melhor médico do Acampamento Meio-Sangue.

— Médico? Você deve ter no máximo uns dezessete anos.

— Se quiséssemos te matar já teríamos feito isso. Agora, beba, faz bem. — Levantou meu pulso, aproximando o copo do meu rosto. — E, para a sua informação, eu já...

Diário de Uma Semideusa em Crise [ᚠ] Conheça suas origensOnde histórias criam vida. Descubra agora