Capítulo 8

277 30 31
                                    

Um silêncio repentino e avassalador recai sobre nós. Apolo parece prender a respiração ao meu lado. Me viro para encara-lo enquanto abaixo as mãos dos lábios. Ele ainda olha para Helena com uma expressão de indiferença, contudo junta as mãos em conchas, apoia os cotovelos nas coxas e abaixa o rosto.

Ergo a mão e afago suas costas por um instante. Sinto os músculos rígidos.

Ele não diz nada, os policiais não dizem nada e eu não digo nada. Olho para Helena e depois para Matheus, que me encara de volta com aquelas pernas abertas. Sinto-me ser fisgado pelos seus olhos profundos.

— Isso é impossível! — Apolo diz, sua voz exercendo a força de um berro depois de um silêncio tão significativo. Ele ergue a cabeça e encara Helena de novo. — É impossível que ele tenha sobrevivido àquele acidente... Não sobrou absolutamente nada além de... metal retorcido e...

— Isso mesmo — retruca Matheus com um tom ameno, contudo convicto. — Seria a situação perfeita para fazer um velório de caixão fechado.

— Sabemos que o médico que assinou o obituário do seu pai era conhecido dele.

— Meu pai conheci muitos médicos, isso não quer dizer nada.

— Bem, o fato dele ser o médico particular do seu pai diz muita coisa, além do mais ele foi assassinado não muito tempo depois disso.

Continuo afagando as costas de Apolo, vejo ele franzindo as sobrancelhas e a boca para a mulher do outro lado da mesinha.

— Vai dizer agora que meu pai também matou esse homem? — Sua voz falha.

— Não podemos afirmar isso — interrompe Matheus com um tom frio. O homem ergue a mão e passa no rosto. — Você realmente não sabe nada sobre isso?

— Qual é o seu problema? — Apolo vira o rosto para ele, seu tom é tão afiado quanto uma lâmina fria, nem está falando comigo e isso me faz engolir em seco. — Está dizendo que sou comparsa do meu pai?

— O que estou perguntando é se você nunca soube nada a respeito?

— É claro que eu não sabia! — Apolo parece ofendido. — Passei anos fora e quando voltei, meu pai morreu. Assumi a empresa e passei tempo demais lidando com os meus próprios problemas pessoais para ficar pensando em teorias da conspiração que colocam meu pai como cabeça de uma quadrilha tão suja assim!

— Senhor, Apolo, peço que se acalme, por favor — pede Helena com doçura.

Apolo se levanta rápido e resmunga pela agressividade, ergue a mão e afaga a região do peito onde foi atingido. Isso faz minha garganta dar um nó.

Nesse momento, alguém bate na porta lentamente, então Apolo pede que entre. A porta se abre e Paloma entra com um sorrisinho simpático demais, seus olhos indo direto para o policial de calças justa e ele retribui o seu olhar enquanto a empregada caminha até a mesinha e deposita sobre ela uma bandeja com um bule, algumas xicaras e algumas bolachas em um recipiente de vidro, então se vira e sai.

— O senhor concorda com a exumação? — indaga Helena, se levantando também.

— Preciso de um tempo para pensar sobre isso.

— Sim, claro. Compreendo, só peço que não demore muito, pois cada minuto é de suma importância para a investigação.

— Desculpe, mas a polícia levou doze anos para chegar a essa conclusão, então tenho certeza que uma semana a mais não faria tanta diferença assim... — Ele olha para Matheus quando joga as palavras, então aponta para a bandeja que Paloma acaba de deixar. — Aproveitem o café, depois saiam da minha casa sem se preocuparem em se despedir.

GUIANDO O PRAZER (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora