Capítulo 15

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Percebo sua ausência antes mesmo de abrir os olhos. Passo a mão pela cama, mesmo sabendo que não vou encontrá-lo. Sua presença viril e quente é irreconhecível pra mim, mas o lençol faz firulas contra minha palma e estico o braço até onde alcanço para ter certeza.

Abro os olhos e me sento, o cobertor fino que me cobre escorrega até a cintura. O recinto está frio, embora a porta de vidro da varanda esteja fechada, as cortinas abertas, exatamente como estavam antes de dormir, proporcionam uma luminosidade fraca no recinto embebido pelo breu, o suficiente para me permitir ver que ainda está escuro lá fora.

Não sei por quanto tempo dormi e, embora meu corpo esteja relaxado agora, ainda me sinto um pouco cansado. Me viro e pesco o meu celular ao lado da cama, apenas para ver as horas.

3h20 ilumina na tela. Bocejo, deixo o aparelho onde estava e saio da cama sem pestanejar.

Caminho pelo quarto silencioso demais e vou até o banheiro. A porta está fechada, por isso dou algumas batidinhas antes de abri-la e me deparar com mais escuro. Aproveito que já estou aqui, acendo a luz e vou até a privada para mijar.

Me encaro no espelho enquanto lavo as mãos na pia. Contorço meus dedos dos pés. Meus olhos estão fundos e pareço mais cansado do que imaginei que estaria, por isso jogo uma água no rosto apenas para me acordar de uma vez.

Saio do recinto, apago a luz e caminho até a saída. Assim que abro a porta para o corredor deserto já descubro onde ele está. Saio do quarto apenas de cueca e cruzo o corredor até o faixo de luz que sai de um dos quartos mais adiante. Paro na porta e o vejo ali, no cômodo vazio, com paredes brancas e sem personalidade, sentado no chão, apenas usando cueca.

Seus ombros estão arqueados, subindo e descendo lentamente, no ritmo da sua respiração pesada, a cabeça tombada para a frente.

Não digo nada, apenas entro no quarto e vou ao seu encontro, me inclino e o abraço lentamente por trás. Apolo ergue a cabeça quando encosto o queixo em seu ombro, minhas pernas posicionadas uma de cada lado dele como uma pinça pronta para segurá-lo. Suas costas estão quentes contra meu peito e minha barriga.

— Quase sempre que acordo estou sozinho na cama — comento baixo, minha voz levemente rouca.

Ele demora a dizer qualquer coisa.

— Lamento... Estava com a cabeça cheia demais pra dormir. Mesmo me sentindo exausto, só consegui ficar rolando na cama e não queria te acordar, por isso saí de lá.

— Não precisava.

— Eu sei, mas preferi — concorda baixo.

Apolo afaga minhas coxas.

— Quer falar sobre o que estava pensando?

Ele respira fundo e solta o ar pela boca.

— Alexandre, não sei se estou preparado pra encarar o velório de Lady. — Passo as mãos pelo seu peitoral, meus dedos acariciam os pelos que o cobrem. Ele prossegue: — Estou sendo idiota, porque sei que não dá pra se preparar para uma coisa dessas, mas eu gostaria de ter tido um pouco mais de tempo com ela, depois daquela nossa última conversa.

Não digo que vai ficar tudo bem porque dizer isso não ajuda em nada agora, contudo mal tenho palavras para consolá-lo nesse momento. Só consigo pensar em como Dora foi preconceituosa e chata, porque isso marca.

— Apolo, você poderia ter o tempo que fosse, não mudaria a cabeça dela com relação a nós.

— Eu sei, isso já estava mais do que claro, porém eu não queria mudar a cabeça dela, só não queria que aquela tivesse sido nossa última conversa.

GUIANDO O PRAZER (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora