II

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- Não levei sua filha.  - declarou.

Helena percebeu, com desgosto, que ele não se referira à criança como filha dele, ou deles.

- Levou, sim. - insistiu sem pestanejar. - Sabe de uma coisa? Seu sobrenome devia ser Vingança. Só não consigo entender por que não levaram a mim no lugar dela.

- Pense um pouco. Com sorte, talvez encontre uma resposta.

Ela desviou os olhos, odiando aquela cruel indiferença.

- Céus, você me dá náuseas! - murmurou,levantando e afastando-se. Abraçando o próprio corpo, ficou olhando, através da janela, para o circo que a segurança armara ao redor da casa: homens com cães , armas, olhares atentos. Riu, escarnecendo: - Que grande espetáculo! A quem está tentando enganar?

- Isso é para manter a imprensa afastada - ele explicou secamente. - Apesar de ter sido treinada para esse tipo de contingência, aquela babá estúpida saiu gritando pela praça como uma louca, para São Paulo inteira ouvir. - Suspirou, numa primeira demonstração de raiva. - Agora todo mundo sabe que a criança foi sequestrada. Como conseguiremos resgatá-la sem alarido?

- Oh, Deus! - Helena cobriu a boca com as mãos, cedendo ao pânico. - Por que, Marco? Ela tem apenas dois anos! Não significava nenhuma ameaça! Por que levou meu bebê?

No instante seguinte, ele já estava ao lado de Helena, segurando-lhe os braços com força.

- Vou dizer pela última vez. Portanto, ouça bem: não sequestrei sua filha.

- Mas alguém... alguém o fez. - ela balbuciou, os olhos marejados de lágrimas. - Quem mais poderia odiá-la tanto, a ponto de fazer isso?

Ele voltou a suspirar. Não podia responder porque, de certa forma, merecia a acusação.

- Venha sentar-se novamente, antes que caia - sugeriu.

- Não quero me sentar! - ela recusou, exasperada. - E para de me tocar! - desvencilhou-se das mãos de Marco com um gesto violento. 

Ele apertou os lábios, dando mostra de que, por fim, o comportamento de Helena começava a enervá-lo. 

-Quem mais? - ela repetiu, num murmúrio. - Quem mais desejaria tirar minha filhinha de mim?

- De você? - ele perguntou calmamente, dando-lhe as costas. - Foi de mim que tiraram a criança!

- Ah, é? - Helena ergueu uma sobrancelha, irônica e incrédula. - Por que haveriam de fazer isso? Você a rejeitou!

- Mas o mundo não sabe disso.

Helena sentiu-se enregelar por dentro. Então suas suspeitas não eram verdadeiras!

- Sou um homem poderoso. - ele prosseguiu. - E o poder faz muitos inimigos.

- Então faça alguma coisa! Pelo amor de Deus, faça!

Ele engoliu um impropério e segurou-a pelo braço, fazendo-a sentar-se no sofá.

- Agora escute: você precisa se manter calma. - Libertou uma das mãos para cobrir os olhos. 

Era uma vez... a dor de uma traição.Onde histórias criam vida. Descubra agora