01. Eu mato aula e quase morro de frio na água

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“O que há de errado comigo? 
Por que estou me sentindo assim?
Estou enlouquecendo agora”

DISTURBIA, Rihanna

[ᚠ]

Confesso que ficar me segurando para não ir procurar onde meu amigo havia se enfiado durante as aulas, foi a coisa mais difícil que eu já tive que fazer em todos os meus dezesseis e ridículos anos de vida.

Adriana, na fileira ao meu lado, havia prestado atenção durante todos os períodos, e enquanto eu surtava internamente, ela copiava o que se achava escrito no quadro, calma e plena.

[Uma dádiva dos ninjas.]

Peguei o ônibus de volta para casa, a ansiedade se fazendo presente em mim em forma de embrulhos dentro do meu estômago.

Foi quando tudo começou a parecer que estava prestes a desmoronar.

Quando desci do transporte público, sem nenhuma explicação lógica ou racional, eu comecei a carregar a sensação — que é horrível, devo dizer — de estar sendo seguida. Aquilo me deixou cem vezes mais confusa do que antes. Cocei a cabeça.

Parada, em pé, na calçada, olhei para os lados. E então para trás.

Não havia ninguém.

Suspirei, fechei os olhos e sacudi minha cabeça, fazendo com que meus cabelos escuros sacudissem. Fiz meu melhor para afastar aqueles pensamentos e segui meu caminho, andando os poucos metros que me separavam de casa.

Eu só podia estar ficando louca.

[ᚠ]

— CHEGUEI! — Dei um berro, entrando em casa, já para que ficasse clara a minha chegada.

Eu fazia aquilo todo dia quando chegava, minha mãe não era a maior fã dos meus gritos, mas já havia aprendido a lidar com o fato de que a filha possuía uns parafusos a menos.

— Oi, oi. — Acenei, fingindo ser gente, para meu pai, Jorge, que estava sentado no sofá da sala.

— Como foi na escola, hoje? — Perguntou, casual.

Ah, antes que eu prossiga, você talvez se interesse em saber que Jorge não é meu pai biológico. Minha mãe e ele não falavam muito sobre, mas eu sabia que algo havia acontecido ao meu pai quando eu ainda não era nascida e, então, durante um período difícil, minha mãe o conheceu e eles se casaram. Jorge sempre foi presente e eu não poderia ser mais grata por ter um pai tão bom quanto ele. E também sempre foi um ótimo marido para mamãe, então eu não tinha nada a reclamar.

— A escola foi a mesma porcaria de sempre. — Menti e dei de ombros, ainda andando, ele não precisava saber das minhas paranoias. Não, não, esse tipo de lombra a gente deixa exclusiva para nossos terapeutas, obrigada. 

Continuei a me mover e parei na frente da porta da cozinha, onde minha mãe estava virada de costas para mim, mexendo nas panelas do fogão. 

— Mãe.

— Oi, Lis. Vai almoçar agora?

— Preciso fazer umas lições e não estou com fome. — Menti mais uma vez, apesar de eu estar varada de fome, sabia que minha ansiedade não deixaria qualquer tipo de alimento se manter dentro do meu estômago. — Compro algo para lanchar na cantina do inglês.

Minha mãe encarou-me por uns segundos, claramente não acreditava no que eu dizia. Deu de ombros e deu um suspiro, ciente de que não iria conseguir me fazer comer.

Diário de Uma Semideusa em Crise [ᚠ] Conheça suas origensOnde histórias criam vida. Descubra agora