Capítulo 27

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Quando acordo a primeira coisa que sinto é o cheiro do seu perfume, em seguida, o seu toque. Sua palma faz carinho contra meu rosto e abro os olhos lentamente para encara-lo.

Apolo sorri para mim, contudo parece estranho.

— Tudo bem? — pergunto com a voz rouca.

— Está tudo bem, não se preocupe, amor — garante. — Desculpe por acorda-lo.

Sua mão contra minha pele é muito agradável.

Apolo está sentado na beirada da cama, percebo que está arrumado e usando uma camisa social, calças escuras e os cabelos penteados para trás.

— Helena me ligou há algumas horas informando que posso ir vê-lo quando quiser hoje e...

Me sento depressa.

— Você quer que eu vá com você? — Embora não seja intencional, as palavras saem como se a pergunta tivesse sido.

Ele se levanta de uma vez e caminha para longe, enfia as mãos nos bolsos da calça e resta a mim ficar olhando para suas costas largas e o traseiro arrebitado, que parece ainda maior com o caimento da calça.

Me levanto e vou até ele com os pés descalços mesmo.


— O problema, Alexandre, é que preciso fazer isso. Me sinto um idiota, mas é como se fosse de novo aquele rapaz que estava sendo mandado para longe e agora estivesse prestes a me despedir dele de novo. — Suas palavras me pegam de guarda baixa. — Desde ontem tenho tentado me preparar pra viver isso, mas conforme às horas se passam só desejo que não aconteça.

Me coloco na sua frente e o encaro. Apolo vira o rosto para o outro lado do quarto, tentando evitar meu olhar.

— Essa insegurança me desestabiliza totalmente e a última coisa que preciso agora é estar fragilizado com essa situação porque com certeza isso faria com que ele se envergonhasse de mim.

Um nó aperta minha garganta.

— Você tem todo o direito de se sentir inseguro e com medo, Apolo. — Ergo a mão e viro seu rosto para mim de novo. Seus olhos estão marejados, o que só piora o aperto em minha garganta. — Já te disse isso, mas vou repetir quantas vezes for preciso: você é o homem mais forte que eu conheci na vida! Mas saiba que isso não te obriga a ser essa muralha o tempo todo.

— Eu sei, mas é diferente agora.

— Por quê?

— Porque consigo ouvir a última coisa que ele me disse antes de tudo isso acontecer e não foi nada que queira reproduzir em voz alta, mas ainda assim, por todos esses anos, isso esteve inacabado. — Uma lágrima corre pelo seu rosto e a seco com cuidado. — Sei lá, não gosto de me sentir assim.

— Existem sentimentos que não foram feitos pra gostarmos, só sentimos e pronto.

Ele assente e, sem dizer mais nada, me puxar para seus braços e me segura com força.

O cheiro do seu perfume me envolve como uma rede, o que é tão injusto, porque devo estar descabelado, com remela e bafo matinal, o que nem de longe me impede de ser firme para ele agora.

Passo os braços ao seu redor e afago suas costas enquanto ele funga baixo, deixando o choro escapar.

O destino é uma coisa estranha. Antes era ele quem estava me aconselhando sobre o que fazer com o meu pai e agora ele está aqui, totalmente vulnerável por causa do próprio pai.

Embora saiba que obviamente ele não precise de conselhos sobre o que deve fazer ou se deve realmente ir até lá, no fundo sei que o que torna pior é que seu pai era realmente uma péssima pessoa. Por isso mesmo que é compreensível suas lágrimas e a forma como ele têm agido desde a conversa sobre essa visita.

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