XIII

575 76 17
                                    


Helena sentiu-se gelar por dentro.

- O que quer dizer com isso? - perguntou cautelosamente.

- Não pode sair daqui, um lugar onde posso garantir sua segurança. O risco é grande demais. - Meneou a cabeça levemente. - Portanto, é aqui que você e a criança ficam.

- Não quero!

- Você não tem escolha.

Ela se ergueu sem hesitar.

- Não tenho culpa se você não quer o desquite. Não é meu dono. Prefiro começar do nada a voltar a viver sob este teto.

- Está falando como se você tivesse sendo traída.

- Não quero passar pela mesma provação que já vivi com você e seu pai.

- Talvez mereça esta provação.

Helena fechou os olhos para controlar a raiva, que subia por seu corpo como as lavas de um vulcão.

- Mas minha filha não merece - conseguiu dizer.- Será que, na sua sede de vingança, também deseja punir um inocente?

- Não estou querendo vingança. É um simples caso de segurança. Nesta casa, as duas certamente não correrão perigo. Entenda uma coisa, Helena: sua filha não foi sequestrada simplesmente por pessoas que queriam dinheiro. Ela foi sequestrada por pessoas que queriam se vingar de mim. Você e ela estarão mais seguras perto de mim. Entendeu?

Oh, ela entendera muito bem. O amo e senhor acabara de falar. Final da discussão.

- Mas não tenho que comer com você.  - ela o desafiou, não se deixando subjugar. - Prefiro morrer de fome.

- Está sendo infantil.

Era verdade. Mas não voltaria a sentar-se à mesa de Giuseppe Salvatore. De modo algum!

- Estou cansada, isso sim. Não quero colocar uma roupa elegante e brincar de mocinha obediente com você e seu pai. Será que não pode ao menos me conceder esse direito?

Marco suspirou para desabafar a raiva. Então, surpreendentemente, cedeu.

- Preciso falar com Fábia antes de subir. - disse. - Farei com que lhe tragam o jantar.

- Com isso, saiu, deixando Helena, de certa forma, frustrada. Por quê? Ela não sabia. Ou melhor, preferia não saber.

Helena prendia cuidadosamente os galhos de uma planta ao redor de um suporte de arame, num ponto do terraço de onde podia ver Isa brincando na praia com Fábia, quando um arastado avisou-a da aproximação de Giuseppe. Não demonstrou ter-lhe percebido a presença. Nos seis dias que passara ali, evitara a todo o custo encontrar Giuseppe Salvatore. Céus! Já fazia seis dias que ela estava naquele tormento. O sogro sempre aparecia para ver Isa durante o almoço, e Helena saía sorrateiramente antes que chegasse. Não via Marco há cinco dias. As famosas viagens de negócios, como no passado. Despertara, na manhã seguinte à da chegada, com um empregado trazendo-lhe as malas pesadas, que continham tudo o que deixara em São Paulo. O marido fizera com que a bagagem chegasse durante a noite, demonstrando que aquela era uma situação permanente. Fábia lhe dera um bilhete de Marco, em que informava que tivera de regressar a São Paulo.

Era uma vez... a dor de uma traição.Onde histórias criam vida. Descubra agora