Capítulo 5

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Já nem tenho mais lágrimas para derramar. Elas podem não fazer de mim alguém extremamente forte, mas não posso negar que me aliviaram consideravelmente, exatamente como a água quente que corre pelo meu corpo e relaxa os meus músculos tensos depois de uma noite ruim onde o sono simplesmente me evitou.

Estar na cama macia e gostosa da nossa casa de nada adiantou sem ter o meu homem ao meu lado e mesmo sabendo que deveria descansar para poder vê-lo hoje, a conversa com Antônio ficou dando voltas em minha cabeça. Isso é inevitável. Tive tempo suficiente para destrinchar sua história e remontá-la algumas vezes para encontrar alguma finalidade para suas explicações e não importava para qual lado eu fosse, sempre acabava na teoria de que ele só queria me enrolar para ter acesso a mais dinheiro do meu sugar daddy. Mesmo sabendo como Apolo vê essas coisas, como ele acha que dar dinheiro para as pessoas não é nada demais e até gostando de fazer isso, não posso ignorar o fato de que me escondeu esse detalhe.

Rolei até que chegou em um ponto onde a inquietude se transformou em dor no ombro pela agitação e cansaço, por isso agora estou tomando um banho enquanto lá fora o céu nem clareou ainda. Nem sei que horas são.

Sinto a cabeça pesada, como se a mesma estivesse duas vezes maior. O vidro do box está embaçado por conta do vapor e não consigo enxergar muita coisa além disso.

Desligo a água e abro o box para que o vapor se espalhe para todos os cantos, porém fico de pé virado em direção ao espelho na parede do outro lado. O banheiro é tão grande que não leva muito tempo até que o vapor desapareça totalmente.

Meus cabelos caem nos olhos enquanto a água escorre pelo meu corpo nu. Desejo que ao invés disso quem tocasse minha pele agora fosse Apolo.

Saio do box com os pés descalços e vou pegar uma toalha na gaveta do gabinete. Seco os cabelos primeiros e os deixo desgrenhados antes de passar para o corpo, tomando cuidado na hora de secar no ombro, em seguida enrolo a toalha no quadril e me aproximo da pia, me viro de costas e olho diretamente para a sutura em minha pele. É impressionante como algo tão pequeno quanto uma bala pode causar um estrago tão grande em nossas vidas, ou até mesmo acabar com ela. Não levei mais que alguns pontos na região, mas sinto como se estivesse faltando algo em mim.

Deixo o recinto e vou direto para o closet, onde me visto com uma calça de moletom cinza, camiseta preta e volto ao quarto para calças os chinelos. Me sento na cama, contudo fico por apenas alguns segundos, o aposento silencioso me deixa inquieto, por isso decido perambular por aí.

Passo pelo corredor e desço as escadas no breu total. A residência até parece abandonada. Meu coração bate forte quando chego no corredor e sigo para até a cozinha. Se esqueceram de fechar a cortina que cobre a parede de vidro que mostra a varanda e o jardim, que nesse momento estão tranquilos e iluminados, embora a porta de acesso, também de vidro, esteja fechada.

"Ele puxou o gatilho e acabou com a própria vida antes que tivéssemos tempo de agir." Me lembro das palavras de Juan com toda clareza. Olho para o chão na sala, onde não existe resquício de absolutamente nada de trágico, porém meu cérebro trabalha e me faz ver como se corpo do filho da puta do Paulo ainda estivesse estirado bem aqui. A centímetros dos meus pés.

Meu coração bate forte e minha garganta se fecha. Imagino seu pescoço tatuado completamente exposto e esticado, a cabeça virada e aqueles olhos sem vida voltados para mim com a capa de sangue espalhada embaixo dele... Me viro para esquerda e retomo meu caminho enquanto tento recuperar a respiração. O trajeto até a cozinha está iluminado pelas luzes da varanda, entretanto não encontro ninguém até lá.

Acendo a luz e vou direto até o armário, pego uma caneca, vou até a geladeira, abro uma das portas, pego o leite e encho o recipiente. O aposento grande, largo e frio não melhora no meu estado de espirito.

GUIANDO O PRAZER (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora