Capítulo 05 - Traumas não tratados

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18/02/2018, 15:03

Av. Telles, Rio de Janeiro – RJ

Edifício Otavio Cortês – 601 B


Eu tinha apenas oito anos quando as coisas começaram a mudar em casa. No começo foi para melhor. Lembro que éramos uma família feliz aquela época, meus pais ainda eram pessoas normais e, pelo menos na minha visão infantil, a vida parecia boa. Foi numa tarde de verão que tudo começou a dar errado, ainda que nenhum de nós pudesse ver isso naquela época.

Eu estava na escola quanto eles foram me buscar mais cedo do que o normal, eu saí no meio da aula e fomos passear no shopping. Me fazer perder aula não era muito comum vindo da minha mãe, que foi sempre bem rígida nesse ponto, mas os dois pareciam bem felizes e eu estava decidido a aproveitar a oportunidade de diversão, então não fiz muitas perguntas.

Já no fim da tarde quando já estava cansado de tanto correr foi que a notícia chegou, os se sentaram na minha frente, minha mãe com a mão na barriga e meu pai a apoiando, me contaram que estavam esperando um bebê que seria meu irmão. Não sei bem o que senti naquela época, mas acredito que tenha ficado feliz com a notícia, ao mesmo tempo, fiquei com medo de como as coisas seriam dali para frente.

Mas os meses seguintes não foram nada assustadores, meus pais pareciam radiantes com a chegada do novo filho e essa felicidade acabava transbordando para mim. As coisas estavam correndo depressa, logo o quarto de costura da minha mãe se transformou em quarto de bebê, as tomadas foram tampadas, as quinas protegidas e o lugar se tornou uma confusão de roupas infantis e fraldas descartáveis. Mas por incrível que pareça, eu não estava com ciúmes do bebê que estava por vir, eu me sentia feliz com a nova criança e principalmente com a felicidade dos meus pais.

A vida estava realmente boa naquela época.

Até não estar mais.

Eu acabara de sair do banho, estava vestindo o uniforme da escola quando ouvi os gritos desesperados vindos da cozinha. Havia sangue pelo chão, lembro de ficar impressionado com cor escura da substância pegajosa, mas o horror só aconteceu depois que percebi que todo aquele sangue vinha da minha mãe.

— Ravi, por favor... — ela implorou me vendo congelado na sua frente. — O telefone... ligue pro seu pai. — disse com a voz fraca, ela estava sentada no chão com o corpo apoiado em um dos armários, o rosto pálido e a roupa suja do próprio sangue.

Ela precisou gritar mais algumas vezes para me tirar do choque, então corri até telefone que ficava na sala, disquei o número do trabalho do meu pai que eles tinham me feito decorar para emergências e esperei que ele atendesse. Ele demorou algum tempo até chegar em casa, não sei quanto, pois ainda estava muito assustado com aquilo tudo. Eu só fiquei ao lado dela segurando sua mão suja de sangue enquanto ela chorava baixinho, como se não quisesse que eu ouvisse.

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