Especial - Lucas

42 9 0
                                    

POV Lucas Bevan

Sei que Phillip nunca quis que nossa amizade acabasse.

Mas diante da situação, não havia outra solução. Desde o começo concordei em assumir o namoro falso e levar toda a culpa pelo estado que ele ficou no fim do segundo grau. Sou o único que sabe o real motivo para ter adquirido ansiedade e depressão. Falei inúmeras vezes que ele devia contar para sua família, que eles saberiam como lidar melhor com a situação. Em vão. Sua resposta era sempre a mesma: É um problema meu.

O conheço tão bem quanto seu irmão conhece.

Sei que ele é mais forte do que deixa as pessoas verem. Sei que ele não quer que ninguém se preocupe, por isso sempre diz que está bem mesmo estando destruído. Sei que sua paixão de verdade é a escrita. E ele também sabe tudo sobre mim.

Só tem uma coisa que ele não sabe sobre mim. E foi outro motivo para eu me afastar.

Depois que foi para Los Angeles terminar a faculdade, fui cursar o último semestre da faculdade de direito em Paris. Foi onde conheci Chase. Ele me ajudou a superar e parar de me auto denominar a pior pessoa do mundo. Ele é meu único amigo, na prática. É uma ótima pessoa e tenho sorte em tê-lo na minha vida. Todavia a forma que os Valerie me trataram ainda me atormenta. Principalmente Dylan. Essa lembrança me fez desencadear crises de ansiedade. Agora sei como Phillip se sentia e é horrível.

Estava sentado no chão do quarto de meu apartamento com as costas contra a cama tendo outra crise.

- Lucas? - Bragança me chamou da cozinha.

Ele veio jantar comigo. Nunca se afastou, mesmo depois da faculdade.

Não conseguia respirar, muito menos falar.

O mais novo entrou no quarto, sentando ao meu lado e mantendo a calma, como sempre. É ele quem está comigo na maioria das vezes que tenho uma crise. Puxei meu moletom branco com as mãos trêmulas abaixando a cabeça.

- Tudo bem. Eu estou aqui. - disse ele, segurando minha mão.

Ficou ao meu lado pelos minutos que se seguiram. Me dando apoio, já que eu não falo nada quando estou tendo uma crise. Apenas tento me acalmar. O que não é lá muito fácil.

Quando a crise acabou ele me abraçou atencioso. Ainda estava ofegante. Me aconcheguei ao seu corpo com o rosto em seu pescoço.

- Tudo bem?

- Estou bem. Obrigado. - Me afastei, passando a mão no cabelo.

- Vem. - Me ajudou a levantar. - Quer alguma coisa? Posso fazer sua bebida favorita. - falou enquanto eu sentava na ponta da cama.

- Não precisa se incomodar.

- Pare de achar o tempo todo que é um fardo, Lucas. Somos amigos e você é importante para mim. Quando vai entender isso? - Põe a mão em meu ombro beijando minha testa.

Sorrio.

- Obrigado por estar comigo, Chase. Não sei o que faria sem você.

Sorriu.

- Volto em um minuto.

Saiu deixando a porta aberta. Suspirei tirando o moletom que vestia por cima da camiseta branca. Me ergui jogando a peça na cama, andei até a varanda do quarto me debruçando na barra de proteção. A brisa fazia as cortinas brancas dançarem.

Meu apartamento fica no 4° andar de oito. Não é luxuoso, é bem simples na verdade. Me mudei para Los Angeles há seis meses. Quase um ano depois de Chase vir morar aqui. Quando terminamos a faculdade seguimos rumos diferentes na carreira. Bragança trabalhou em uma empresa antes de Victor lhe contratar. Enquanto eu, passei uns meses trabalhando em um escritório de advocacia na minha cidade natal, Caliente, para cuidar de meu pai de perto. Ele passou um tempo internado por causa de uma pneumonia. Já que meu irmão mais novo não podia deixar o intercâmbio em Lisboa, tive que eu mesmo cuidar de nosso pai.

Meu irmão, Aron, sempre teve um alto senso de responsabilidade. Mas não permiti que assumisse esta.

Depois que minha mãe morreu em um acidente de carro, tive que carregar a família nas costas. Papai já não trabalha em decorrer de sua saúde fragilizada pela asma. Então eu basicamente sustento sua casa também, além de ter contratado uma cuidadora de idosos para ficar com ele quando nós não pudermos. Também ajudo meu irmão a pagar sua faculdade. Somos só nós três. Meus avós morreram há um tempo e apesar de meu pai ter um irmão, é o mesmo que não ter. Ele e a família ignoram nossa existência. E nós não fazemos questão de nos importarmos.

Estava distraído observando a cidade, quando Chase pigarreou atrás de mim, me fazendo olhar em sua direção. Estava com um copo de um batido de caramelo na mão.

- Toma.

- Obrigado. - agradeço sorrindo.

- Como você está? - Parou ao meu lado.

Tomei um gole grande da bebida gelada, segurando o copo com as duas mãos.

- Bem. Foi uma crise leve. Vai dormir aqui?

- Sim. Posso te acompanhar até sua casa amanhã. Faz um tempo que não vejo seu pai e seu irmão.

- Sim, vai ser ótimo. Eles gostam muito de você.

Sorriu apoiando as costas e as mãos na barra de proteção.

- Minha mãe te ama também. Ela te vê como um filho.

Sorrio com lágrimas nos olhos.

- Ela é um doce. Vou tentar ficar mais tempo lá da próxima vez que formos.

- Bom mesmo. Todo mundo fica me cobrando porque você não passa mais tempo na França. Você é o bom exemplo, não eu. - Brincou rindo.

Ri empurrando o maior de leve com o ombro.

- Ainda não se acertou com Noah? - pergunto suave ciente de como é um assunto que ele não gosta de falar.

Suspirou pesado.

- Sabe como meu irmão me odeia.

- Ele não te odeia, bobo! Que besteira. Precisam parar com essa infantilidade de uma vez! São homens feitos, não podem ficar nessa até formarem família.

- Sabe que ele também é homossexual, não é?

- Idiota. Não sabe que podem adotar? - retruquei, bebendo mais um gole do batido.

- Eu sei. Mas seria meio complicado. Mas não é fácil assim me entender com ele.

- Noah tem um gene forte mesmo. Igual a você.

- Não me comparo com ele. Meu irmão faz um estrago quando fica com raiva.

Assenti, lembrando da última briga que os irmãos tiveram em uma festa de família e Noah destruiu o quarto em um ataque de raiva.

- Bem, está ficando frio. Vamos entrar. - falo, logo entrando.

Veio atrás fechando as portas da varanda.

Estava seguindo a vida muito bem. Até reencontrar Phillip e descobrir da pior forma que ele é amigo de Chase e trabalham juntos. Não sabia como seria agora.

Não Era Um Ponto Final | 1° Livro || Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora