Helena caminhava sozinha na praia, como vinha fazendo nas últimas tristes semanas. Só ela, a filha e os empregados estavam em casa. Giuseppe fora novamente fazer um tratamento de reabilitaçãoe Marco ainda não dera nenhum sinal.
O tempo tornara-se frio e o céu, carregado. Eram intermináveis e vazios os dias sem Marco, sem sua força, sem seu calor na cama, sem seus beijos, sem suas estonteantes carícias, sem... De que adiantavam se torturar? Mas o que fazer, se a saudade que sentia era crônica? Giuseppe estava certo. Não podia condenar o marido sem ouvi-lo.
- Amore... - Helena murmurou para o mar cinzento e frio. - Oh, Marco...
Começou a chover. Ela correu para a casa e, ao chegar ao último degrau, ensopada, não viu Marco. Como aconteceu no primeiro encontro, deu um encontrão nele.
- Deixe a carteira cair novamente... - murmurou ela, emocionada.
Ambos ficaram parados durante intermináveis segundos. Marco respirou fundo e seu corpo estremeceu.
- Venha - sussurrou, envolvendo-a. - Vamos sair da chuva. - Levou-a para o banheiro da suíte. - Tire essas roupas molhadas - disse, entregando-lhe uma toalha. - Enxugue-se.
Marco foi até o closet e retornou com o robe branco dela. Envolvida na grande toalha, ela tremia; não porque estivesse com frio, mas chocada com a própria ousadia. Ainda não conseguia fitá-lo. Ele não disse nada, apenas entregou-lhe a peça e esperou que a vestisse. Em seguida apareceu com outra toalha para secar-lhe o cabelo.
- Deixe-me secar seu cabelo. - pediu. - Jogue seus cabelos para a frente.
Helena obedeceu. Estava atordoada demais para argumentar. Quando ele terminou, ainda se sentia uma ingênua. O que poderia dizer depois da tola insinuação? Do tolo pedido para que ele deixasse mais uma vez a carteira cair? Mas a verdade foi que, naquele momento, algo tocou-lhe os pés. Era a carteira de Marco . Helena se abaixou e deliciou-se ao tocar o acessório de couro com dedos trêmulos. Ele a entendera! A carteira era o lenço branco da paz! Viu-o parado ao lado da cama, de costas, a cabeça baixa, os ombros caídos, as mãos nos bolsos. Sentiu as pernas fracas.
- Com licença. - Estendeu a carteira, a mão insegura. - Por acaso deixou cair.
Ele voltou-se, as mãos ainda nos bolsos, os olhos baixos. Simplesmente ficou parado, olhando para a carteira de couro preto, lembrando da cena do passado, do que perdeu. Lembrando do quão tolo fora. Helena engoliu em seco, os olhos lacrimejantes.
- Marco?
Ele ergueu os olhos, tão sombrios que pareciam ter perdido a cor.
- Sabe o que fez comigo naquele primeiro dia? - indagou, a voz rouca.
Ela meneou a cabeça, confirmando, os lábios trêmulos. Amor à primeira vista, ele dissera. Paixão instantânea.
- Aconteceu o mesmo comigo - ela sussurrou.
Marco respirou fundo, o corpo trêmulo.
- Bem, aquilo não se compara ao que estou sentindo agora. Consegue entender?
Ela meneou a cabeça novamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Era uma vez... a dor de uma traição.
RomanceMarco e Helena se conhecem ao acaso, se apaixonam instantaneamente e se casam logo após, mais precisamente no final do ano de 1921 na cidade de São Paulo, quando a cultura e gastronomia da cidade estavam começando a se moldar. Foram as fazendas cafe...