-É a sua vingança pessoal?
Marco não se preocupou em negar:
- Entenda como quiser.
Helena cobriu os olhos doloridos com a mão trêmula.
- Então é melhor dizer isso a seu pai. - falou, a voz cansada.
- Não é preciso. Ele já sabe e não está em condições de fazer nada a respeito. - Levantou-se e devolveu a cadeira ao lugar de onde a tirara. Então a fitou com olhar severo. - Há seis meses meu pai teve um acidente vascular cerebral. As sequelas deixaram-no preso a uma cadeira de rodas, com a saúde frágil. Não consegue fazer nada sem ajuda. Como poderia ter tramado algo tão trabalhoso como um sequestro? - Debruçou-se sobre a cama, intimidante e sério. - Se quiser me ofender, fique à vontade. Mas deixe meu pai fora disso, entendeu?
- Sim. - ela murmurou, atordoada com a notícia.
Giuseppe doente? O grande, o tirânico patriarca confinado a uma cadeira de rodas?
- Sinto muito - disse. Não sentia por Giuseppe e sim por Marco, que venerava o pai.
- Não preciso de sua simpatia. - ele disse, aprumando o corpo. - Só quero que modere sua língua ao falar dele.
Bruno entrou no quarto afobado.
- Eles jogaram outro bilhete! Dessa vez quebraram a janela da cozinha.
Marco correu para a porta e Helena tentou segui-lo, cambaleante.
- Não! Segure-a. - ordenou a Bruno . Depois saiu e fechou a porta.
- Eu o odeio! - ela sussurrou, desabafando a frustação.
- Ele só está pensando em você.- Bruno Valetta argumentou gentilmente. -As mensagens não são nada agradáveis, apesar de virem em cima de desenhos fofos.
Helena sentiu, mais uma vez, vontade de chorar ao lembrar de sua menininha desenhando. Isa adorava desenhar. Então riu com amargura e sarcasmo.
- Pensa que não sei que estão negociando a vida de minha filha?
Bruno não pôde dizer nada. Afinal, ela falara a verdade.
- Maldição! - Helena praguejou, sentando-se na beirada da cama. Não conseguia mais ficar em pé. - Vá embora, Bruno . Não pretendo fazer nenhuma tolice.
Ele suspirou com pesar, mas não saiu.
- Sei que não sou a melhor companhia no momento. - ponderou melancolicamente - Mas éramos amigos, lembra-se?
Amigos. Certa vez, no passado, chegara a considerá-lo seu único amigo num mundo de inimigos. Naquela época, sentia-se muito só, no mundo de alta-sociedade que Marco lhe apresentara. E desconfiava de todos que a rodeavam. Bruno era a única pessoa com quem podia contar quando Marco não estava por perto. Mas, quando sua sorte virou, até mesmo o bom e gentil Bruno lhe dera as costas.
- Não preciso de ninguém. Só da minha filha.
- Marco a trará de volta. - ele respondeu com tranquilidade. - Mas você precisa confiar, para que ele possa agir como achar melhor.
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Era uma vez... a dor de uma traição.
RomanceMarco e Helena se conhecem ao acaso, se apaixonam instantaneamente e se casam logo após, mais precisamente no final do ano de 1921 na cidade de São Paulo, quando a cultura e gastronomia da cidade estavam começando a se moldar. Foram as fazendas cafe...