Capítulo 14

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Reflito por um instante, repassando tudo em minha mente para entender se perdi alguma informação relevante em meio ao caos dos últimos dias. Mesmo assim, sei que não vou chegar a lugar nenhum com isso.

Só esse rapaz pode explicar o que isso significa e, por Deus, eu adoraria poder passar por cima de qualquer probabilidade de continuar trazendo o Vitor para nossas vidas. Ele e George são pessoas das quais preferia esquecer se possível, embora não me engane com essa possibilidade. Nada que os envolve termina bem, uma vez que ainda me lembro de como terminou o último visitante que teve alguma ligação com esses dois. Basta fechar os olhos agora para me lembrar das marcas de balas no corpo de Thiago, o sangue que saía dele e escorria pelo chão.

Engulo em seco e agradeço por nenhum dos presentes estar me olhando.

A voz forte e grave do meu namorado me puxa de volta, com tanta força que me agarro no banco:

— Impossível! — Como ele é capaz de fazer com que uma única palavra mexa tanto com os nervos de alguém? A dureza e frieza que sua voz esbanja deixa claro que não há espaço para sermos amistosos, e isso me afeta até os ossos. — O Vitor está morto, que porra é essa, rapaz? O que você pretende?

— Eu sei que o que acabei de dizer parece loucura, mas...

— Você está enganado, isso não parece nada! — interrompe, tremo. — Isso é uma loucura que não faz o menor sentido!

— Eu também fazia... Ainda faço parte do catalogo da Gisela — explica de uma vez, sua voz tremula reflete o que sinto por dentro. — Foi assim que Vitor e eu nos conhecemos.

Apolo solta uma fungada pesada e lenta.

— Eu não me lembro de você... — Hesita e finjo não perceber quando ele se vira e me olha de relance. Sei o que estava prestes a dizer, contudo não entendo porque se contém, afinal não é segredo para mim os meios tomados que o ligou diretamente ao Vitor. Alfredo olha de um lado para outro da rua, mais uma vez. — Qual é o seu problema?

— Não acho seguro conversarmos aqui fora, podem estar nos observando — sussurra ao passo que quase não o ouço.

Juan permanece inabalável entre o rapaz e o seu patrão. Mesmo sendo alto e forte, Apolo ainda é alguns centímetros mais baixo que o segurança.

Involuntariamente, me viro no banco para vascular a rua através dos vidros do carro. Todos os protões dos vizinhos estão fechados, as janelas que consigo ver igualmente isoladas, o carro mais próximo está longe na rua. Tudo excepcionalmente comum em mais um dia em um bairro nobre qualquer de São Paulo.

Apesar de não saber exatamente como se sente, entendo a sua apreensão e até me compadeço com Alfredo e o seu temor por estar sendo vigiado.

— Não viria até aqui se não fosse importante... Eu juro por tudo o que é mais sagrado.

— Não precisa jurar, rapaz, eu acredito em você! — garante Apolo, embora sua postura não se altere. Sua voz ainda é tão dura e fria quanto um bloco de gelo no ártico.

— Então, será que podemos conversar em outro lugar? Pode me revistar se quiser, eu não ligo.

Apolo volta a me olhar, dessa vez demora mais que antes. Sinto como se cogitasse a possibilidade de me mandar para longe para ter essa conversa e sustento o seu olhar.

— Tudo bem? — Quer saber.

Apenas assinto antes de perceber que ainda estou agarrado no banco. Relaxo os dedos e cruzo os braços, tentando parecer realmente condescendente com minha intenção de parecer tranquilo. Pelo jeito como Apolo franze os lábios, sei que atuei mal, mas nada isso importa.

GUIANDO O PRAZER (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora