Capítulo 23

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— Oi, filho. — Ergo a cabeça e encaro Antônio. Ele está com um sorriso largo no rosto, porém parece um pouco abatido. — Fiquei surpreso quando você me ligou, mas que bom que ligou.

Não digo nada. Ao nosso redor, as pessoas conversam e riem. De repente percebo que talvez ter escolhido uma cafeteria para essa conversa tenha sido um erro. Não existe privacidade alguma aqui, só que também não queria me sufocar com uma conversa fechada em um cômodo vazio caso o silêncio entre nós fosse predominante.

— Nossa última conversa não foi das melhores — observo, meio sem graça.

— Eu sei como tudo isso é difícil pra você e que minha chegada te deixou com dúvidas...

Assinto, me lembrando de suas palavras no outro dia, como um complemento à sua frase agora: sei também que você poderia fugir dessa conversa pra sempre.

Ele estava certo. Eu fugiria, ou pelo menos tentei, até onde deu. Mas agora, percebo que quanto mais eu fugir, mais a bola de neve vai aumentar, pois não há tempo que cure o que me doeu a vida toda.

— Por favor, sente-se.

Ele hesita quando aponto para a cadeira diante de mim, na minúscula mesa quadrada. O cheiro de café é predominante ao nosso redor.

Antônio usa uma camisa vermelha de gola e parece ter feito a barba recentemente. Olhando atentamente para ele, consigo identificar padrões semelhantes na nossa aparência, como a cor dos cabelos, o nariz e os olhos...

Ele ergue o rosto e nosso olhar se conecta. Fico paralisado, sendo puxando para dentro do seu olhar com tanta força que o sinto na profundeza da minha alma.

Abaixo o olhar primeiro, quando um nó aperta minha garganta. Foi um contato significativamente curto, porém sinto como se tivesse durado uma eternidade.

É esquisito estar diante de alguém que divide o mesmo DNA que o meu e mesmo assim estar diante de um completo estranho.

— Como está a sua esposa? — pergunto quando volto a olhá-lo.

— Lúcia está bem.

— Ela deve estar me odiando, não é? — Encaro a xícara de capuccino intocada na mesa.

— Ela não é esse tipo de pessoa, meu filho. Lúcia é a melhor pessoa que já apareceu na minha vida. — Ergo o rosto de novo, sabendo exatamente o que essas palavras significam.

— Então que bom que você a têm em sua vida.

— Sim, a propósito, o Apolo foi muito generoso com ela — começa. — Mesmo ela saído de lá como saiu e mesmo sem precisar, ele pagou muito mais do que deveria. Ele é um homem muito bom, é de honra e fico feliz que você o tem em sua vida também.

— Sim, ele realmente é excepcional! — concordo sem graça. — Quer comer alguma coisa?

Faço sinal para que um atendente venha até nós.

Ele não demora e quando chega, Antônio pede um café simples e um pedaço de bolo. O rapaz me lança um olhar significativo com um sorriso que prefiro ignorar.

Espero até que ele se vá para poder retomar a conversa.

— O Apolo me falou sobre o agiota. Já está tudo certo? — Antônio me olha como se não esperasse por isso. — Está surpreso?

Ele abaixa o rosto e arqueia os ombros.

— Tinha pedido a ele que não comentasse sobre isso com você.

— Apolo é muito honesto comigo.

— Quando disse que a Lúcia tinha pegado um empréstimo com um banco, foi toda a mentira que contei... Eu não sabia... — Ele hesita, pois nesse momento o atendente vem trazer seu pedido, eficiente e radiante.

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