Ele a ignorou tal qual no passado.
- Sente-se - disse, empurrando-a para uma poltrona. Então estalou os dedos e uma mulher de olhar ansioso de aproximou. - Esta é Fábia. Está aqui para atender às suas necessidades - continuou, no mesmo tom frio. - E começará pegando sua bagagem. - Dispensou a moça e em seguida voltou a fitar Helena . - Sugiro que aproveite os próximos minutos para se recompor e acalmar a criança. - Isa voltara a enterrar o rosto no pescoço da mãe. - Pai? - Dirigiu-se a Giuseppe com o mesmo tom autoritário. - Precisamos conversar.
Depois saiu, seguido em surpreendente obediência pelo pai, que se deslocava muito devagar e com auxílio de uma bengala . O silêncio tomou o quarto, e Isa arriscou-se a erguer o rosto.
- O homem mau já foi? - perguntou timidamente.
Helena recostou-se na poltrona macia, aconchegando a filhinha ao peito.
- Ele não é mau, querida - murmurou gentilmente. - Está apenas...
"Confuso" era a palavra que Helena queria dizer. Curioso... Marco jamais se mostrara confuso com relação a nada. Para ele, a vida era preto no branco. A confusão residia nas zonas cinzentas, que evitava. Por isso o casamento não dera certo. Giuseppe, conhecendo o filho, pintara o mundo que envolvia a nora em tons de cinza, provocando discórdia. Era o que continuava fazendo agora. O que pretendia? Queria Isa só para si?
Mas não poderia tê-la, a não ser que fizesse Marco acreditar que era efetivamente o pai da criança. E isso o levaria a duvidar do adultério de Helena . Giuseppe estaria disposto a se arriscar? Ou teria alguma carta escondia no bolso? Ela começou a tremer de medo ao se lembrar do que Giuseppe era capaz.
- Signora? - Fábia estava ao lado da poltrona, com um sorriso amável. Era italiana também. - A bambina - comentou suavemente. - Dorme tranquila no colo da sua mamma.
Helena olhou para baixo, surpresa com a rapidez com que Isa adormecera. A criança ressonava, finalmente em paz.
- Não chore, signora. - Fábia agachou-se ao lado da poltrona, para colocar a mão solidária sobre o braço de Helena. - Agora a bambina está segura. Signor Marco zelará por ela. Não se preocupe.
Sim, agora estava segura, Helena reconheceu. Mas desconfiava de que suas preocupações estivessem apenas começando. Giuseppe queria a neta, não a nora. Fora astuto a ponto de trazê-las até a sua casa, com a benção de Marco. Qual seria sua próxima cartada?
Quando se casara, lembrou-se Helena , o marido fora seu único aliado numa casa cheia de inimigos. Mesmo os empregados a tratavam com pouco respeito. Agora, porém, era diferente. Em algum ponto de sua vida, ela adquirira uma maturidade que a impedia de olhar as pessoas como monstros assustadores numa terra estranha. Talvez por essa postura firme e tranquila, Fábia a respeitava muito. E ajudou a deixá-la mais à vontade naquela situação indesejável. Não permitiu que ninguém entrasse na suíte, despachando todos à porta.
- A casa aguardava as boas notícias sobre a bambina, sra. Salvatore. - explicou a moça. - Agora todos querem expressar sua alegria. Mas terão que esperar. Apenas descanse e desfrute dessa belezinha. Eu cuido do resto.
Quando Isa despertou, resmungando de fome, Fábia ajudou a sossegar a garotinha. Então Helena, exausta, acabou adormecendo na grande cama com sua garotinha.
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Era uma vez... a dor de uma traição.
RomanceMarco e Helena se conhecem ao acaso, se apaixonam instantaneamente e se casam logo após, mais precisamente no final do ano de 1921 na cidade de São Paulo, quando a cultura e gastronomia da cidade estavam começando a se moldar. Foram as fazendas cafe...