12/04/2019, 16:10
Centro de Operações Militares, Rio de Janeiro – RJ
Um zumbido agudo ressoou nos meus ouvidos, senti as pernas bambearem e a vista escurecer, precisei me segurar na cadeira de ferro para não cair duro no chão. Os sons das vozes que me rodeiam parecem se distanciar enquanto minha mente entra em parafuso. Outra vez, tudo que acreditei parece ter sido jogado para o alto, mais um tsunami nos atingiu e não há como não se afogar nele.
Será que há um bote salva-vidas nessa história?
Talvez eu esteja apenas dissociando, mas a sensação é que as coisas estão acontecendo sem que eu tenha qualquer controle e apenas observo tudo de fora, como um expectador da minha própria história. Eu caminho entre a multidão, sendo levado até onde tínhamos sido orientados a ir, apenas me deixando levar pelo fluxo. Vi Ravi ficar para trás, mas não tive reação para trazê-lo comigo, apenas me permitir seguir em frente, distante do toque das suas mãos.
Fomos divididos em pequenos grupos e embarcamos em veículos que nos levariam até o hospital do exército, onde os sobreviventes estão internados. O percurso durou poucos instantes e logo estávamos todos em frente ao prédio acinzentado de concreto rústico com emblema das forças armadas. Caminhamos pelos corredores frios até o hall da sala de espera, tão áspera e gelada quanto o restante das instalações.
Eles nos agruparam e deram instruções sobre como deveríamos nos comportar ao encontrá-los. Precisaríamos ser cuidadosos, pois eles estavam debilitados devido ao grande período que passaram sob ameaça. Emoções fortes poderiam ser prejudiciais, mas eu não conseguia imaginar como poderíamos controlar isso, já que estávamos reencontrando parentes próximos que acreditávamos terem morrido em um acidente aéreo fatal.
Um a um, os familiares foram sendo chamados para a área de internação e a sala de espera foi ficando mais vazia. Faltavam poucas pessoas quando a enfermeira de rosto sisudo chamou o meu nome. Demorei alguns instantes para conseguir ter forças para atravessar a sala e ir ao seu encontro. Caminhei ao lado da mulher e atravessamos uma porta de vidro, que deu lugar a um grande pavilhão dividido com baias com cortinas para abrigar os leitos. De lá, eu pude ouvir a comoção dos outros, com choros, emoção e risadas de alegria, e isso me fez perceber que estava perto de reencontrá-la. A enfermeira indicou que eu atravessasse o corredor e fosse até a última baia, respirei fundo e abri a cortina que nos separava.
Helena parecia muito menor do que eu me lembrava ser, sua pele está pálida e os ossos parecem saltar do seu rosto de tão magra. Os braços parecem frágeis sobre a roupa de cama, mas são os olhos desfocados que chamam realmente a minha atenção. Ela percebe finalmente a minha presença quando toco de leve seu ombro, seu rosto se vira para mim e ele finalmente ganha alguma expressão.
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Desastres em Comum
Roman d'amourA verdade é que todos nessa vida procuram o seu próprio final feliz, seja ele ter o emprego dos sonhos, a casa perfeita, uma família grande ou qualquer outra coisa que nos traga a felicidade. Para Ravi e Cadu essas metas já foram alcançadas, os dois...