02/03/2018, 08:02
Hospital
Certa vez li em uma revista que nosso cérebro tem mecanismo para nos defender dos traumas, uma forma de nos proteger dos piores momentos de nossas vidas. Por isso é comum que diante de eventos de grande estresse a mente armazene essas lembranças em uma parte oculta do cérebro para que se dificulte lembrar-se e assim podermos continuar vivendo sem essa dor. Mas eu não tive essa sorte, me lembro de cada mínimo detalhe do que foi o pior dia da minha vida.
Tudo parecia normal.
A manhã daquele dia era exatamente como tantas outras, o sol iluminava as ruas como um banho dourado de luz, pessoas caminhavam displicentemente pelas calçadas, mães empurravam os carrinhos de bebês e idosos estavam sentados na praça em frente a hospital. A vida simplesmente seguia, mesmo que a minha estivesse bem perto de ser abalada permanentemente.
Já nas primeiras horas do dia o médico deu alta para o Diogo, com a ordem de que voltássemos nos próximos dias para um acompanhamento. O doutor Mike, como ele insistia em ser chamado, era realmente muito atencioso e tinha até me dado seu número de telefone pessoal para qualquer emergência. Então finalmente pudéssemos sair de lá, estava agradecido pelo ótimo atendimento que deram ao meu menino, mas feliz por poder tirá-lo dali. Tentei me despedir do vizinho, mas ele já não estava no refeitório, de qualquer eu poderia encontrá-lo no prédio.
Subi para o apartamento como Diogo no colo, já que ele havia adormecido novamente no carro durante o trajeto. Em casa, encontrei Barbará já acorda, ela já havia arrumado a bagunça da casa e até prepara um café para quando nós chegássemos. Depois de muitos agradecimentos e um copo de café fumegante, insisti para que ela fosse para casa descansar e aproveitei para dar uns dias de folga para a garota, que já estava merecendo há muito tempo.
Sozinho, após colocar as duas crianças em suas camas, eu pude finalmente relaxar. O cansaço me venceu e não permitiu que fosse para o meu quarto, me joguei no sofá, fazendo meu corpo parar de reclamar. Com a TV ligada, eu adormeci ali mesmo sem me importar com as notícias que a apresentadora do jornal da manhã passava.
A noite em claro no hospital estava cobrando seu preço e o sono que caí foi tão forte que acabei sendo atormentado por pesadelos. Primeiro eu estava em uma sala com luzes brancas e podia ouvir o choro do Diogo atrás de uma porta trancada. Eu esmurrava, pedindo para que alguém abrisse, mas tudo que ouvi era o desespero do menino e os sons de aparelhos de hospital.
Depois eu estava dirigindo por uma estrada movimentada, mas eu não tinha controle do carro, que fazia zigue-zague pela pista e por mais que eu tentasse colocá-lo nos eixos, uma colisão parecia inevitável. A sensação era de não com controlar o meu próprio destino e apenas aguardar o fim doloroso.
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Desastres em Comum
Lãng mạnA verdade é que todos nessa vida procuram o seu próprio final feliz, seja ele ter o emprego dos sonhos, a casa perfeita, uma família grande ou qualquer outra coisa que nos traga a felicidade. Para Ravi e Cadu essas metas já foram alcançadas, os dois...