19. Eu faço a escolha mais inteligente e me sinto uma idiota

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"Esta é a nossa vez

Não se pode voltar atrás

Nós poderíamos viver, nós poderíamos viver como lendas!"

Live Like Legends, Ruelle

[]

Circe era bem convincente, eu não tive muita dúvida entre largar minhas armas ou ser morta.

[E isso não tinha nada a ver com seu poder de persuasão ou o fato de terem seis animais assassinos e famintos rosnando para mim, ok?]

Eu e meus amigos colocamos nossas armas no chão ao que ela ordenou, mas eu podia ver pelos cantos dos olhos que de indefesos eles não tinham nada, não me lembrava de tê-los visto com olhares tão ácidos quanto naquele momento.

— Muito bem, adoro heróis obedientes. — Circe entoou, sua voz era tão dócil que eu demorei uns instantes para perceber que ela estava usando o famoso charme... Céus, eu sabia que era mais fácil dobrar homens com esse poder, mas até eu me senti um bocado feliz pela falsa aprovação dela.

[Pensar que talvez Frank e Leo não pudessem me ajudar nos próximos acontecimentos me deixou tão inquieta e ansiosa que achei que fosse vomitar.]

Circe caminhou sem pressa alguma até nós, a única coisa que nos afastava dela eram seus animais enfeitiçados. A presença dela era perigosa ao passo que era agradável, como se parte de mim quisesse que ela chegasse ainda mais perto, mas a outra tivesse medo do que aquilo poderia causar.

Essa sensação só se multiplicou quando Circe pousou os olhos esverdeados em mim. Tive que me segurar muito para não me encolher. De novo.

— Finalmente, você chegou, Melissa. — Circe sorriu aberto. — Estava ansiosa para vê-la pessoalmente.

— Diga logo de uma vez o que você quer. — Ralhei, sem saber de onde tinha tirado coragem para dizer alguma coisa. — Não vai nos impedir de levar o espelho de volta...

Parei de falar quando Circe soltou uma risada. Mas que diabos...?

— Você acha que eu ligo para a droga desse espelho, Melissa? — Ela me olhou, erguendo as sobrancelhas.

— Ah... — Pigarreei. — Achava, até você dar essa risada sinistra e... Dizer isso aí. — Olhei para meus amigos, eles pareciam tão confusos quanto eu. Encarei a feiticeira de novo. — Se não queria o espelho, então, por que o roubou?

— Eu não o roubei, Melissa. — Ela disse, convicta. — Não, eu só precisava testar meu novo aliado. Saber até onde ele iria, se era mesmo fiel a mim... Você mais do que ninguém deve entender isso.

Não sabia onde ela queria chegar, mas Circe com certeza havia feito o dever de casa: ela dizer algo como aquilo eu duvidava que fosse só um blefe, com certeza havia dado um jeito de saber mais do meu passado. Aquilo tinha sido um golpe tão baixo...

— Como você...

— Isso não importa. — Ela me interrompeu. — Nada mais importa, Melissa. — Sorriu satisfeita. — Agora que você está aqui, vai poder me ajudar.

— Eu vou ajudar você, sua doida? — Eu ri incrédula. — E por que eu faria isso?

— Ah. — Juntou as duas mãos. — Eu fico tão feliz que tenha perguntado isso, minha querida. — Circe ergueu uma mão e, sem tirar os olhos de mim, falou alto: — Traga os dois, lindinho!

Olhei de relance em direção a Frank e Leo. Os dois me olharam de volta,sérios, pareciam curiosos como eu, mas nada hesitantes. Frank havia largado seu arco e aljavas, mas continuava em posição de combate, pronto para a luta. Leo também havia apagado as chamas dos braços, mas segurava com firmeza um objeto pequeno e cilíndrico. Eu já havia visto aquilo, mas não me lembrava com certeza...

Diário de Uma Semideusa em Crise [ᚠ] Conheça suas origensOnde histórias criam vida. Descubra agora