XVIII

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Estavam numa grande festa, o baile anual oferecido pelo prefeito Alaor Prata Soares no luxuoso hotel recém inaugurado Copacabana Palace. 

Giuseppe também comparecera

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Giuseppe também comparecera. Helena usava um vestido longo, negro, que lhe moldava as formas esbeltas como só a seda pura poderia fazer. Soltara os cabelos, a pedido de Marco. A pouca maquiagem e os lábios carmim combinavam com a postura confiante que adotara no trato social. Pela primeira vez, desde que decidira reatar, usava o adorável anel de diamantes que ganhara no noivado.

- Está tão bela que me deixa louco. - ele murmurou quanto os três entraram no salão principal.

- Pare com isso  - ela o repreendeu, beijando-o, ciente de que Giuseppe acompanhara a cena.

Os dois homens estavam com smokings impecáveis. O patriarca, atraente, recuperara uma pouco do peso e da cor. Os salões do hotel sofisticado estavam cheios de convidados elegantes. Um grupo de mulheres  rodeara Helena  e a enchera de perguntas sobre a mudança de São Paulo para a capital do Brasil.

Logo Helena perdeu Marco de vista. Mas ocasionalmente via Giuseppe, que, dadas as suas condições físicas, preferia os cantos mais tranquilos. Depois de algumas horas, já cansada, ela decidiu procurar o marido para dizer-lhe que gostaria de voltar para casa.

Encontrou-o perto de uma porta-balcão, aberta para uma varanda diante do mar. Estava acompanhado por uma linda morena, com os cabelos castanhos e brilhantes presos no alto da nuca. Alta, esbelta, usava um vestido azul de seda.

Parada diante de Marco, tinha as mãos pousadas nos ombros largos, enquanto ele tinha as mãos abaixadas. Entreolhavam-se. Helena estremeceu. Aquela mulher só podia... não ousou terminar o pensamento.  Então veio o golpe final. Marco sorriu ternamente para a estranha e  abraçou-a.

Helena não viu mais nada. Deu as costas à cena, estonteada, e saiu cambaleando até o salão principal, onde ficou parada, sem saber aonde ir.

- Helena? - Giuseppe apareceu, francamente preocupado. - O que houve?

- Não me sinto bem. - ela murmurou. - Preciso ir para casa.

- Vou chamar Marco. - O velho patriarca estalou os dedos, para chamar a atenção de um garçom que passava.

- Não! - ela protestou. - Prefiro ir sozinha. Pode chamar o carro para mim?

- Naturalmente. - Giuseppe virou-se para o garçom: - Traga meu carro imediatamente. - O homem acenou com a cabeça e saiu. - Alguém a insultou?

- Sim - ela respondeu, depois de um segundo de hesitação.

- Quem?

Helena não respondeu. Logo depois o garçom retornou.

- Seu carro já está à porta, senhor Salvatore.

- Ótimo. Obrigado. Encontre meu filho, por favor. Diga-lhe que a senhora não está se sentindo bem e que eu a levei para casa. - Acenando novamente com a cabeça, o garçom sumiu entre os convidados. 

Giuseppe tentou apressar o passo para ficar  ao lado de Helena. 

- Ponha a mão em meu ombro.

Ela obedeceu, sem saber realmente o que estava fazendo. Quando pararam à entrada, o motorista de Giuseppe apressou-se em ajudá-los.

- Primeiro atenda a signora. - Giuseppe determinou. 

Helena entrou no carro silenciosamente. Assim que o sogro foi acomodado a seu lado, segurou-lhe a mão trêmula.

 - Agora vai me contar o que aconteceu lá dentro? - perguntou. - Quem a insultou?

- Marco. 

- Marco? - ele repetiu, incrédulo. - Meu filho a insultou?

- Ele e uma mulher estavam se abraçando  no terraço. Isso deve deixá-lo exultante, não? Por que não ri? - disse, contida, mas irritada retirando a mão da dele.

- Porque não tem graça nenhuma.

- Não, não tem.

- Tem certeza do que viu? - ele indagou, as sobrancelhas franzidas. - Não era alguém parecido com Marco? Talvez tenha tirado uma conclusão errada...

- Defendendo seu filho? - ela o desafiou. - Pensei que fosse ficar satisfeito com o que acabei de lhe contar.

- Não. - Ele ainda tinha o semblante preocupado. - Sabe, essa mulher...

- Não quero ouvir - atalhou Helena. - Será Marco que terá de se explicar.

Giuseppe suspirou, recostando-se no assento. Enquanto o carro os levava para casa, Helena olhava através da janela, sem prestar atenção em nada. 

Ao chegar à mansão, Giuseppe indagou:

- O que vai fazer?

Ela o fitou, o olhar furioso.

- Ainda não sei.

- No seu lugar, eu esperaria uma explicação - ele aconselhou. - Não faça nada do que posso se arrepender mais tarde.

Quando o motorista abriu a porta e ofereceu a mão, Helena  a ignorou.

- Assim cono o seu filho me ouviu no caso que você inventou? - disse, irônica.

Ele franziu o rosto.

- Sou um velho desagradável. Fiz coisas contra você da qual me arrependo.

- Coisaa que me feriram. Muito. Parabéns, meu caro. Conseguiu novamente!

Com isso, ela saiu do carro.

- Quer esperar um momento? - Giuseppe pediu. - Preciso lhe dizer..

Não pôde dizer nada porque a segunda tragédia já estava armada. A senhora Antonia  os recebeu-os à porta, aterrorizada.

Era uma vez... a dor de uma traição.Onde histórias criam vida. Descubra agora