01/03/2018, 16:40
Av. Telles, Rio de Janeiro – RJ
Edifício Otavio Cortês – 601 B
A quinta lata de cerveja que eu abri já está vazia sobre a mesinha de centro da sala, enquanto Pablo, que ainda está na segunda, me observava boquiaberto com tanto de álcool que consegui ingerir em tão pouco tempo. Normalmente é ele que vira os copos tão descontroladamente que preciso contê-lo para não acabar em coma alcoólico, mas hoje os papeis parecem ter se invertido.
A ideia de beber até apagar hoje até me agrada.
Helena passou o dia trancada no quarto com a sua auxiliar arrumando malas e fazendo vídeo chamadas com seu escritório para acertar os últimos preparativos de sua viagem. Pela pilha de bagagens no corredor, qualquer um diria que ela está planejando se mudar em definitivo e não apenas passar alguns meses no exterior. Em algumas horas ela estará em um avião indo para o outro lado do oceano, longe dos seus filhos e de mim, mas isso parece não abalar sua determinação como pensei que seria. Nem mesmo a comoção de perder momentos importantes na vida do próprio filho tinha convencido ela a ficar.
E isso me convenceu que continuar tentando mantê-la aqui é um jogo perdido.
— Se eu soubesse que você estava com tanta cede assim, eu tinha trago mais cerveja. — Pablo disse ironicamente.
— Hoje o dia está pedindo. — respondi entre goles.
— Eu sei, só não precisa virar todas de uma vez. — disse dando de ombros. — Não to afim de limpar seu vômito, Homer Simpson.
— Não enche. — retruquei, mesmo sabendo que ele estava ali por mim, pois sabia que seria um dia difícil e que precisaria do seu ombro amigo.
— Não sei por que eu te aturo. — ele disse sacudindo a cabeça.
Suas reclamação foram abafadas pela saída da Helena do nosso quarto, ela dá instruções a jovem de cabelos ruivos e sardas saltando do rosto, que se esforça para anotar tudo em uma velocidade quase impossível de acompanhar. Liara foi contratada há alguns anos com estagiária, mas logo passou a ser uma faz tudo da minha esposa, desde as tarefas mais simples como buscar o seu almoço em um restaurante do outro lado da cidade só porque Helena não confia em entregadores de comida, até as mais complexas como revisar projetos importantes que nem eu mesmo posso ouvir falar. E o mais incrível é que mesmo sem receber nenhum reconhecimento de sua chefe, ela continua fiel à Helena como um cão de guarda.
A partida de minha esposa para o exterior, mesmo que por tempo limitado, deixou ela em pânico. A moça vive em função de agradar Helena e agora precisará ficar meses distantes de suas ordens. Mas tenho certeza que ela as receberá mesmo estando em outro continente e que obedecerá, mesmo as que parecem totalmente idiotas.
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Desastres em Comum
RomanceA verdade é que todos nessa vida procuram o seu próprio final feliz, seja ele ter o emprego dos sonhos, a casa perfeita, uma família grande ou qualquer outra coisa que nos traga a felicidade. Para Ravi e Cadu essas metas já foram alcançadas, os dois...