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POV Kevin Jones

Entrei na sala de Victor encontrando-o sentado à sua mesa. Estava preocupado. Tinha uma pasta em sua frente que era do hospital.

- O que é isso? Exames? - Me aproximei o fitando.

Ele desviou os olhos. Peguei a pasta e tirei a folha, lendo. Sentei na cadeira, engolindo seco.

- Isso é...

- Sim. Eu estou com hipoglicemia. Não é nada demais.

- Então por que está preocupado?

- Por nada. 

- Está mentindo.

- Kevin.

- Victor! Igual quando quebrou um copo de propósito e teve sorte de não ter acertado nenhuma veia. Se Phillip não tivesse cuidado de ti, teria sido bem pior. Você não pode continuar sendo tão negligente com si mesmo! - Levantei e quando vi já tinha levantado a voz.

Ele encolheu os ombros, e apertou uma caneta entre os dedos.

Suspirei arrependido. É a segunda vez em menos de vinte e quatro horas que grito com alguém que amo. Meu namorado e a pessoa que tenho como um irmão. Mas que merda eu estou fazendo?!

- Desculp...

- Eu sei que sou negligente na maioria das vezes. As pessoas vivem me dizendo isso, Kevin. Eu não contei antes porque não queria deixar vocês preocupados. Falei com meus pais ontem. Foi tranquilo. Mais do que eu pensei que seria. Principalmente meu pai. Bom, às vezes esqueço que ele já foi um ótimo pai. - Cobriu a boca com a mão direita, virando o rosto e notei que se esforçava para não chorar.

Me senti ainda pior. Por ter feito ele se sentir mal.

Deixei a pasta sobre a mesa, estendendo os braços. Me olhou de canto de olho, antes de levantar e vir até mim, aceitando o abraço.

- Eu estou realmente cansado, Kevin. - Sua voz saiu dolorosa e um pouco embargada.

- Estamos com você. Sempre. Por que você sofre sozinho?

- Poderia te fazer a mesma pergunta. - retrucou.

Sabia que ele estava chorando. E ele sabia que eu também não estava bem. Por isso ninguém disse nada depois disso. Apenas deixei que chorasse em meu ombro, o consolando da forma que consegui.

(...)

Depois da minha conversa com Victor, segui na procura por Phillip. Hoje haveria uma reunião de seu projeto e precisava pedir à ele que organizasse todos.

As portas do elevador se abriram e esbarrei na pessoa que saiu.

- Ah, desculpe... - Ergui a cabeça, ficando em choque. Então, consegui formular algo coerente: - Mason?

A única pessoa que estava ao meu lado no orfanato. Mudou bastante. Agora, o afro descendente era uns oito centímetros mais alto que eu. Seu cabelo cacheado não era mais tão curto e seus cachos rebeldes combinavam com sua personalidade forte. Sua boca era carnuda, queixo quadrado, sobrancelhas retas com ponta curvada e seus olhos escuros eram redondos. Ficou bem mais bonito do que era quando tinha 16 anos.

Ele sorriu me abraçando. Demorei um segundo para retribuir.

- Kevin! Eu quase não acreditei quando descobri que era você mesmo. Senti tanto a sua falta!

Sorri, feliz por vê-lo novamente.

- Eu também! Você está tão diferente.

Me abraçou mais forte, com o rosto na curva de meu pescoço. Era confortável em seu abraço. Como nos velhos tempos.

Não Era Um Ponto Final | 1° Livro || Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora