Contando Sobre a Perda

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Daniel

Estou aqui no quarto e parece que as horas não passam. April já voltou do apartamento e está aqui comigo. Já fui até o pós operatório obter informações e me disseram que é normal, cada paciente reage de uma maneira à anestesia e que logo ela irá para o quarto.

- April ela já vem para o quarto, vamos tentar ficar calmos, eu estou surtando por dentro, mas preciso tentar não piorar.

- Ela é minha melhor amiga, minha irmã de alma. Ela é uma mãe incrível, uma filha exemplar, uma irmã carinhosa e protetora, ela não merece nada disso que está acontecendo com ela. Me sinto culpada por tê-la trazido para cá.

- Ei, não se sinta culpada. Você ajudou Adryene no momento que ela mais precisava, você não tem culpa daquele infeliz ser maníaco. Vamos cuidar dela, está bem? E outra coisa, eu só tenho gratidão por você ter trazido ela para cá, ou talvez eu não tivesse conhecido o amor da minha vida.

Ela assente e se acalma. Depois de uma hora, a porta do quarto se abre e uma enfermeira vem trazendo minha princesa numa maca e o médico que a operou está junto. Minha princesa está com o rosto inchado e roxo, um curativo no nariz e o tórax imobilizado. Meu Deus que dor que sinto em vê-la assim. Ela está sonolenta e o médico me chama para conversar.

- Então Sr...

- Pode me chamar de Daniel, por favor.

- Certo. Daniel, ela acordou um pouco agitada, é normal em alguns pacientes o retorno da anestesia deixar agitado, tivemos que dar um sedativo somente para que ela não se mexesse muito por causa dos pontos e do pulmão. Ela está com esse oxigênio simples no nariz para ajudar os pulmões, afinal ela sofreu uma perfuração. Quando ela acordar, tenta fazê-la entender que precisa ficar calma e me chama ok?

- Ok Dr, muito obrigado mais uma vez. Você sabe me dizer quando ela poderá ir para casa?

- Não precisa agradecer, imagina. E quanto a alta, ainda não sabemos, mas se ela tiver uma boa evolução, acredito que em uma semana podemos mandá-la para casa.

- Dr, mais uma coisa. - Não sei se devo mas preciso saber. - Ela ainda poderá ter filhos? Nós poderemos tentar novamente?

O médico me olha e me da um sorriso.

- Sim, ela poderá ter mais filhos. Assim que ela acordar vou pedir para o obstetra vir aqui, está bem?

Eu apensa concordo com a cabeça e ele sai. Vou até minha princesa e pego sua mão bem devagar. Quero abraça-la mas sei que isso iria doer nela e eu não quero que ela sinta dor.

Depois de mais uns 40 minutos ela começa a se mexer e eu me aproximo.

- Shhh princesa, calma, você não pode se mexer, está bem? Fica calma, vou chamar o médico.

- Eu vou Daniel, fique com ela, tenta mantê-la calma. - April se dispõe para me deixar com Adryene. Ela sai e logo volta com o médico.

- Srta Adryene, consegue me ouvir? - O médico pergunta auscutando o coração e pulmão dela.

Adryene ainda está sonolenta, ela abre e fecha os olhos, o médico continua examinando, mais alguns minutos e ela abre bem os olhos e me olha.

- Daniel, April. - ela fala com dificuldade. Nos aproximamos, mas eu começo a chorar.

- Daniel você vai assustá-la.

- Desculpa princesa. Eu não cheguei a tempo, me perdoa. Tive tanto medo de te perder.

- Srta, consegue me ouvir? - o médico pergunta novamente e Adryene o olha e acena que sim. - Você passou por uma cirurgia delicada, tem que tentar manter a calma, não pode se mexer muito, ok?

Ela acena mais uma vez e vejo o médico pegando a mão dela e acariciando, já não gostei. Ele percebe e solta.

- Vou deixar vocês conversarem, se precisarem é só me chamar. - Concordo sem olhar para ele. Olho para ela e volto a chorar.

- Princesa, nunca mais vou deixar você sozinha, vou pedir para fazerem uma cirurgia e costurar você em mim. - Ela tenta rir mas sente dor.

- Olha o que fez, ela não pode se mexer ta doido? Aqui você não é meu chefe então posso te dar uma surra. - April me repreende e ela está certa.

- Está tudo bem, gente. Dói, mas está tudo bem.

A voz dela quase não sai. Eu olho para a barriga dela e sem perceber eu a toco e volto a chorar, dessa vez eu abaixo a cabeça na cama em que ela está deitada.

- Daniel, tem alguma coisa acontecendo que o médico não falou? Você está chorando muito, o que houve? Eu estou tão feia assim?

Olho para a April e ela somente balança a cabeça me incentivando a falar.

- Você jamais ficará feia, é a mulher mais linda que já vi. Meu amor, é que...

- Pode falar, meu amor.

- Amor, você sabia que estava grávida? - Ela arregala os olhos e percebo que ela realmente não sabia.

- Grávida? Não. Eu tomo injeção, não tem como estar grávida. Espera... - ficamos olhando para ela, parece que está pensando. Ela tenta tocar o rosto mas sente dor. - Você disse estava, no passado, o que está acontecendo?

Eu volto a chorar e ela começa chorar, mas sente mais dor.

- Eu não consigo April. - Olho para April pedindo ajuda.

- Não consegue o que Daniel? - Adryene me pergunta com muita dificuldade.

- Fala logo homem, agora não adianta voltar atrás. - April me repreende mais uma vez.

- Princesa, os médicos disseram que você estava grávida de 9 semanas, mas eles não conseguiram salvar o bebe, porque era recente e aquele desgraçado bateu no seu abdômen. Eu sinto muito princesa. Perdemos nosso bebe.

Digo chorando e ela fica chorando em silêncio por alguns instantes e depois ela toca meu rosto.

- Daniel. Você já deve saber o quanto eu amo ser mãe, eu iria amar ter mais um bebê, infelizmente ele nos foi tirado, mas se os médicos disserem que tudo bem, podemos tentar novamente mais para frente. - Nessa hora eu desabei de vez.

- Sério princesa? Você tentaria ter um bebê comigo novamente? Eu seria completamente feliz se esse bebe tivesse sido salvo.

- Claro que teria Daniel, quem sabe agora vem uma menina? - Ela tenta sorrir e eu a beijo de leve.

- Obrigado meu amor. Eu vou cuidar de você, quando você tiver alta irá para nossa casa, falei com Margot e ela chorou preocupada com você, ela falou que não aceita não como resposta e que tem que ir lá para casa que ela irá cuidar de você.

Ela tenta sorrir novamente, mas sente muita dor. Ficamos com ela ali, ela dormia e acordava. April foi embora e eu fique, não vou sair de perto dela nem um segundo. Ela chora em alguns momentos pensando no bebe que perdemos, sei que ela iria ser incrível como mãe de mais um filho. Mas como ela mesma disse, podemos tentar mais para frente.

O RECOMEÇOOnde histórias criam vida. Descubra agora