XXI

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Helena caminhava sozinha na praia, como vinha fazendo nas últimas tristes semanas. Só ela, a filha e os empregados estavam em casa. Giuseppe fora novamente fazer um tratamento de reabilitaçãoe Marco ainda não dera nenhum sinal.

O tempo tornara-se frio e o céu, carregado. Eram intermináveis e vazios os dias sem Marco, sem sua força, sem seu calor na cama, sem seus beijos, sem suas estonteantes carícias, sem... De que adiantavam se torturar? Mas o que fazer, se a saudade que sentia era crônica? Giuseppe estava certo. Não podia condenar o marido sem ouvi-lo.

- Amore... - Helena murmurou para o mar cinzento e frio. - Oh, Marco...

Começou a chover. Ela correu para a casa e, ao chegar ao último degrau, ensopada, não viu Marco. Como aconteceu no primeiro encontro, deu um encontrão nele.

- Deixe a carteira cair novamente... - murmurou ela, emocionada.

Ambos ficaram parados durante intermináveis segundos. Marco respirou fundo e seu corpo estremeceu.

- Venha - sussurrou, envolvendo-a. - Vamos sair da chuva. - Levou-a para o banheiro da suíte. - Tire essas roupas molhadas - disse, entregando-lhe uma toalha. - Enxugue-se.

Marco foi até o closet e retornou com o robe branco dela. Envolvida na grande toalha, ela tremia; não porque estivesse com frio, mas chocada com a própria ousadia. Ainda não conseguia fitá-lo. Ele não disse nada, apenas entregou-lhe a peça e esperou que a vestisse. Em seguida apareceu com outra toalha para secar-lhe o cabelo.

- Deixe-me secar seu cabelo. - pediu. - Jogue seus cabelos para a frente.

Helena obedeceu. Estava atordoada demais para argumentar. Quando ele terminou, ainda se sentia uma ingênua. O que poderia dizer depois da tola insinuação? Do tolo pedido para que ele deixasse mais uma vez a carteira cair? Mas a verdade foi que, naquele momento, algo tocou-lhe os pés. Era a carteira de Marco . Helena se abaixou e deliciou-se ao tocar o acessório de couro com dedos trêmulos. Ele a entendera! A carteira era o lenço branco da paz! Viu-o parado ao lado da cama, de costas, a cabeça baixa, os ombros caídos, as mãos nos bolsos. Sentiu as pernas fracas.

- Com licença. - Estendeu a carteira, a mão insegura. - Por acaso deixou cair.

Ele voltou-se, as mãos ainda nos bolsos, os olhos baixos. Simplesmente ficou parado, olhando para a carteira de couro preto, lembrando da cena do passado, do que perdeu. Lembrando do quão tolo fora. Helena engoliu em seco, os olhos lacrimejantes.

- Marco?

Ele ergueu os olhos, tão sombrios que pareciam ter perdido a cor.

- Sabe o que fez comigo naquele primeiro dia? - indagou, a voz rouca.

Ela meneou a cabeça, confirmando, os lábios trêmulos. Amor à primeira vista, ele dissera. Paixão instantânea.

- Aconteceu o mesmo comigo - ela sussurrou.

Marco respirou fundo, o corpo trêmulo.

- Bem, aquilo não se compara ao que estou sentindo agora. Consegue entender?

Ela meneou a cabeça novamente.

Era uma vez... a dor de uma traição.Onde histórias criam vida. Descubra agora