O sol se esconde no horizonte com um esplendoroso visual. O panorama dos prédios de São Paulo complementa a moldura que enriquece o cenário. Mesmo que o clima não esteja para isso, sinto-me grato por estar ao lado do homem que amo e isso já é o suficiente.
É inquestionável o sentimento de paz que sinto, muito embora ela se misture em meu peito, com a morbidez das longas horas que nos carregaram até aqui e das lembranças que esse lugar me proporciona.
Pincelado em tons de laranja e vermelho, o sol desaparece pouco a pouco enquanto, do outro lado, a lua já se encontra pronta para ocupar o palco.
Ao meu lado, sentado com os braços apoiados nos joelhos e ainda de óculos escuros, Apolo parece hipnotizado com o horizonte totalmente absorto em seus pensamentos. Os últimos raios do sol em seu rosto triste poderiam facilmente me convencer de que estou diante de uma pintura renascentista bonita e triste.
Já estamos aqui há algum tempo, sentados na grama, no alto de um morro. Ao nosso redor, outras pessoas também se concentram no horizonte. Alguns com celulares em mãos, registrando tudo, vejo até um pintor aproveitando para se inspirar com uma tela branca em mãos, outros com cachorros ou até sozinhos. Mais ao longe, um grupo aplaude o sol e agradece.
Estamos na Praça do Pôr do Sol, que é como é chamada a Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiros, um ponto muito popular em São Paulo, que fica no Alto de Pinheiros, mas que é conhecida dessa maneira pela visão do entardecer que é de tirar o fôlego. Já estive aqui algumas poucas vezes com Cassio e até com meu avô, o que me deixa um pouco mais deprimido por uma série de fatores que se aglomeram e se misturam em minha cabeça.
Juan se mantém mais afastado, mas ainda consigo vê-lo pela visão periférica com muita facilidade. Parece que estamos em uma zona segura agora, mesmo assim, é impossível relaxar depois das tantas horas velando aquele corpo. Ainda consigo ver Dora com aquele rosto pálido... Mais do que isso, isso só me permite acessar a lembrança que foi vê-la sustentada na ponta daquela corda. Tive que lutar contra isso o dia inteiro e não foi fácil. Parecia que a cada vez que erguia os olhos para aquele caixão, ela iria levantar e partir para cima de mim com suas ofensas afiadas.
O evento foi um tanto quanto solitário, uma vez que pouca gente que a conhecia apareceu. Aquelas amigas que estiveram em sua casa ficaram lá e aquela Janete até fez questão de resmungar com Apolo por não ter se dado ao trabalho de avisar. Ao passo que a outra prontamente o defendeu, dizendo que talvez ele não estivesse com cabeça para isso, mas a verdade é que não havia como ele pudesse fazer isso já que nem sequer conhecia essas pessoas. Mas por grande ironia do destino, ou do roteirista divino, uma delas conhecia uma pessoa no departamento de polícia, que conhecia o médico legista e conseguiu coletar essa informação para que elas fossem dar o último adeus a amiga. Eu pouco me importava como elas foram parar ali, só queria realmente me ver livre dali o quanto antes.
As outras pessoas, pelo menos, deram espaço para Apolo e o deixaram no seu canto, mas quase ninguém ficou até o final. No meu intimo, me peguei pensamento enquanto alguém chegava, circulava, dava condolências ao meu namorado, circulava novamente e ia embora, que talvez Dora não fosse realmente tão adorada assim. Foi triste perceber isso.
Esperei que a qualquer momento aquele Giovani fosse dar as caras por ali, mas o rapaz não apareceu. As chances de ele conseguir descobrir as informações eram mais pequenas do que os outros, mesmo assim esperei por isso.
Mesmo desejando sair dali o quanto antes, permaneci ao lado de Apolo até o final, tentando confortá-lo e amenizar a sua dor.
— Ela nem apareceu — comenta meu namorado de repente, me puxando de volta. Sua voz está rouca e baixa. Me aproximo mais dele e me agarro em seu braço como se isso fosse me manter firme e presente. Sinto sua pele macia e quente contra meus dedos.
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GUIANDO O PRAZER (+18)
RomanceQuando tudo parecia estar indo bem, Apolo e Alexandre descobriram que na verdade era apenas o começo. Seus problemas haviam apenas começado e agora terão que lidar com coisas ainda maiores, pois o destino tem seus próprios planos para suas vidas. Se...