— Como esse cara sabe onde você mora? — Meu primo anda de um lado para outro no quarto.
Contei a ele sobre a conversa que tive com Antônio, deixando de lado o encontro que tive com Leona, para falar sobre o a indigesta visão daquele sujeito "espreitando" a casa.
— Eu nem sabia que ele estava solto — reflito mais para mim mesmo do que para ele. — Mas é claro que ele saiu logo! Nunca vi ninguém mofar na cadeia por ser homofóbico.
Cassio produz um som estranho, sem parar de andar de um lado para o outro. Seus passos não fazem barulho, mas sinto que a qualquer momento ele vai abrir um buraco no chão no formato do seu movimento. Talvez ele caia nos braços do Juan lá embaixo.
Estou sentado na cama e lá fora já está escuro, mas nem sei que hora é agora. Não falei nada disso para Apolo porque sei que ele correria para cá e abandonaria o trabalho, então dei ordens ao Juan que não falasse sobre isso com ele.
Depois que contei a ele sobre aquele cara, ele deu algumas voltas pela rua para inspecionar, contudo não viu mais o sujeito.
Ele quis ligar para o Apolo, é claro, mas disse que eu mesmo contaria quando ele chegasse.
— Nem tudo dá pra se resolver com dinheiro! — diz ele meio debochado. Não sei se está falando isso por estar preocupado ou realmente com intenção de me alfinetar, contudo dou de ombros.
Ao que parece, não adiantou de nada Apolo ter "molhado" a mão do delegado no caso para terem pego esse sujeito. Por mais que tenha achado que a sua atitude fosse completamente errada, agora se confirma que meu primo tem razão.
Apolo pode ter todo o dinheiro do mundo, isso não vai comprar tudo. E se tratando do Brasil, é claro que a agressão contra a integridade física de uma pessoa só porque ela é gay não é tão relevante quanto outras coisas, até porque até pouco tempo isso nem crime era.
O duro é perceber que foi preciso que Apolo pagasse para que a polícia de fato encontrasse esse cara. Caso contrário, com toda certeza ele já poderia ter aparecido antes.
— Será que dá pra parar de andar pra lá e pra cá? Já estou ficando tonto.
— É que estou nervoso.
— Tô vendo. — Dou uma risadinha. Cassio para, porém continua de pé. Ele cruza os braços e me encara como se houvesse um alvo no meio da minha testa. — Não vai acontecer nada! Juan já olhou e está atento. Além do mais, logo Apolo estará em casa, esse cara não entraria aqui.
O engraçado é que por mais que tente soar tranquilo, no fundo, essas palavras ditas em voz alta são uma forma de convencer a mim mesmo disso.
Cassio balança a cabeça lentamente em uma negativa.
— Será que devo te lembrar do que aconteceu naquele dia da festa? — Engulo em seco. — Naquele dia, a casa estava entupida com seguranças e mesmo assim você e seu velhote quase foram mortos.
Involuntariamente ergo a mão e afago o ombro onde fui atingido.
— Por que tem que lembrar disso? Você não está ajudando nenhum pouco!
— Desculpe se estou sendo realista.
— Está sendo inconveniente! — Me levanto e sigo para a varanda, abro a porta de vidro e saio. Um vento frio esmurra meu rosto e as luzes das ruas banham meus olhos com suas cores alaranjadas.
Me apoio sobre o parapeito e encaro a paisagem. As folhas das arvores dançam para lá e para cá e as outras casas, em suas tranquilidades, mostram que é só mais um dia comum na vida de pessoas cujos problemas provavelmente podem ser apenas o que vão fazer no final de semana.
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GUIANDO O PRAZER (+18)
RomanceQuando tudo parecia estar indo bem, Apolo e Alexandre descobriram que na verdade era apenas o começo. Seus problemas haviam apenas começado e agora terão que lidar com coisas ainda maiores, pois o destino tem seus próprios planos para suas vidas. Se...