- Sim. - Ele se ergueu sobre ela, o rosto ensombrecido pela paixão, os lábios cheios e úmidos. E ambos já estavam nus! Os pelos do peito de Marco roçavam nos seios de Helena , e uma coxa musculosa posicionara-se entre as dela. - Você me deseja. Seu corpo me quer. Não negue.
- Você disse que iria apenas me confortar...
- Isto é conforto. E da melhor qualidade.
- Mas...
- Não - ele disse entre os dentes. - Também preciso disso. Nós dois precisamos.
Então silenciou-a com um beijo. Doce. Profundo. Tão conhecido. Tão cheio de saudade. Mas ela não podia. Não devia. Mas ela queria. tanto que doía. Helena suspirou, impotente. Marco reagiu beijando-lhe o pescoço com avidez. Depois beijou-a profundamente, provocando-a sensualmente. Os dedos hábeis acariciaram os ombros delicados, os braços, até, finalmente, tocar os seios intumescidos.
- Tem idéia de quanto é deliciosa? - ele murmurou, erguendo a cabeça, os olhos dourados brilhando na escuridão. - De como a sua pele me deixa louco?- Respirou fundo, como se estivesse se desprezando por dizer tudo aquilo. -Sou viciado em você - confessou, a voz enrouquecida. - É como uma droga, um entorpecente que não consigo obter em nenhum outro lugar!
- Já tentou? - ela perguntou, aturdida.
- É claro que tentei! Acha que gosto de me sentir assim em relação a você?
- Ah, Marco. - ela murmurou, lamentando tudo.
- Não fale! - ele ordenou. - Quando você fala, lembro-me de quem é. E preciso disso. Preciso!
Naquele momento, Helena percebeu quanto ainda amava o homem que a desprezava e que, contudo, desejava-a desesperadamente. Então ela lembrou de tudo. Da acusação. Da maneira fria que ele a tratou. Lembrou dele ter negado amor à própria filha.
- Não. - gritou, empurrando-o.
-Você tem ideia de quantas vezes, eu grávida, o esperei cair em si e vir conversar comigo? - Marco deu um longo suspiro. - Você faz alguma idéia do que eu sofri na gestação da sua filha?
Helena saltou da cama para pegar o robe. De que importava que estivesse nua diante dele? Marco se odiava por desejá-la; portanto, quanto mais se odiasse, melhor.
Ela foi pra frente dele, forçando-o a olhá-la.
-Claro que não tem. Você cresceu em meio ao luxo e poder. Sempre acostumado a ver sempre o seu lado. Sem dar chance ao outro de se explicar ou se redimir. Você simplesmente descarta. Você me descartou. Descartou a sua filha.
- Eu não vou discutir, Helena. Você não está em condições.
- Então não discuta. - explodiu ela. - Mas você vai me escutar. Você me deve isso. Há três longos anos você me deve.
Ele fitou-a, mas nada disse.
- Escute bem o que vou lhe dizer, porque isso ainda vai reveberar muito na sua mente. O que você fez comigo e com a sua filha foi covardia, foi maldade. Você foi cruel, Marco Salvatore.
Ele a fitava com uma expressão torturada.
- Você privou a sua filha do amor paterno. E se você estivesse conosco, Isa não teria sido levada. -ela ri, nervosa. - E agora vem querendo me seduzir. Está se odiando, Marco? - ela provocou, insinuante.
- Sim - respondeu secamente.
A resposta franca deixou-a magoada.
- Foi você que me seduziu - ela observou.
- Sim, eu sei. - Pegou a camisa e começou a vesti-la. - Não vou culpá-la por minha própria... - Não completou a frase. Apenas abotoou a camisa e, ao terminar, fitou-a uma vez mais, para então desviar o olhar, como se não conseguisse mais contemplar a mulher que ainda amava. - Você... ficará bem sozinha? - perguntou rispidamente.
- Sem você para... me confortar? - ela ironizou. - Oh, sim, com certeza. Afinal, estou acostumada a ficar sozinha - acrescentou com uma ponta de sarcasmo. - Vivo só desde os treze anos.
- Não minta - ele protestou. - No passado, até você estragar tudo, tinha a mim.
- A mentira é sua! Quando vivíamos juntos, eu não recebia nenhum apoio, não tinha direitos. Se ousasse protestar, você me calava da forma mais eficiente que conhecia: na cama. Quando eu insistia, era criticada. Você estranhava que eu preferisse ficar pintando ou tocando instrumentos a estar com pessoas do seu circulo, mas jamais lembrou que eu tinha o direito de gostar do que quisesse! Julgava-me uma pessoa frívola!
- Jamais a considerei frívola.
- É verdade. Você nunca teve um pingo de consideração para me considerar qualquer coisa. - ela retrucou, apertando o cinto do robe. - Até mesmo seus empregados me olhavam de cima!
Ele soltou uma gargalhada seca e incrédula.
- Não sei se choro por você ou se a aplaudo por conseguir falar muito mais do que a ouvi dizer um todo o nosso casamento!
- Aplauda. Mereço aplausos por ter suportado aquilo por mais tempo do que deveria!
Ele desviou o olhar, num gesto de desprezo.
- Está começando a me cansar.
- Bem, qual é a novidade? - ela contra-atacou. - Começou a se cansar de mim quando percebeu que eu lhe daria mais trabalho do que estava disposto a ter! Mas deixe-me dizer algo - prosseguiu, sentindo o sangue ferver. - Se você se cansou da menininha tímida, eu me cansei do moreno alto e bonito com quem me casei, porque ele se revelou mais um cordeirinho do rebanho de Salvatore. Todos faziam e pensavam as mesmas coisas. Pareciam clones de Giuseppe Salvatore!
- Já terminou? - ele atalhou friamente.
Ela meneou a cabeça, confirmando.
- Sim.
Sentia-se corada e ofegante, incrivelmente estimulada. Em todos os seus vinte e quatro anos, jamais se dirigira a alguém daquela maneira.
- Então vou sair.
- Não até eu ter dito uma última coisa - ela avisou. - Quando você cair em si e descobrir que o que você viu naquele maldito quarto foi uma armação sórdida, você não vai ter coragem nem de me pedir perdão, porque nem você mesmo vai se perdoar.
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Era uma vez... a dor de uma traição.
RomanceMarco e Helena se conhecem ao acaso, se apaixonam instantaneamente e se casam logo após, mais precisamente no final do ano de 1921 na cidade de São Paulo, quando a cultura e gastronomia da cidade estavam começando a se moldar. Foram as fazendas cafe...